A certa passagem das reflexões contidas no precioso livro Outra Vida para Viver, o escritor grego Theodor Kallifatides, radicado há mais de 50 anos na Suécia, lança um grito de alarme saído da sequência lógica de palavras alinhadas até aí: há «uma guerra contra as pessoas».
Escritor bilingue, Kallifatides redescobre nesta obra – uma das poucas escrita originalmente na língua pátria – uma Grécia sofrendo as terríveis consequências das sevícias praticadas pela troika de agentes não-eleitos formada pela Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu. Um cenário que também conhecemos em Portugal e espalhado como uma peste renitente através da União Europeia sob a designação comum de «austeridade».
Escreve Kallifatides, a propósito da «pobreza repugnante» em que se vive «tanto no pinhalzinho do meu bairro de Atenas como na praça do meu bairro de Estocolmo»: «os pobres deixaram de ser pessoas para se tornar apenas um problema»; fazendo lembrar, completa o escritor greco-sueco, «o que o nazismo tinha feito com os judeus, com os comunistas, com os homossexuais, com os ciganos e com muitos mais».
Cruas pinceladas compondo uma paisagem que muitos não querem ver, outros não conseguem enxergar e de que a esmagadora maioria não ganha consciência – mesmo sentindo-a na pele – porque lhe é escondida e distorcida no interior de uma imensa campânula de mentira. Essa é a paisagem, citando de novo Kallifatides, «da guerra contra as pessoas».
Na Suécia, a propósito, os fascistas dos Democratas da Suécia são o segundo partido e acabam agora por ficar a controlar o governo de direita sem nele participarem formalmente. Como diz a estação oficial SVT, «ficam com as chaves» das decisões governativas.
O epicentro da catástrofe
Guerra? Isso não é antes o que acontece na Ucrânia por causa da invasão dos russos?
Perguntas do momento, resumindo a estreiteza de vistas que é inculcada nos cidadãos segundo métodos que vão do mais grosseiro à mais elaborada manipulação das mentes, como se antes destes dias ameaçadores o planeta vivesse numa santa paz; uma calmaria em que a única e derradeira preocupação era atacar as alterações climáticas, de preferência segundo os métodos recomendados pelos mais ricos e extorsionários deste mundo, prontos a esmagar soberanias, pátrias e fronteiras. Um mito destes tempos tentando desviar as pessoas dos seus mais sérios problemas e ajudando a criar uma realidade paralela.
Daí que seja necessário, fundamental mesmo, recorrer aos meios adequados disponíveis em democracia autêntica para estilhaçar a campânula da intrujice institucionalizada e mergulhar até ao fundo das causas, efeitos, ambições e crueldades que fazem mexer a sociedade cada vez mais globalizada de hoje e a conduzem irresponsavelmente para o abismo.
As pessoas são as principais vítimas da guerra na Ucrânia, um conflito que, gostem ou não gostem os comentadores encarregados de ajudar a montar a opinião única, é travado entre a Rússia e a NATO, usando esta os ucranianos como carne para canhão. A mortandade que grassa entre as forças militares ucranianas e as populações civis da região do Donbass é fruto da crueldade nazi de Kiev, suportada pela União Europeia e a NATO tendo à cabeça o regime “indispensável” dos Estados Unidos da América; e da restauração de uma mentalidade neoczarista e megalómana em Moscovo como resposta nacionalista ao cerco ocidental nas vertentes militar, geopolítica e económica.
As pessoas, como em qualquer guerra, transformaram-se em peças descartáveis de estratégias de poderes nacionais e transnacionais: tanto aquelas a quem não é permitido render-se porque são simples células de um organismo que as despreza e as sacrifica numa fuga para a frente condenada ao fracasso, uma realidade conhecida por todos os que manipulam, armam e financiam a marioneta Zelensky e a sua corte nazi; como as populações do Donbass, os «sub-humanos» alvos da mortífera xenofobia dos herdeiros de carniceiros nazis colaboradores de Hitler e, ao mesmo tempo, instrumentos úteis para a consolidação do poder nacionalista do regime de Putin, que não se distingue dos outros incapazes de respeitar, em primeiro lugar, as suas populações.
