|Movimento Democrático de Mulheres

MDM exibe tempo de antena sobre o tráfico de seres humanos

O Movimento Democrático de Mulheres (MDM) assinala o dia europeu de combate ao tráfico de seres humanos relembrando que a pandemia «aumentou o risco de recrutamento de mais vítimas», particularmente de mulheres.

Através deste projecto, o MDM propõe-se «romper silêncios contra esta forma de violência que atenta contra a dignidade e os direitos»
Créditos / Pixabay

«O confinamento e, sobretudo, o aprofundamento da crise social e económica, conduziram a uma maior vulnerabilidade e exposição das vítimas à exploração e à violência», levando, inevitavelmente, a uma acrescida dificuldade na identificação de pessoas nesta situação, afirma o comunicado, divulgado hoje, do MDM.

Mas o confinamento não é, nem pode ser, uma desculpa, já que em nada alterou a natureza do crime de tráfico humano. A momentânea visibilidade que o caso de Odemira criou, entretanto já esquecido, expôs «o desconhecimento profundo que persiste sobre este crime e as fragilidades e a descoordenação que subsistem na intervenção aos mais diversos níveis».

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Seixal destaca impacto da pandemia na vida das mulheres

Uma conferência online organizada pelo Município, em parceria com a Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas e o MDM, assinala o Dia Internacional da Mulher no Seixal.

A actriz Maria João Luís é uma das convidadas
Créditos / CC-BY-3.0

webinar moderado pela jornalista Catarina Pires visa «destacar o impacto global e local da Covid-19 na vida das mulheres», e são várias as convidadas para esta sessão. 

Sónia Matos, da Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas (AMUCIP); Manuela Calado, vereadora da Câmara Municipal do Seixal; Corália Loureiro e Regina Marques, do Movimento Democrático de Mulheres (MDM); Joana Videira, do Centro Cultural e Recreativo do Alto do Moinho; e Marta Braga, bombeira, são, juntamente com a actriz Maria João Luís, algumas das que vão participar na iniciativa da próxima segunda-feira. 

A Câmara Municipal do Seixal realça num comunicado que a pandemia veio expor «todo o tipo de desigualdades», incluindo a desigualdade de género, com impactos nos direitos e liberdades das mulheres, causando desequilíbrios sociais e o aumento do desemprego.

Neste sentido, o presidente do Município enfatiza a necessidade de «continuar a lutar para que, mesmo em pandemia, sejam ampliadas as conquistas e os direitos das mulheres», sublinhando que «ainda há muito trabalho a fazer» no combate à desigualdade de género.

«Queremos estar na linha da frente dessa luta pois entendemos que uma sociedade desenvolvida é aquela onde existe igualdade de oportunidades entre homens e mulheres», afirma Joaquim Santos. 

A conferência «A Mulher e a Actualidade» realiza-se na próxima segunda-feira, entre as 15h e as 17h, na plataforma Webex. A Câmara do Seixal informa ainda que o Dia Internacional da Mulher será assinalado com vários destaques divulgados durante o dia 8 nas redes sociais da autarquia. 

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É neste desconhecimento que se sustenta «a capacidade de adaptação das redes de tráfico aos mais diversos cenários, apoiados na sua incomensurável imaginação para recrutar, movimentar e explorar, mantendo os seus elevadíssimos lucros». Exige-se o rápido reconhecimento, em todos os países, de que o tráfico «assenta as suas raízes nas políticas económicas e sociais geradoras de iniquidade e de injustiça social, da pobreza, da miséria e da fome».

Será sempre um exercício fútil combater as redes de tráfico de seres humanos compactuando, ao mesmo tempo, com a «generalização e massificação da precariedade e da instabilidade no trabalho; com a indignidade dos salários de miséria e da desregulação dos horários; ou da negação de direitos que obrigam a ceder e aceitar a crescente exploração e aceitar, sem outra, opção um trabalho exercido em condições de tremenda insegurança e violência».

Da mesma forma, o MDM considera indispensável que, para além da identificação de dois dos elementos constitutivos da definição do crime de tráfico, «saber quem e através de que meio se aprisionam pessoas numa violência sem fim», é necessário que não se feche «os olhos à generalização da exploração laboral ou ceder à tentação de legalizar o negócio do proxenetismo, como aqui em Portugal alguns pretendem».

A dura realidade dos números e a obrigação dos estados

O MDM alerta para os mais recentes dados que apontam, na Europa, para uma predominância das mulheres e de meninas enquanto as principais vítimas deste crime, num total de 72% de todas as pessoas identificadas. Destas, 92% são traficadas para exploração sexual e prostituição; As crianças constituem 22% das vítimas, e a maioria, também meninas, têm o mesmo destino: «a exploração sexual e a prostituição».

