|Índia

Condutores de tuk tuks na miséria não querem a «Ola ou Uber» em Tamil Nadu

A falta de passageiros durante a pandemia, a subida do preço dos combustíveis e a não revisão das taxas por quilómetro (desde 2013) empurraram os condutores dos auto-riquexós para uma situação difícil.

Protesto em Chennai contra o aumento dos combustíveis 
Créditos / CITU

Apesar de o número de novos casos de Covid-19 estar a descer bastante a cada dia que passa e o governo de Tamil Nadu (Sul da Índia) ter aliviado significativamente as restricções impostas para conter a pandemia, os condutores dos auto-riquexós continuam sem encontrar passageiros, em grande medida porque as escolas, faculdades e muitas indústrias do estado ainda não reabriram.

Outra razão para este cenário – refere o Newsclick – é o anúncio recente de viagens grátis para mulheres nos autocarros. A medida, com ampla aceitação, foi tomada pelo governo do Dravida Munnetra Kazhagam (DMK), recentemente eleito, para promover o transporte público.

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Bancários indianos em greve contra as privatizações

No primeiro de dois dias de greve, esta segunda-feira, aos bancários juntaram-se outros trabalhadores do sector público, bem como os agricultores em luta na Índia.

<p>Manifestação no estado de Tripura contra a decisão do governo de Modi de privatizar as empresas públicas</p>
Créditos / @cpimspeak

A greve agendada para ontem e hoje pelo Fórum Unido de Sindicatos Bancários (UFBU), que integra nove organizações sindicais, visa denunciar a política de privatizações empreendida pelo governo de Narendra Modi, em especial a decisão de privatizar dois bancos públicos (RBI e BSNL).

Os sindicatos, que tinham afirmado que a paralisação abrangia cerca de um milhão de trabalhadores bancários, sublinharam, ontem, que a greve estava a ser um «êxito», refere o portal newsclick.in. Junto às estações de comboios, ouviram-se palavras de ordem contra as privatizações dos bancos e das empresas do sector público em geral.

A Samyukt Kisan Morcha (organização que agrega dezenas de organizações de agricultores) também se uniu à jornada de luta «anti-privatizações» e «anti-corporatização». Agricultores e funcionários públicos, incluindo os bancários, deixaram clara a oposição à política de desinvestimento no sector público.

«Os protestos tiveram lugar por toda a Índia, em mais de 100 mil locais, frente a agências e estações ferroviárias. Os kisans [agricultores] participaram nas áreas rurais e nos subúrbios», revelaram os sindicatos em comunicado, citado pelo newsclick.in.

Na capital, realizou-se uma concentração em frente da New Delhi Railway Station. Houve protestos semelhantes em múltiplos distritos de estados como Haryana, Uttar Pradesh, Jharkhand, Telangana, Tripura, Tamil Nadu, entre outros. Amarjeet Kaur, secretária-geral do Congresso dos Sindicatos de Toda a Índia (AITUC), sublinhou a carácter unitário das mobilizações e disse que as estações foram escolhidas como local «simbólico» para desafiar as políticas «draconianas» do governo de Modi.

Falando ao telefone com o newsclick.in a partir de Chennai, o secretário-geral da Associação de Funcionários Bancários de Toda a Índia, C.H. Venkatachalam, destacou que os protestos tiveram lugar por todo o país, incluindo estados onde haverá eleições nos próximos dias.

Venkatachalam disse que a adesão à greve era quase total nos bancos públicos e em bancos privados mais antigos. «De forma notável, os funcionários mais jovens estiveram na linha da frente hoje», tendo «colhido inspiração nas experiências que tiveram no sector privado».

«Políticas que atingem mais as pessoas comuns»

Ao apresentar o orçamento para 2021-2022, em Fevereiro, o governo indiano, através do sua ministra das Finanças, Nirmala Sitharaman, deixou clara a intenção de desinvestir no sector público, o que passa também pela venda de bancos e de instituições financeiras do Estado.