As explosões nos gasodutos Nord Stream 1 e 2 configuram o escalar no clima de confrontação e confirmam a incerteza dos povos face ao futuro. O enquadramento histórico, económico, mas essencialmente político, é necessário para a apreciação dos factos. A 1 de Julho de 2021, o Centro de Pesquisas do Parlamento Europeu escreveu um relatório sobre o Nord Stream 2. O documento que tem como nome «The Nord Stream 2 pipeline - Economic, environmental and geopolitical issues» (O gasoduto Nord Stream 2 - Questões económicas, ambientais e geopolíticas) vem no seguimento de duas resoluções aprovadas no Parlamento Europeu, em 2019 e em 2021, que propunham o fim do novo gasoduto em questão. Eram meramente alíneas, e como tal em ambas as resoluções a argumentação não ia muito longe. O documento elaborado procurava fazer uma contextualização, algo enviesada é certo, mas conseguiu fazer um breve resumo da história do fornecimento do gás natural russo até ao Nord Stream 2 e quase que como por magia, antecipava algumas das discussões hoje tidas. Desde a questão do conflito do leste europeu até à moderna análise maniqueísta, está tudo presente. A verdade é que o documento pode ser lido de forma a compreender melhor os quatro ataques à bomba nos gasodutos Nord stream 1 e Nord stream 2, mas também para compreender os interesses políticos instalados. Percebendo-se a dimensão histórica, política e económica, pode-se entender mais a fundo o que está em causa e como o futuro energético da europa constitui uma vertente de uma guerra que vai além das armas e da confrontação bélica. O The World Factbook, um livro produzido pela CIA que reúne um conjunto de dados sobre diversos países, faz um apanhado da produção de gás a nível mundial. Dados de 2017 indicam que há 97 países no mundo que produzem gás natural. Destes, há dois aspectos que saltam à vista: o primeiro é que os dois países que mais gás produzem de forma destacada são os EUA (772 800 mil milhões m³) e a Rússia (665 600 mil milhões m³); já o segundo aspecto é que nos 97 países figuram 22 países Europeus que, no entanto, tudo somado, produzem apenas 274 mil milhões m³, ou seja, nem metade do que a Rússia produz. Perante este cenário consegue-se entender bem as dificuldades do continente europeu na auto-suficiência da produção de gás. Foi sempre necessário procurar soluções para contrariar algo que parece difícil de contrariar, mesmo atendendo à narrativa da transição energética que muitos tentam vender como quase imediata mas levaria bastantes anos a realizar-se. No que toca a reservas, de acordo com uma Revisão Estatística da Energia Global de 2020 produzida pela BP, a Rússia apresenta-se como o país com a maior reserva de gás natural no mundo, tendo a década de 70 significado um aumento da produção e do fornecimento, colocando a então União Soviética na liderança deste último, após o desenvolvimento da produção na Sibéria e o ínicio da exportação. Em 1984 foi construído o primeiro gasoduto de grandes dimensões que faz a ligação até à Europa. O gasoduto Urengoy–Uzhhorod, começa no campo de gás de Urengoy, localizado na Sibéria, indo até Uzhhorod, no Oeste da Ucrânia, junto à fronteira com a Eslováquia, para depois o gás ser transportado para o centro da Europa. Passados 8 anos, em 1992, começou-se a preparar um novo gasoduto, mas desta vez via Bielorrússia com destino à Polónia e Alemanha. O gasoduto Yamal ainda demorou a funcionar na sua plenitude e somente em 1997 é que chegou o primeiro gás ao país germânico. O custo total de construção do gasoduto foi estimado em 36 mil milhões de dólares. A 2003 foi colocado em marcha o gasoduto Blue Stream que faz a ligação da Rússia à Turquia por via do Mar Negro. A Blue Stream Pipeline B.V., empresa comum da russa Gazprom e da italiana Eni com sede na Holanda, é a proprietária da parte submarina do gasoduto. A Gazprom detém a parte terrestre do lado russo e a empresa energética turca BOTAŞ detém a parte terrestre do lado da Turquia. De forma a reforçar a ligação à Turquia foi construído o TurkStream, também ele via Mar Negro. Acordado em 2016, com construção iniciada em 2017 e com começo a 1 de Janeiro de 2020, o TurkStream vem substituir o South Stream, que fora abortado em 2014, e uma primeira intenção em 2009 de construir um Blue Stream II. Este gasoduto permitiu