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Silvio Rodríguez: «Vivemos num mundo contraditório e injusto»

«Se aquilo que se gasta na destruição fosse para a saúde, tudo seria diferente», disse a uma rádio argentina o cantor cubano, defendendo que Fidel é o grande responsável por Cuba ser um país de ciência.

Créditos / radio.uchile.ch

Numa extensa entrevista à rádio AM750, Silvio Rodríguez abordou temas como a pandemia de Covid-19, as vacinas desenvolvidas na Ilha, o governo de Miguel Díaz-Canel e o bloqueio imposto ao seu país pelos Estados Unidos há seis décadas.

No que respeita à pandemia, Rodríguez destacou as conquistas da ciência em Cuba, país que criou as primeiras vacinas anti-Covid-19 na América Latina, sublinhando que se trata de mais um marco da política iniciada por Fidel Castro.

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Cientista italiano passou a ser docente convidado em Havana e agradeceu a Cuba

Fabrizio Chiodo, doutor em Ciências, foi distinguido com a categoria de professor convidado da Universidade de Havana por participar no desenvolvimento de vacinas anti-Covid do Instituto Finlay.

O cientista italiano Fabrizio Chiodo e a reitora da Universidade de Havana, Miriam Nicado 
CréditosEmilio Herrera / Prensa Latina

Numa cerimónia realizada na Aula Magna esta quinta-feira, Miriam Nicado, reitora da Universidade de Havana, leu a resolução que aprovou o reconhecimento ao investigador italiano, que, juntamente com cientistas do Instituto Finlay de Vacinas (IFV) e especialistas da universidade, desenvolveu o projecto das vacinas contra a Covid-19.

«A aliança com o doutor Vicente Verez Bencomo (director do IFV) e a sua equipa de trabalho dinamizou projectos conjuntos orientados para o desenvolvimento de vacinas e estudos imunológicos de tipo conjugados», refere o texto, citado pela Prensa Latina.

Por seu lado, Verez Bencomo destacou Chiodo como um defensor da ciência cubana em cenários internacionais, bem como o sentimento de solidariedade que partilham e a premissa de colocar a biotecnologia ao serviço do povo – valores formados numa casa comunista, disse.

Bencomo recordou que no início da pandemia, no ano passado, o cientista italiano viajou até à Ilha para dar o seu contributo para as investigações das candidatas Soberana 01, Soberana 02 e Soberana Plus, e com o firme propósito de se imunizar com uma delas e não com outro fármaco de produção internacional.

«Pela minha parte, obrigado», disse Chiodo a Cuba

Fabrizio Chiodo, que, além de ser cientista, dá aulas na Faculdade de Química da Universidade de Havana, agradeceu a categoria docente que lhe foi atribuída e reafirmou o seu compromisso com a ciência cubana, que, em seu entender, é a melhor do mundo.

«Pela minha parte, obrigado; digo-lhes sempre em todos estes anos de trabalho», declarou Chiodo depois de ser distinguido.

Fabrizio Chiodo agradeceu a Cuba no discurso que proferiu na Aula Magna / Emilio Herrera / Prensa Latina  

Lembrou a sua incompreensão, desde criança, pela diferença de classes sociais, pela razão de uns terem casa e outros não, ou como um país como Cuba, bloqueado pelo governo dos Estados Unidos durante mais de 60 anos, se distingue internacionalmente por conceber, desenvolver e produzir vacinas sintéticas para proteger a população.

«Cuba neste ano, um país bloqueado, foi capaz de conceber, desenvolver e produzir vacinas como as do IFV (Soberana 01, Soberana 02 e Soberana Plus)», disse, destacando o nível profissional e humano dos cientistas cubanos, ao recapitular a sua trajectória por sete laboratórios em quatro países, e o engano do capitalismo como sistema, por não ter em conta os mais humildes do mundo.

«É excepcional o nível que têm, e por isso são capazes de criar vacinas como estas, e isso é o que me motiva a continuar a participar noutros projectos», frisou, acrescentando que o impacto social destas investigações vai mais além de publicações científicas e de estatísticas; daí o seu empenho em defender a ciência cubana em qualquer lugar.

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«Fidel Castro repetiu muitas vezes que tínhamos de ser um país de homens e mulheres de ciência», disse o cantautor cubano, acrescentando: «Além do talento e da abnegação dos nossos cientistas, estas vacinas existem graças à visão e ao esforço que implicou dar continuidade às ciências médicas em Cuba. O máximo responsável por isso foi Fidel.»

Afirmou que, se não fosse o bloqueio unilateral imposto ao país, as vacinas poderiam ter estado prontas muito mais cedo.

«É incontornável que o propósito do bloqueio foi asfixiar o povo de Cuba economicamente a tal ponto que as pessoas cheguem a repudiar o governo revolucionário», disse, recordando o abalo que o sector do turismo sofreu por causa da pandemia e que ainda continuam vigentes as 243 medidas que o governo de Trump impôs à Ilha para a asfixiar ainda mais.

Rodríguez sublinhou que o actual presidente norte-americano, Joseph Biden, não só deixou intactas as medidas de Trump, como as aprofundou. «Criaram uma série de obstáculos para gerar uma sensação de asfixia ainda maior», disse.

«Oxalá tudo isto nos torne mais humanos»

Reflectindo ainda sobre o contexto da pandemia e alguns aspectos que vieram à tona, Rodríguez afirmou que, «se aquilo que se gasta na destruição tivesse sido utilizado na saúde, tudo seria diferente».

O cantor considerou ainda «curioso e espantoso» que nos países ricos haja importantes sectores da população que não se queiram vacinar, enquanto nos países pobres muitas pessoas não se podem vacinar mesmo que o queiram.

