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Conservas recusam aumentar salários, apesar da boa situação económica

Os trabalhadores das conservas cumprem esta quarta-feira um dia de greve nacional contra os baixos salários e a desregulamentação dos horários de trabalho, contestando a intransigência das empresas. 

A Cofaco é a proprietária da marca Bom Petisco
CréditosJosé Coelho / Agência Lusa

A Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP) «recusa negociar a tabela salarial e a revisão do contrato colectivo de trabalho», denuncia a Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (Fesaht/CGTP-IN) em comunicado. 

A Federação afirma que a associação dos patrões quer alterar as regras dos horários de trabalho para «poder obrigar os trabalhadores a trabalhar durante o horário nocturno», mas os trabalhadores querem continuar a ter direito de conciliar a vida pessoal e familiar. Os trabalhadores «não querem passar a ser máquinas na mão do patrão, para ligar e desligar quando lhe der jeito e tendo como único objectivo o aumento do lucro», ilustra a Fesaht.  

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Aumento dos lucros na indústria alimentar não melhora condições laborais

O sector tem visto os lucros aumentar durante o período de confinamento mas não garante as condições de protecção aos trabalhadores, que auferem na sua maioria o salário mínimo nacional.

CréditosFERNANDO VELUDO / LUSA

Os recentes casos positivos de Covid-19 na indústria de alimentação são «a ponta de um grande iceberg», denuncia em nota o Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias da Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (Sintab/CGTP-IN), sublinhando que a realidade nas fábricas do País «não se espelha nos planos de contingência apresentados pelas empresas».

No documento, o sindicato mostra a sua «preocupação» com a situação deste sector, uma vez que, apesar dos «elaboradíssimos planos excepcionais de contingência» apresentados pelas empresas, na prática muitos dos trabalhadores têm visto a sua segurança ser posta em risco devido à «falta de compromisso» que as estruturas de gestão têm com o cumprimento das regras de segurança.

Estas más práticas, segundo o Sintab, têm sido o catalisador das situações de contágio colectivo como na Avipronto, da Azambuja, e na Sohi Meat, em Santarém.


Se, por um lado, o sector da indústria da alimentação, nomeadamente as conservas, massas e carnes processadas e embaladas, tem tido um considerável aumento dos lucros, por outro lado, não houve qualquer reflexo quantitativo nos salários dos trabalhadores, mantendo, na sua maioria, o recurso ao salário mínimo nacional, de que são exemplo empresas como a Cerealis, a Poveira, a Ramirez ou a Esip.

A saúde dos trabalhadores e das suas famílias não é prioritária em relação à manutenção dos lucros das empresas, denuncia a estrutura sindical, lembrando que, a ser necessário o aumento da capacidade produtiva do País, este deve ser feito com a garantia de uma melhoria da capacidade económica dos trabalhadores, bem como das suas condições de trabalho.

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«Face à posição intransigente» da ANICP, «de recusa em negociar aumentos salariais dignos e a revisão do contrato colectivo de trabalho», a Fesaht decidiu convocar uma greve nacional para esta quarta-feira, 19 de Janeiro. A par da greve, estão agendadas concentrações de protesto à porta de empresas do sector, designadamente na Cofisa, às 14h, na ESIP, às 14h3o, e junto à sede da ANICP, em Matosinhos, às 10h.

A estrutura sindical regista que o sector da indústria das conservas «vive uma boa situação económica», considerando que, «em 2020, a indústria nacional produziu 72 mil toneladas, mais 11 mil toneladas do que em 2019, tendo gerado 365 milhões de euros, mais 40 milhões do que ano anterior».

Acrescenta que «houve um aumento de 16% na procura de conservas nacionais, assim como 14% no volume de vendas e 20% em valor», salientando que a expectativa da indústria «é que a tendência de crescimento da procura continue a ser acima dos dois dígitos, tanto a nível interno como externo».

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