fornecer gás à Bulgária e por essa via serviria para fornecer a zona dos Balcãs. No meio de tantos gasodutos que partem da Rússia surge por fim o Nord Stream 1 que, acompanhado pelo Nord Stream 2, têm assumido o centro das atenções e da batalha geopolítica. O Nord Stream 1, começado a construir em 2010 e terminado em 2011, faz a ligação directa entre Vyborg na Rússia e Greifswald na Alemanha. Foi inaugurado a 8 de Novembro de 2011 pela chanceler alemã Angela Merkel e o Presidente russo Dmitri Medvedev. O Nord Stream 1 é constituído por dois gasodutos e passa pelo Mar Báltico, passando perto da costa da Finlândia. Cada um dos tubos tem 1200 quilómetros de comprimento e diâmetros aproximados de 1220 milímetros, Nas palavras de Angela Merkel à data da inauguração o projecto era um «marco na cooperação energética» e a «base de uma parceria fiável» entre a Rússia e a Europa. Estavam lançados os dados, uma vez que o Nord Stream 1 passava a ser o gasoduto que mais gás fornecia à Europa e contrariava assim uma dificuldade objectiva para os povos. No total o investimento foi de 14,8 mil milhões de euros, dos quais o financiamento veio 30% de capitais próprios e 70% através de financiamento via banca um pouco por todo o centro da Europa. Para se ter uma ideia, estima-se que em 2021, 40% do gás fornecido pela Rússia para a Europa foi realizado por este gasoduto. Um outro dado importante prende-se com com o facto da União Europeia depender em 43% do gás russo, ficando a Rússia à frente da Noruega (23%) e da Argélia (6%). Apesar disto configurar o que muitos chamam de «dependência energética face à Rússia», o contrário também acontece. No documento referido acima, realizado pelo Centro de Estudos do Parlamento Europeu, é dito que 73% do gás exportado pela Rússia é para a União Europeia, o que indica que a própria Rússia, a determinado ponto, colocou-se dependente da própria dependência. Como tal, após alguns anos de estudo, a Rússia em 2014 assinou com a China um acordo de 30 anos para o fornecimento de gás e o gasoduto chamado Yakutia–Khabarovsk–Vladivostok foi começado a construir nesse mesmo ano, tendo o processo acabado em 2019. Em 2020 a China importou 4,1 mil milhões de m3 e as previsões apontam para que haja um aumento considerável nos próximos anos. Apesar da Rússia ter avançado para a exploração de novos mercados, o europeu manteve-se como o central. Neste seguimento e dado o sucesso económico e político do Nord Stream 1, surge em 2011 a ideia para um novo gasoduto. Depois de muitos avanços e recuos e estudos de diversas possibilidades, em 2015, a Gazprom, a Royal Dutch Shell, a E.ON, a OMV e a Engie chegaram a entendimento para financiar o então Nord Stream 2 apesar das dificuldades impostas pela Polónia, passando toda a construção apenas para a Gazprom. A Alemanha, olhando para os seus interesses, viu com com bons olhos a construção de mais um gasoduto e a construção ficou concluída em Setembro de 2021. Não deixa de ser interessante que, tendo em conta toda a narrativa que hoje é imposta acerca dos Direitos Humanos e os incumprimentos da Rússia, o então porta-voz do também então governo alemão tenha dito, sobre o falso activista russo vendido como oposição quando nunca o foi, que «não há ligação directa entre o caso Navalny e o Nord Stream 2». Já Armin Laschet, que à data era o recém-eleito líder da União Democrata-Cristã (CDU) disse também que não iria reconsiderar o seu apoio ao projecto e, quando pressionado sobre o fornecimento doméstico de energia, disse que «a Alemanha decide»,em resposta a pressões tanto do Parlamento Europeu como dos EUA. Num quadro de competição não é favorável favorecer um inimigo. O povo diz sabiamente para não guardar os ovos todos no mesmo galinheiro e para os aliados Europeus, os ovos não só estavam a ser todos guardados como estavam a ser oferecidos a um rival directo do Ocidente. Esta era e é a leitura dos EUA no que toca ao fornecimento de gás pela Rússia. Aos olhos dos EUA e dos seus aliados, era alegado que o que estava em causa para além da soberania era também a segurança energética da Europa. As tentativas de condicionamento ao Nord Stream 2 estavam sempre presentes, mas apesar disso a construção avançou e foi concluída. Hoje seria apenas necessário um aval técnico, que na realidade é um aval político, para