O Relatório Tráfico de Seres Humanos - 2019, produzido pelo Observatório do Tráfico de Seres Humanos e o Ministério da Administração Interna, identifica uma realidade ainda muito desconhecida no país, sinalizando-se, principalmente, as vítimas adultas, masculinas, forçadas à exploração laboral.

Por seu lado, todas as vítimas de tráfico para fins de exploração sexual identificadas, 27 pessoas, são do sexo feminino, incluíndo cinco menores de idade.

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Legalizar o proxenetismo representa retrocesso

Foi entregue no Parlamento uma petição que pretende legalizar o lenocínio, a actividade dos que gravitam em torno da prostituição, que constitui uma forma de exploração e violência exercida maioritariamente contra as mulheres.

O MDM denuncia a prostituição como «uma das mais aviltantes formas de violência contra as mulheres»
Créditos / FJUJapan

Não é uma novidade a campanha, que agora tem tido muita expressão mediática, em torno da pretensa «legalização da prostituição». Legalização da Prostituição em Portugal e/ou Despenalização de Lenocínio é o título da petição que foi entregue para ser debatida na Assembleia da República e que, a par das entrevistas dadas pela promotora, Ana Loureiro, constituem os elementos de uma campanha alimentada pelo Correio da Manhã e pela TVI.

Em declarações ao AbrilAbril, Sandra Benfica, dirigente do Movimento Democrático de Mulheres (MDM), afirma que não há nada de novo na proposta. «O que está aqui em causa é o ponto 1 do artigo 169.º da Constituição da República Portuguesa, que o lobby dos proxenetas quer destruir», disse, acrescentando que, se assim fosse, a mercantilização do corpo das mulheres seria legal e voltaríamos ao «velho sistema das matriculadas» do tempo do fascismo que de seis em seis meses eram obrigadas a inspecções médicas para continuarem a prostituir-se. 

«O que estes "empresários" querem é que haja um enorme retrocesso no ordenamento jurídico português, onde não existe nenhum preconceito moral em relação à sexualidade», mas sim a garantia de que o Estado não permite que alguém lucre com a exploração sexual do corpo de terceiros, afirmou a dirigente.


Em relação aos argumentos dos que defendem tratar-se de uma «opção» da mulher, Sandra Benfica sublinha que esse não é um termo que possa ser associado a esta forma de exploração. «Sobre a conduta de quem é prostituído não pesa nenhuma penalização para além da violência a que é sujeito diariamente», frisou.

Quanto ao que se pode esperar da discussão no Parlamento, a dirigente lembra que nenhum partido colocou no seu programa eleitoral às eleições legislativas de 2019 a legalização do lenocínio. Mesmo o Bloco de Esquerda, que o havia feito em 2015, optou por não o colocar desta vez no programa, e «é com base nos programas que os partidos são eleitos», lembrou.

«A nossa luta não vai no sentido de combater esta petição mas, como afirmamos nos princípios que norteiam a realização da Manifestação Nacional de Mulheres, a prostituição é uma forma de violência que necessita de ser combatida, criando-se caminhos de fuga à pobreza, à discriminação e desigualdade a que estas pessoas estão sujeitas e a criação de condições para que possam sair desta situação», concluiu a dirigente.

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«Neste tempo de insana intensificação da exploração, no qual o corpo, como entidade física e simbólica, é encarado pelo consumidor como objecto de consumo, é fundamental impedir que se expanda no nosso país indústrias e mercados multimilionários criados em torno da mercantilização do corpo, e partes do corpo, particularmente do das mulheres, não permitindo que mais violência assole a nossa vida e nos desrespeite, desprezando a nossa integridade e dignidade enquanto seres humanos» reafirma o documento do Movimento Democrático de Mulheres.

A organização defende ainda a urgente assunção do «combate ao tráfico de pessoas como uma obrigação e uma prioridade dos estados, investindo na prevenção e no apoio às vítimas, na formação e reforço dos meios públicos para a perseguição, desmantelamento e punição das redes de tráfico humano», combatendo «o lobby dos proxenetas e pondo fim ao negócio da prostituição».

O MDM vai assinalar o Dia Europeu de Combate ao Tráfico de Seres Humanos, 18 de Outubro, emitindo, na RTP1, em espaço de direito de antena, um vídeo de sensibilização sobre o tema, com a participação da Boutique da Cultura, que tem em cena uma peça sobre as experiências das vítimas de tráfico com o nome, Silêncios e Tanta Gente.

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