«Vivemos num mundo contraditório e injusto», reflectiu. «Oxalá tudo isto nos torne mais humanos. Isso é o que faz falta», frisou.

Diálogo com gerações mais novas e Díaz-Canel, presidente de uma nova etapa

O trovador disse que gosta de conversar com as gerações mais novas «para saber como pensam» e trocar opiniões. «Não temos de concordar sempre nem de nos chatear por isso. O normal é não haver duas cabeças iguais», referiu Rodríguez na entrevista à rádio argentina.

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«Apoiar Cuba significa lutar pela liberdade de todos os povos»

Em conversa com a Prensa Latina, o secretário nacional da Rifondazione Comunista afirmou que defender Cuba hoje é um dever que ultrapassa a preservação da sua soberania e independência.

Manifestação recente em Roma de solidariedade com o povo cubano 
Créditos / Prensa Latina

Maurizio Acerbo disse que a defesa da Ilha vai muito além pelo significado que tem, a nível internacional, «a possibilidade de um povo se libertar dos condicionamentos do império norte-americano».

«Penso que neste momento está em jogo, em torno de Cuba, inclusive uma mudança nas relações internacionais», disse o dirigente comunista ao jornalista Frank González, tendo acrescentado que «os Estados Unidos, e o Ocidente em geral, devem decidir se querem desenvolver relações de respeito entre os povos ou tentar novamente reafirmar o seu domínio» no planeta.

«"os Estados Unidos, e o Ocidente em geral, devem decidir se querem desenvolver relações de respeito entre os povos ou tentar novamente reafirmar o seu domínio"»

Antecipando o fracasso desta segunda opção, Acerbo referiu que «devemos estar ao lado de Cuba exigindo o fim do bloqueio» e a abertura de «relações económicas positivas» com o país caribenho, algo que, defendeu, pode ser feito por Itália e a Europa em geral, «rejeitando envolver-se com os Estados Unidos e a máfia dos fanáticos de Miami».

Nascido há 55 anos na cidade costeira de Pescara, o secretário nacional do Partito della Rifondazione Comunista (PRC) começou a participar na vida política no final dos anos 70, em organizações de estudantes, movimentos pacifistas, ecologistas e de solidariedade com os povos da América Latina, da Palestina, da África do Sul e o movimento zapatista, no México.

«"divulgamos uma versão sobre o que se passa em Cuba diferente da que passam os órgãos de comunicação, que parecem repetir uma partitura que veio de Washington"»

Em 1984, foi eleito secretário provincial de Pescara da Federação Juvenil Comunista Italiana e, cinco anos mais tarde, fez parte do grupo que tentou evitar, sem êxito, a dissolução do Partido Comunista Italiano, tendo entrado então no PRC, pelo qual foi eleito deputado em 2006.

A 2 de Abril de 2017 foi eleito secretário nacional da Rifondazione Comunista, que assumiu um papel muito activo na colaboração com as associações que no país se solidarizam com Cuba e na realização de actividades de apoio à Ilha, em conjunto com outros partidos de esquerda.

«O povo italiano reconhece muito o que Cuba fez com as brigadas médicas»

«Neste sentido – afirmou –, promovemos mobilizações de solidariedade e iniciativas de informação e sensibilização contra o bloqueio, e divulgamos uma versão sobre o que se passa em Cuba diferente da que passam os órgãos de comunicação, que parecem repetir uma partitura que veio de Washington.»

Acerbo destacou que o movimento de amizade cresceu muito em Itália devido ao próprio mérito de Cuba, «porque o povo italiano reconhece muito o que Cuba fez com as brigadas médicas do Contingente Henry Reeve, que vieram ajudar-nos na fase mais difícil da pandemia», disse à Prensa Latina.

«"devemos fazer tudo para desmontar esta agressão, por agora, mediática", com todas as mentiras de que se alimenta»

Referindo-se ao desprezo da administração norte-americana pela rejeição que todos os anos é expressa contra o bloqueio na Assembleia Geral das Nações Unidas, Acerbo afirmou que a campanha actual de Washington contra Cuba parece ter como objectivo sair desse isolamento.

A desestabilização de Cuba promovida por Washington, advertiu, procura envolver a Europa e outros países, numa guerra que, recordou, é fundamentalmente económica, política e de comunicação.

A este respeito, denunciou os partidos políticos italianos que «se deixaram envolver nas últimas semanas no ataque contra Cuba», tendo sublinhado que «devemos fazer tudo para desmontar esta agressão, por agora, mediática», com todas as mentiras de que se alimenta.

Maurizio Acerbo mostrou-se confiante no fracasso das tentativas dos Estados Unidos, porque, frisou, a reputação de Cuba em todo o mundo é de um país que trabalha pela paz, a cooperação e a solidariedade entre os povos.

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Para o cantor, é importante manter activo o «espírito autocrítico», porque, defendeu, é com ele que «as conquistas da revolução se salvam e se mantêm», que «se ultrapassam os erros e a nossa soberania se consolida».

Questionado sobre o governo de Miguel Díaz-Canel, o cantor cubano disse que vê alguém «consciente de que a sua liderança inaugura uma nova fase, um novo compromisso governo-povo».

«Vejo um presidente que está constantemente em movimento para ouvir pessoas de diferentes esferas do saber», destacou.

Silvio Rodríguez recordou que, desde a tomada de posse de Díaz-Canel, em 2018, aumentaram os ataques do imperialismo contra Cuba. «Pela primeira vez, não estão à frente os líderes históricos da Revolução», afirmou o cantor, acrescentando que o imperialismo «vê nesta ausência um factor de debilidade e por isso está a multiplicar as agressões».

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