o fornecimento poder começar, não fossem as recentes explosões. Antes de aí chegarmos há a necessidade de traçar a cronologia que explica os desenvolvimentos dos acontecimentos. As sanções em relação a gasodutos enquanto arma de arremesso não são algo novo. Em 1981 a Administração Reagan aplicou sanções à União Soviética aquando da construção de um gasoduto. As sanções passavam essencialmente pela proibição de empresas americanas venderem o material tecnológico necessário para a conclusão do projecto. O modelo de sanções americanas continua semelhante, mas no caso do Nord Stream 2 há o desenvolvimento de instrumentos legais com diversos pressupostos ideológicos que visaram dificultar o processo. Em 2016, oito chefes de Estado de países da União Europeia (República Checa, Estónia, Hungria, Letónia, Polónia, Eslováquia, Roménia e a Lituânia) assinaram uma carta contra o novo gasoduto que já estava em marcha, endereçando-a ao então presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker, opondo os seus interesses aos interesses da Alemanha. A razão pela qual houve esta movimentação prende-se pela avaliação de que o Nord Stream 2 iria diminuir ou prejudicar bastante o gasoduto Urengoy–Uzhhorod e como tal colocaria todo o gás necessário nas mãos dos germânicos. A Polónia, por via da UOKiK, que é a sua autoridade da concorrência, afirmou que o novo gasoduto iria aumentar o monopólio da Gazprom sobre o mercado do seu país. Desta forma, e com medo de multas, a Royal Dutch Shell, a E.ON, a OMV e a Engie recuaram com a sua participação directa no negócio deixando de serem accionistas da empresa comum Nord Stream 2 AG, e passaram somente a financiar todo o projecto. Algo estranho uma vez que as intenção polacas seria contrariar o monopólio russo. A Polónia avançou em 2020 para a via legal e pediu uma multa de 6,5 mil milhões de euros à Gazprom e multas entre 6 e 20 milhões de euros aos parceiros no negócio. Tambem pela via legal, a União Europeia procurou travar o projecto numa directiva de gás que desenhou em 2009 e que não permitia que os produtores de gás controlassem em simultâneo a distribuição e a venda. O debate pretendeu-se sobre a origem dos gasodutos como o Nord Stream 2 que começam fora da União Europeia e como tal não estão abrangidos por essa norma. Chegando à conclusão que tal directiva não tinha validade jurídica face aos gasodutos já existentes pois já havia acordos comerciais assinados, procurou-se emendá-la. A Comissão Europeia, o Parlamento Europeu e os 28 Estados Membros chegaram então a um acordo que abrangia o novo Nord Stream 2 e futuros gasodutos, mas não os que já existiam. A aplicação da directiva neste caso ficava ao encargo do regulador de energia nacional alemão. Naturalmente, e uma vez que as obras já tinham começado, a Gazprom via assim os seus interesses condicionados pela actualização da directiva. A União Europeia que defende o neoliberalismo dentro de portas, olhando para os interesses ocidentais, procurou condicionar a economia e a criação natural de monopólios. A Gazprom deixaria de dominar o Nord Stream 2 na totalidade e desta feita, alegando que o projecto tinha começado antes da directiva sofrer emendas, alegou que a directiva do gás não se aplicava neste caso e pediu a isenção da regulamentação. A resposta alemã não acompanhou as pretensões da companhia russa uma vez que, à data da aprovação da directiva, o gasoduto ainda não estava terminado. Isto colocava a Gazprom numa situação delicada, pois ou vendia parte da participação no Nord Stream 2 ou teria que arranjar uma subsidiária independente. Com toda esta teia de dificuldades, acrescem ainda as sanções americanas. Seguindo a posição da Administração Bush relativamente ao Nord Stream 1 e a posição da Administração Obama sobre o Nord Stream 2, a Administração Trump não hesitou em acompanhar os seus antecessores. Na tradição do já referido Reagan, em 2017 foi aprovada uma lei nos EUA chamada Countering America's Adversaries Through Sanctions Act (Lei para Contrariar os Adversários da América Através de Sanções) que, na secção 232, define que o Presidente dos EUA pode impor cinco ou mais sanções a quem conscientemente faça um investimento, venda, arrende ou forneça bens, serviços, tecnologia ou informação para a construção de condutas de exportação