Participando no protesto na capital, Anurag Saxena, secretário-geral do Centro dos Sindicatos da Índia (CITU) em Déli, afirmou que a política de privatizações de Modi irá «atingir mais as pessoas comuns». Segundo o newsclick.in, era patente a revolta entre os manifestantes, depois do aumento dos preços do petróleo, do gasóleo e do gás.

À greve de dois dias dos bancários segue-se, amanhã, a dos funcionários da General Insurance Corporation (GIC) e, no dia 18, a dos da Life Insurance Corporation, também em luta contra a privatização.

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Os condutores dos tuk tuks sentiram o impacto. Foi como «o último prego no caixão», depois da ausência de clientes na pandemia e do aumento do preço dos combustíveis. Por isso, indica a fonte, muitos condutores estão a desistir e procurar outro trabalho.

Ainda assim, os sindicatos apresentaram uma proposta para tentar lidar com a situação. Exigem que, em vez dos operadores privados como a Ola ou a Uber, que põem em contacto os condutores com os passageiros, seja o governo a assumir o controlo do processo. Deste modo, defendem, o estado poderá também compensar os condutores dos auto-riquexós quando estão sem trabalho por longos períodos.

Explorados e sem revisão de preços desde 2013

A última vez que a tabela das tarifas dos tuk tuks foi revista em Tamil Nadu foie m 2013, com o preço mínimo fixado em 25 rupias para o primeiro 1,8 quilómetro e em 12 rupias para cada quilómetro seguinte.

Entretanto, os preços dos combustíveis aumentaram mais de 15 rupias por litro, e a Tamil Nadu Auto-Rickshaw Workers Federation (Federação dos Trabalhadores de Auto-riquexós de Tamil Nadu), que reúne 45 sindicatos, exige que a tarifa passe para as 40 rupias para o primeiro 1,5 quilómetro e para as 20 rupias por cada quilómetro subsequente.

Uma queixa frequente contra os condutores de tuk tuks de Chennai – uma cidade metropolitana, com mais de nove milhões de habitantes – é a de que não cobram aos passageiros de acordo com as taxas em vigor. Os condutores defendem-se afirmando que as tarifas actuais não acompanharam as despesas de combustível e não fazem frente às suas necessidades diárias.

Quando se chama um auto-riquexó via Ola ou Uber, o condutor recebe apenas o preço fixado para a distância viajada respectiva. O resto do dinheiro vai para os bolsos dos operadores privados, que se diz ser 30% do que o passageiro paga. Por isso, os condutores rejeitam a Ola e a Uber.

Estas aplicações também aumentam os preços de acordo com a procura, especialmente durante as horas de ponta, dias de festivais e em viagens para fora da cidade. No entanto, os condutores dificilmente fazem 10 ou 20% deste aumento.

Balasubramanian, presidente da federação sindical, disse ao Newsclick que, «inicialmente, a Ola e a Uber deram bons incentivos ao condutores, incluindo telefones android. Mas agora tomaram conta de todo o sector e são eles que ditam as regras. É por isso que pedimos ao governo que assuma o papel destes operadores».

Protest em Tirunelveli contra o aumento do preço dos combustíveis / CITU 

«Reduzidos a nada»

Apesar de o governo de Tamil Nadu ter decretado às companhias de seguros que não cobrassem prestações durante seis meses para tuk tuks comprados com recurso a empréstimos durante a pandemia, os bancos não o estão a autorizar, penalizando os condutores que falhem a data do pagamento.

Nos últimos meses, houve vários protestos no estado contra o aumento do preço dos combustíveis e os condutores de auto-riquexós participaram em grande número, segundo o Newsclick.

«Sem trabalho durante vários meses, hipotecámos todos os nossos bens. Mesmo sem rendimentos, temos de pagar os impostos. E, em cima disso, a prestação do empréstimo. Isto é impossível», disse um condutor num protesto realizado na zona Sul de Chennai.

De acordo com números oficiais, há 260 mil auto-riquexós e 320 mil condutores no activo em Tamil Nadu. «Conduzir um tuk tuk é uma boa profissão; temos o nosso meio de emprego e não nos curvamos perante niguém. Mas agora estamos reduzidos a nada. Um condutor começou a vender amendoins, outro está a tentar a sua sorte na agricultura», disse Balasubramanian.

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