Num comício de apoio à presidente e recandidata ao Município de Matosinhos, este domingo, António Costa tentou sacudir a água do capote e deixou críticas ao encerramento da refinaria neste concelho do distrito do Porto, na sequência da decisão da Galp de concentrar as operações em Sines, dois dias após aquele que os trabalhadores classificaram de «dia mais negro».
«Era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade, tanta irresponsabilidade, tanta falta de solidariedade como aquela que a Galp deu provas aqui em Matosinhos», apontou o primeiro-ministro, querendo fazer ignorar as responsabilidades do Governo neste processo e o facto de o Estado ser um dos accionistas da empresa, através da Parpública.
A Comissão Central de Trabalhadoras e o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Norte (SITE Norte/CGTP-IN) já vieram dizer que as afirmações proferidas ontem por António Costa representam um aproveitamento político de um drama social, que é ao mesmo tempo um crime económico. Por outro lado, criticam o facto de o primeiro-ministro tentar tirar dividendos de uma posição para a qual «contribui decisivamente».
A Galp anunciou que vai concentrar as suas operações em Sines e descontinuar a refinação em Matosinhos a partir do próximo ano. Em causa estão 500 postos de trabalho directos e 1000 indirectos. A confirmar-se o encerramento desta refinaria, tal constituirá um grave atentado aos interesses nacionais, pois anulará importantes activos industriais, que beneficiaram inclusivamente de investimentos recentes com recurso a apoios públicos, atirando para o desemprego centenas de trabalhadores industriais qualificados. Em declarações à Lusa, a Comissão de Trabalhadores (CT) da Galp disse que vai contestar a decisão da empresa de concentrar a refinação em Sines e descontinuar a operação em Matosinhos, e pedir novamente a intervenção do Governo. «A nossa intenção é contrariar. Vamos discutir. Vamos reunir com os sindicatos e convocar o Governo, como temos feito desde 24 de Abril. Alertámos, desde essa altura, o Governo e o Presidente da República para as consequências que a distribuição de dividendos iria ter num contexto de pandemia. Não tivemos resposta», afirmou Hélder Guerreiro, da CT da Galp. Apesar de concordar que houve uma redução do consumo de combustíveis e um consequente impacto económico, devido à pandemia de Covid-19, Hélder Guerreiro vincou que as contas da empresa, referentes ao terceiro trimestre, mostram que todas as áreas totalizaram resultados positivos. Por outro lado, o encerramento não está desligado de interesses especulativos sobre os terrenos onde a refinaria se localiza, nem dos volumosos recursos públicos que estão a ser transferidos para os grupos económicos, em nome da chamada «transição energética». Em Outubro, a CT afirmava que o Governo não poderia continuar a «derramar milhares de milhões de euros sobre o sector em nome de um processo, "a transição energética", que só poderá dirigir recuperando o controlo público sobre empresas estratégicas». Os grupos parlamentares do PCP e do BE já convocaram o ministro do Ambiente à Assembleia da República para prestar esclarecimentos sobre o processo. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Trabalho|
Encerramento da refinaria é contrário aos interesses nacionais
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O SITE Norte reage dizendo que em campanha não vale tudo, ao mesmo tempo que recorda as deslocações dos trabalhadores a Lisboa no intuito de serem recebidos pelo primeiro-ministro. «Nunca nos recebeu e ontem veio com aquelas declarações em campanha eleitoral», disse aos microfones da TSF o coordenador do sindicato, Miguel Ângelo Pinto.
Não obstante, e levando a sério as palavras do primeiro-ministro António Costa, «então o Estado e o Governo têm todos os meios ao seu alcance para dar uma lição à Galp e para reverter esta situação e meter a refinaria em funcionamento e reverter o despedimento colectivo», observou.
A secretária-geral da CGTP-IN, Isabel Camarinha, também já acusou António Costa de se contradizer. «Agora, vem o primeiro-ministro dizer que realmente aquilo prejudica muito a economia nacional, quando disse o seu contrário, não há muitos meses atrás. É vergonhoso e o Governo devia ter vergonha de fazer afirmações destas quando não fez nada para impedir que a refinaria de Matosinhos encerrasse», disse à Renascença.
Numa lógica de privatização e liberalização do sector energético, o Governo, em conjunto com o PSD e o CDS-PP, não só rejeitou propostas que previam a defesa da refinaria e dos respectivos postos de trabalho, como prometeu apoios públicos e o acesso da Galp aos fundos comunitários para encerrar a refinaria, dando assim aval ao despedimento directo de cerca de 500 trabalhadores e indirecto de outros mil.
Sobre os postos de trabalho em causa, em Janeiro deste ano, o ministro do Ambiente afirmou ser uma «evidência» que com o fecho da refinaria esses iriam ser «perdidos».
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