de energia russa. Não tendo sido logo aplicadas sanções, a lei poderia ser considerada dissuasora. Na ausência de sanções directas, a construção do Nord Stream 2 avançou rapidamente e em 2018 a Noruega permitiu a construção debaixo das suas águas territoriais. Com este desbloqueio tudo indicava que o gasoduto poderia estar terminado em 2020. A reacção americana era obrigatória e em 2019, com o apoio dos Democratas e Republicanos no Congresso, a Administração Trump conseguiu aprovar o Protecting Europe's Energy Security Act (Lei para Protecção da Segurança Energética da Europa), incluído no National Defense Authorization Act (Lei de Autorização da Defesa Nacional), algo digno de uma ingerência directa de seu nome. Os EUA comprovaram assim que no seu Congresso condicionam as decisões de outros países. Esta lei previa sanções directas a todas as empresas que possuíam navios na construção dos gasodutos Nord Stream 2 e TurkStream, acabando no entanto por não afectar este último uma vez que a construção subaquática já tinha terminado. As sanções americanas tiveram efeitos imediatos no Nord Stream 2, obrigando à paragem uma vez que a empresa suíça holandesa Allseas retirou-se do projecto. Os EUA afinaram ainda mais as suas leis e introduziram mais critérios para impedir também relações comerciais. Mais uma vez, olhando para o passado, parece uma realidade alternativa face ao presente. O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, acusou Washington de se imiscuir na política energética europeia e a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também criticou as ameaças às empresas europeias uma vez que, segundo ela, realizavam negócios legítimos. Com todos os impasses, o impensável a determinado momento era a conclusão da construção do Nord Stream 2, mas tal aconteceu em 2021. A conclusão do gasoduto permitiria duplicar o fornecimento de gás para a Europa em 110 mil milhões de m3. A conclusão do projecto deu-se a Setembro mas já em Junho, estando já 95% concluído, os EUA por via do Antony Blinken, Secretário de Estado da Administração Biden, admitiriam que os seus esforços de boicote não tinham sido frutíferos: «Como questão prática, a conclusão física do gasoduto foi, penso eu, um facto consumado» completando com «independentemente de sancionar essa entidade (a Nord Stream 2 AG) e o CEO, isso, a nosso ver, não teria mudado nada em termos da conclusão física». A conclusão de Blinken era a lógica indo ao encontro do momento dadas as evidências e um restabelecimento de boas relações diplomáticas com a Alemanha, apesar de continuar a vigorar a narrativa da segurança energética uma vez que a torneira do gás encontra-se sempre no lado russo. Com o desenvolvimento do Nord Stream 2, os EUA ficavam numa má posição. Começava pela tarefa da Administração Biden de tentar contrariar um declínio relativo cada vez mais claro e passava por ver um rival directo como a Rússia a assumir a dianteira da venda de gás uma vez que o gás natural liquefeito custava mais 40% que o gás natural russo e, como tal, era menos atractivo. Para o Nord Stream 2 passar a funcionar, bastava o tal aval técnico que não seria mais que um aval político de fundo porque constituiria um passo enorme na política energética europeia. Mesmo com o Green New Deal e as metas traçadas de transição energética, o futuro iria passar pelo gás natural. Antevendo dificuldades, os EUA, na busca pela salvaguarda dos seus interesses e com recurso a velhas tácticas de desestabilização e provocação, bem como pela aproximação ao novo governo alemão, procuraram ganhar os seus aliados no quadro da NATO e União Europeia para a única forma de boicotar o Nord Stream 2. A linha passava por unir todos em torno de uma ameaça comum que alegadamente colocaria em causa o modelo de vida ocidental e, através disso, montar uma operação mediática para ter a legitimidade dos povos para determinadas acções e imposição de sacrifícios. Há pelo menos duas declarações que revelam bem um grau de premeditação nas aplicações de sanções mas também a mensagem de que o Nord Stream 2 nunca avançará. Ambas acompanhadas pelos desenvolvimentos na Ucrânia, pois a guerra no país existia desde 2014, já tinha havido um verdadeiro golpe de Estado nesse mesmo ano, que alinhou a Ucrânia ao Ocidente, e os avanços da NATO à volta