Na concentração, convocada pelo Partido Comunista da Índia (Marxista) (PCI-M), participaram membros do Comité Central e dirigentes da organização estadual de Déli, bem como estudantes, professores, juristas, entre outros, que exigiram o respeito pelos «direitos constitucionais» dos grupos minoritários no país.
Os comunistas acusam o Bharatiya Janata Party (BJP), no poder, de alimentar a «política do ódio» e de permitir a acumulação de tensões religiosas na Índia, para daí retirar «dividendos eleitorais».
Defendem – noticia o portal Newsclick – que é necessário um «esforço consistente» para responder ao BJP e «ao seu mentor ideológico Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS)», organização nacionalista hindu, de extrema-direita.
O número de casos de violência que atentam contra os «direitos constitucionais» de grupos minoritários tem vindo a aumentar na Índia, afirmou Brinda Karat, dirigente do PCI-M.
«Há um esforço concertado para demonizar, mesmo culturalmente, os grupos minoritários no país... Temos falado em salvar a Constituição [indiana]. A mensagem da mobilização de hoje é precisamente que, se a Constituição deve ser salva, as pessoas devem manifestar-se para proteger os direitos das minorias primeiro», disse Karat ao NewsClick.
Outra figura destacada do PCI-M presente em Déli foi Prakash Karat, que se dirigiu aos manifestantes afirmando que o partido irá organizar mobilizações deste tipo pelo país fora.
«As políticas do ódio têm de ser travadas imediatamente»
Entre as minorias especialmente visadas pela violência da extrema-direita figuram os muçulmanos e cristãos. Em Agosto, um vendedor de braceletes muçulmano foi brutalmente espancado por uma multidão. Em Gurugram, no estado de Haryana, a tensão elevada dura há mais de um mês, com os muçulmanos que oram em público a serem interrompidos por grupos hindus de direita.
Tripura foi o último dos estados governados pelo BJP a tornar-se o foco de tensões religiosas, depois de grupos hindus fundamentalistas terem atacado mesquitas e lojas de muçulmanos.
Igualmente a aumentar tem estado a violência sectária, por parte de grupos extremistas, contra comunidades cristãs. Em Outubro, refere a fonte, um relatório emitido por várias entidades da sociedade civil apontava para mais de 300 incidentes do tipo registados este ano, com o estado de Uttar Pradesh, o mais populoso da Índia, à cabeça.
O caso mais recente ocorreu este domingo em Nova Déli, onde um barracão transformado em igreja foi alegadamente vandalizado por membros da organização nacionalista hindu Bajrang Dal.
Os confrontos no Nordeste de Déli entre apoiantes e oponentes à Emenda à Lei da Cidadania começaram no domingo. O PCI(M) acusa os partidários de Modi de fomentarem a violência e a Polícia de «ter falhado». Uma fonte hospitalar na capital indiana revelou esta quarta-feira que pelo menos 23 pessoas foram mortas nos confrontos e que mais de 200 ficaram feridas, sendo que 15 foram hospitalizadas em estado grave. O ministro indiano do Interior, Amit Shah, referiu-se aos confontros como «espontâneos», mas tal como notaram alguma imprensa, activistas presentes no bairro de Jaffarabad e o Partido Comunista da Índia (Marxista), de «espontâneos» tiveram muito pouco. Referiram-se, nomeadamente, ao facto de, no domingo passado, Kapil Mishra, um dirigente local do Partido Bharatiya Janata (BJP, classificado como nacionalista hindu e de extrema-direita), ter feito um discurso incendiário na presença da Polícia contra quem protesta contra a Emenda à Lei da Cidadania (Citizenship Amendment Act; CAA). Tal legislação, promovida por Narendra Modi e aprovada no final do ano passado, é condenada como «discriminatória» pelos seus oponentes e tem sido alvo de forte constestação, há mais de dois meses, de norte a sul do país – uma vez que facilita a adopção da cidadania indiana a refugiados hindus, sikhs, budistas, jainistas, parsis e cristãos provenientes do Afeganistão, do Bangladesh e do Paquistão que entraram na Índia antes de 2015, deixando de fora os muçulmanos. Partidos de esquerda e progressistas afirmam que se trata de mais um passo de Modi para «marginalizar» os muçulmanos e aprofundar as «divisões» do país. Também criticam a legislação por ser «anticonstitucional», sublinhando que o estatuto de cidadania jamais pode ser atribuído em função de uma crença religiosa. Tal medida reforça a convicção de quem acusa o governo do primeiro-ministro Narendra Modi de alentar a intolerância religiosa, de promover a polarização da sociedade e de procurar transformar a Índia num Estado hindu. Os protestos anti-CAA têm sido maioritariamente pacíficos, como refere uma dirigente comunista numa missiva enviada terça-feira ao ministro do Interior. Já esta quarta-feira, o Comité Central do PCI(M) emitiu um comunicado em que denuncia o papel de «gangues» e de «elementos criminosos» no Nordeste de Déli, onde queimaram casas, mercados e lojas «com impunidade». No documento, os comunistas indianos afirmam que a acção policial esteve marcada por «falhas» e que foi «verdadeiramente chocante», uma vez que, nalguns casos, os agentes «não fizeram nada» e, em muitos noutros, «foram vistos a agir em conivência com os atacantes». «O falhanço da Polícia é tão evidente que até o Supremo Tribunal observou hoje a falta de independência e de profissionalismo dos agentes no que respeita aos confrontos», revela o texto. Neste sentido e tendo em conta a gravidade da situação, o PCI(M) solicitou a intervenção do Exército, para ajudar as autoridades civis. O governador da província de Nova Déli, Arvind Kejriwal, também pediu ao governo federal que aprove a intervenção do Exército e que decrete o recolher obrigatório nas áreas onde a violência tem ocorrido. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Violência instigada provoca pelo menos 23 mortos em Déli
Ataques de «gangues» e «elementos criminosos»
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Hannan Mollah, membro do Comité Central do PCI-M e dirigente da All India Kisan Sabha (AIKS), a frente camponesa do partido, disse ao Newsclick que a luta dos agricultores na Índia teve um papel determinante na «criação de uma linguagem» para lutar contra as «tendências sectárias» que se reflectem nas «políticas adoptadas pelo BJP-RSS».
Entre os manifestantes, esta quarta-feira, contavam-se habitantes dos bairros do Nordeste de Déli, cujas vidas foram devastadas pelos distúrbios do ano passado. Namra, de 23 anos e cuja propriedade foi atacada em Shiv Vihar, disse que muita gente, ali, ainda não recuperou das perdas sofridas nos ataques de 2020.
«Quanto tempo mais vão continuar estas políticas de ódio? Têm de ser travadas imediatamente», sublinhou.
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