A cimenteira Lafarge, que agora faz parte do conglomerado suíço de construção Holcim, terá pago, através de subsidiárias, mais de 13 milhões de euros a diversos grupos armados jihadistas, incluindo o Daesh ou Estado Islâmico, para poder manter a funcionar a sua fábrica de cimento na província síria de Alepo em 2013 e 2014.
Organizações não governamentais e de defesa dos direitos humanos esperam que o caso sirva como um «guia» para indiciar multinacionais acusadas de fazer vista grossa ao terrorismo em troca de poderem continuar a operar em países devastados pela guerra.
«É uma decisão exemplar e esperamos que os juízes de instrução possam levar a cabo o seu trabalho», disse à AFP um representante do Centro Europeu de Direitos Constitucionais e Humanos – uma das organizações que lançaram o processo.
Por seu lado, o advogado Joseph Briham, representante de cerca de cem ex-funcionários sírios da empresa, disse que «se trata de mais um passo contra a impunidade dos perpetradores dos piores crimes dos agentes económicos».
Também Mathieu Pagar e Elise Lugal, advogados de 50 ex-funcionários sírios no caso, manifestaram a sua satisfação com a decisão, classificando-a como um passo importante, refere a agência SANA.
Numa entrevista hoje publicada pelo Daily Mail, o presidente sírio afirmou que «não houve ataque» químico em Douma. Foi uma encenação preparada pelos EUA e seus «satélites»: França e Reino Unido. Na entrevista que o Daily Mail divulgou este domingo e cujo conteúdo está acessível na íntegra no portal da agência SANA, Bashar al-Assad acusa o Ocidente de ter defendido a guerra na Síria desde o início, «apoiando os terroristas que começaram a fazer explodir tudo, a matar tudo e todos, e a cortar cabeças». Referindo-se concretamente à luta contra o Daesh (o autoproclamado Estado Islâmico), disse que tem sido o Exército sírio a assumir a parte principal dessa luta, com o apoio dos russos e dos iranianos. Acrescentou que «mais ninguém faz o mesmo, nem sequer de forma parcial», e acusou a aliança militar ocidental liderada pelos norte-americanos de, «na verdade, andar a ajudar o Daesh». A propósito da presença de tropas estrangeiras em território sírio, o chefe de Estado caracterizou a intervenção norte-americana e britânica como «ilegal» e «ilegítima», e como «uma violação da soberania da Síria – um país soberano». Usou estes termos para a diferenciar da presença militar russa e da iraniana em território sírio, em ambos os casos «legítimas» porque dão sequência a convites feitos por Damasco. Destacou as boas relações que o seu país mantém «com a Rússia há mais de seis décadas» e o facto de, nesse período, os russos «nunca se tentarem impor, mesmo quando há divergências». Em última instância, «a decisão sobre o que se passa ou o que se vai passar na Síria é uma decisão síria», frisou. O governante sírio demitiu como infundadas as teses sobre uma suposta coordenação israelo-russa na Síria. «A Rússia nunca se coordenou com ninguém contra a Síria, tanto a nível político como militar, e isso é uma contradição», disse, para perguntar em seguida como é que os russos «podiam estar a ajudar o Exército sírio a avançar e, ao mesmo tempo, estar a trabalhar com os inimigos [da Síria] para destruir o seu Exército». Sobre o alegado ataque químico em Douma, na região damascena de Ghouta Oriental, Bashar al-Assad afirmou que foi encenado conjuntamente pelos EUA e os seus «satélites» França e Reino Unido. A este propósito o presidente sírio dirigiu fortes acusações ao Reino Unido, lembrando que este país «apoiou publicamente» e «gastou muito dinheiro» com os Capacetes Brancos, que são «uma ramificação da Al-Qaeda e da al-Nusra em várias partes da Síria», e foram a organização directamente envolvida na encenação e divulgação do ataque químico em Douma, a 7 de Abril último. «Foi uma mentira; sobretudo depois de libertamos aquela área, os nossos serviços confirmaram que o ataque nunca ocorreu», disse al-Assad, sublinhando que muitos jornalistas visitaram a região após a libertação e não encontraram sinais de ataque algum. «Não houve qualquer ataque; é aqui que a mentira começa. Mais uma vez, a questão não era o ataque […], mas minar o governo sírio, da mesma forma que eles [EUA, França, Reino Unido] precisavam de mudar e derrubar o governo sírio no início da guerra», disse. O chefe de Estado sírio sublinhou que irá libertar todo o território do seu país, por mais ameaças que sejam proferidas pelos inimigos da Síria. Questionado sobre o tempo de tal empreendimento, respondeu que sempre disse que o «conflito poderia estar resolvido num ano». O que complica a questão é «ingerência externa»: «Quanto mais avançamos, mais o Ocidente apoia os terroristas», denunciou, salientando que os EUA, o Reino Unido e a França «irão tentar prolongar» a guerra e tornar «mais distante a solução dos sírios». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Assad: «Quanto mais avançamos, mais o Ocidente apoia os terroristas»
Ataque químico em Douma: uma «mentira» encenada a três
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A queixa foi apresentada em 2016 e, dois anos depois, a empresa foi acusada. Alegando que não era responsável pelo facto de o dinheiro que entregava a intermediários ir parar às mãos de grupos terroristas, recorreu da decisão e, em 2019, um tribunal retirou a acusação de «cumplicidade em crimes contra a humanidade».
No entanto, em Setembro do ano passado, o Supremo Tribunal francês anulou tal decisão e ordenou uma nova investigação do caso. Com a decisão de ontem, um juiz de instrução pode julgar a Lafarge e os seus responsáveis, incluindo o seu antigo director-executivo Bruno Lafont, indica a AFP.
O tribunal deu razão à acusação, que disse que a Lafarge «financiou, através das suas subsidiárias, as operações do Estado Islâmico com vários milhões de euros com pleno conhecimento das suas actividades».
Também confirmou as acusações de financiamento do terrorismo e de pôr em risco a vida de terceiros – os seus trabalhadores sírios –, quando o Daesh ocupou uma grande parte do país, antes de a Lafarge abandonar a fábrica de cimento que tinha em Jalabiya, perto de Alepo, em Setembro de 2014.
Num comunicado emitido ontem, o grupo suíço Holcim, em que a Lafarge está integrada, disse que vai recorrer da decisão judicial.
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