da fronteira com a Rússia faziam esperar uma resposta russa. Com estes elementos, Biden diz em Fevereiro de 2022, numa conferência conjunta com o Chanceler alemão, que «se a Rússia invadir, isto é, tanques ou tropas que atravessem novamente a fronteira da Ucrânia, então deixará de haver um Nord Stream 2. Acabaremos com isto» e quando um jornalista lhe pergunta como é que o fará, simplesmente reiterou com um «prometo-lhe que seremos capazes de o fazer». Já na declaração oficial do encontro (que é possível ler no site da Casa Branca), Biden revela a táctica. Face às mobilizações da Rússia, começa por dizer que «os Estados Unidos têm trabalhado em estreita colaboração com os nossos Aliados e parceiros para dar uma resposta forte e unificada» e que «a Alemanha tem sido um líder nesse esforço, e temos coordenado de perto os nossos esforços para deter o gasoduto Nord Stream 2 se a Rússia invadisse ainda mais a Ucrânia». Como se tal já não fosse evidente, admite ainda o grau de ingerência afirmando que «após mais consultas estreitas entre os nossos dois governos, a Alemanha anunciou que iria suspender a certificação do gasoduto» e anunciou sanções à Nord Stream 2 AG, complementando com a ameaça «não hesitaremos em tomar outras medidas se a Rússia continuar a escalar». No final da declaração pode-se ler «o Presidente Putin deu ao mundo um incentivo esmagador para se afastar do gás russo e para outras formas de energia» dando já a entender que os EUA esfregavam já as mãos. Os acontecimentos desenvolveram-se e a Rússia inicia o que chama «operação militar especial» em Fevereiro de 2022, mobilizando tropas para as zonas em guerra desde 2014. A partir desse momento há cinco elementos que dominam a situação: a aplicação de sanções à Rússia por parte do ocidente sob a batuta dos EUA; a redução do fornecimento de gás com cortes esporádicos por parte da Rússia; a crise energética evidente acompanhada por uma crise económica, comprovando a teses das crises cíclicas cada vez mais curtas; a degradação de vida dos povos por via de uma inflação especulativa; o envio de milhões de euros para a manutenção da guerra que poderiam resolver problemas urgentes dos povos, revelando os interesses. A guerra que inicialmente foi alvo de uma forte campanha mediática e promoção de uma visão maniqueísta, prolongou-se no tempo. Isto resultou na erosão progressiva, mas lenta, da base social de apoio contra o inimigo comum por via da tal degradação do nível de vida. O próprio Vladimir Putin chegou a dizer que bastava a União Europeia levantar as sanções e o gás iria voltar a circular com normalidade. Algo que a título de exemplo, Judit Varga, ministra húngara da justiça, numa recente entrevista ao Diário de Notícias, até determinado ponto acompanha, dizendo que «(...) não se trata de quem é solidário com a Ucrânia, porque isso é o óbvio. Neste momento, nós precisamos do gás russo. Não tem nada que ver com Putin, nem com a guerra». A União Europeia não tem em cima da mesa grandes soluções. As energias renováveis, a energia nuclear francesa e a transição energética apresentam-se como soluções insuficientes e pouco viáveis. A solução tem passado pela poupança de energia, e definição de tectos de gasto energético, respostas tímidas que vão ficando cada vez mais irrisórias à medida que o Inverno se aproxima. A situação assume grandes traços de complexidade e o mais fácil seria ceder à Rússia levantando algumas das sanções. Eis que então chegamos à actual situação no fornecimento de gás russo. A situação que se configurava delicada mas não irreversível escalou para patamares de incerteza onde a cautela nas acusações deve ser tomada, mas a leitura também tida em conta. As recentes explosões nos quatro canais que perfazem o Nord Stream 1 e 2 são, para além do evidente, acções que configuram o terrorismo em águas altamente vigiadas e ao alcance de poucos. Alguns não hesitaram em dirigir acusações à Rússia. Constate-se que, numa altura em que quase todas as acusações [à Rússia] são quase unânimes, poucos quiseram chegar-se à frente nesta, dada a delicadeza do ataque, a ausência de provas, a desinformação que é usada como uma arma de guerra e tudo o que está em jogo. Consegue-se fazer questões mas pouco mais. Questões como por exemplo: se a torneira está do lado da Rússia, qual é a vantagem em destruir o seu trunfo? Podemos até colocar elementos em cima da mesa como: o dia em que se dá a primeira explosão é o mesmo dia da estreia do novo Gasoduto Báltico que faz a ligação entre a Noruega e a Polónia. Podemos também considerar algo estranha a reação de Radek Sikorski, actual deputado no parlamento europeu e antigo ministro da Defesa e Relações Externas polaco, que agradeceu aos EUA na rede social twitter fazendo acompanhar o agradecimento com uma imagem das águas do Báltico após a explosão. Podemos ainda considerar estranho o facto de, após as explosões, Ursula von der Leyen vir propor «investimento adicional» europeu para acelerar projetos na área da energia. O que sabemos com toda a certeza é que há uma clara sabotagem, o mais provável é ter sido terrorismo de Estado e existe o perigo dos gasodutos não voltarem a funcionar. O que se sabe é que as explosões ocorridas perto da Dinamarca e Suécia, após um relatório entregue às Nações Unidas e elaborado por esses dois países, foram realizadas com recurso a centenas de quilos de explosivos, causando danos que podem ser irreparáveis. De acordo com os especialistas, à medida que não se tapam as fugas, a água salgada vai correndo os tubos, danificando os gasodutos. Sabemos ainda que o que está também em causa é um crime ambiental com proporções enormes uma vez que nunca tinha sido expelido para a atmosfera tanto metano como o registado, algo que não está a ser muito difundido. A leitura do ocorrido não é simples e o jogo clássico de culpas está a acontecer da forma que se desenvolve. Os EUA acusam a Rússia e a Rússia acusa os EUA. Há no meio a União Europeia que tenta reagir, sem agir com vista à solução do conflito e os povos que não sabem o dia de amanhã, num conflito que vai além da Ucrânia e poderá continuar por muitos anos. O elemento de gravidade é o escalar das agressões e provocações que pode traduzir-se em casos ainda mais graves que os das explosões dos gasodutos e ganhar formas catastróficas. Vivemos actualmente a receita para tempos difíceis e perigosos. Um sistema capitalista preso nas suas contradições, que desde 2008 não consegue ultrapassar a crise e vê períodos de estabilidade cada vez mais curtos, graves retrocessos na vida dos povos, uma União Europeia que não abdica do dogma neoliberal e da lógica de confrontação, uma NATO que continua a ser fiel à sua essência e caminha no sentido do alargamento e um bafo fascizante que vem ascendendo alimentado por tudo isto de forma a salvar tudo menos os povos. A segurança dos povos dependerá do grau da sua luta. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
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Nord Stream 1 e 2, as explosões e o futuro energético
Fornecimento de gás para a Europa
Nord Stream 2, as sanções e as ameaças
A actualidade, sanções, explosões e a incerteza
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Numa catástrofe com estas dimensões não cabem hipóteses de negociação à procura da paz – os resultados entretanto alcançados foram descartados pelos súbditos da NATO. É natural que assim seja: como diz o eminente comentador Pacheco Pereira, a paz é um conceito «abstracto».
Tanto quanto se percebe, até as simples conversações informais são proibidas neste contexto. Bastou a Alemanha e a Rússia estabelecerem contactos exploratórios sobre a eventual utilização do gasoduto Nord Stream 2, de modo a estancar as ameaças de um Inverno gelado e dispendioso para os germânicos e logo várias explosões causaram sérios danos nas condutas. É verdade que Radoslaw Sikorski, um parlamentar europeu e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia agradeceu publicamente aos Estados Unidos a «oportunidade» da sabotagem; não menos verdade é a garantia dada pelo presidente Joseph Biden de que o citado gasoduto nunca iria funcionar; também é um facto que o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, considerou a explosão do Nord Stream 2 como uma grande «oportunidade estratégica» para Washington. E continua a dizer-se, porém, que se desconhece quem fez explodir o gasoduto. No entanto, a Suécia, a Dinamarca, a Alemanha e, por inerência, os Estados Unidos, não permitem que a Rússia, país do maior accionista da empresa do Nord Stream 2 (a Gazprom), participe nas «investigações» da ocorrência.
Vingança desde os anos oitenta
É o valor das pessoas, o respeito pelos seus direitos intrínsecos – e que nem sequer deveria ser necessário registar por escrito – que está em causa. Nesta guerra na Ucrânia e em todas as guerras de que agora é proibido falar, da Jugoslávia à Palestina passando pelo Afeganistão, o Iraque, a Síria, a Líbia, o Iémen, o Líbano, a Somália, a África Central, o Saara Ocidental.
Ao que parece, as vítimas destas guerras de expansão e rapina são menos pessoas que as da Ucrânia, com as quais não podem ser equiparadas tanto em termos de «civilização», cor da pele e protectores internacionais. Serão todas «sub-humanas» as vítimas das agressões militares provocadas pelos Estados Unidos e respectivos satélites e também os refugiados delas resultantes?
A guerra na Ucrânia não é um caso isolado, um acontecimento que surja do nada. Há muito que, ao ritmo da implantação do neoliberalismo como sistema de globalização, os direitos e as condições de vida dos seres humanos deixaram de ser referências a respeitar. Espezinhá-los em guerras, em gabinetes governamentais e parlamentos tornou-se banal.
Foi nos anos oitenta do século passado, a década da grande vingança do capitalismo selvagem e do casino financeiro contra quaisquer veleidades sociais e tentativas de «humanização» do capitalismo emergentes da Segunda Guerra Mundial, que a instrumentalização das pessoas enquadradas num sistema com vertentes sociais degenerou em guerra aberta contra essas mesmas pessoas.
«Há muito que, ao ritmo da implantação do neoliberalismo como sistema de globalização, os direitos e as condições de vida dos seres humanos deixaram de ser referências a respeitar. Espezinhá-los em guerras, em gabinetes governamentais e parlamentos tornou-se banal.»
É sabido que em plena guerra fria o colonialismo e o imperialismo, e também as formas de exploração dos seres humanos nas sociedades industriais, estavam condicionadas pela existência de pólos socialistas e até pela expressão organizada de países não-alinhados, que representavam a esmagadora maioria da população mundial.
O fim do sistema socialista, principalmente da União Soviética, da Jugoslávia e do Tratado de Varsóvia, e a consequente institucionalização generalizada do neoliberalismo, com o chamado Consenso de Washington de 1989, marca o início do combate sistemático contra os direitos humanos, sociais e laborais conquistados através do século passado, com a inevitável derrapagem do Estado social para a escravatura envergonhada e a substituição da economia de produção pela da especulação.
O mundo passou a ser gerido pela ditadura do mercado ao serviço de poderes e interesses para quem as pessoas se transformaram simultaneamente em peças descartáveis mas também em empecilhos, sobretudo porque continuavam a agir como cidadãos senhores dos seus direitos – e não desistiam de lutar por eles.
Hoje até esses resquícios de referências humanas ruíram. O desprezo, a insensibilidade, frequentemente o ódio dos governos, organizações e instâncias internacionais pela condição humana transformou-se em política comum, única. A ofensiva esmagadora do sistema globalizado de informação e propaganda montado ao serviço da ditadura do mercado tende a transformar os seres humanos em ilhas indefesas, cada vez mais impedidos de reflectir por si próprios num ambiente de autoritarismo comportamental e de controlo de opinião sustentado por uma democracia apenas formal e manipulada, subproduto da «democracia» incontestável da nação «excepcional», a única «indispensável» no mundo – os Estados Unidos da América.
A institucionalização do neoliberalismo e da ordem mundial unipolar nos escombros da União Soviética, do sistema socialista e da própria organização dos países não-alinhados redinamizou o colonialismo e deu asas militares e económicas ao imperialismo, devolvendo a arrogância e arbitrariedade plenas ao chamado «mundo ocidental civilizado» para impor os seus poderes e interesses.
«O fim do sistema socialista, principalmente da União Soviética, da Jugoslávia e do Tratado de Varsóvia, e a consequente institucionalização generalizada do neoliberalismo, com o chamado Consenso de Washington de 1989, marca o início do combate sistemático contra os direitos humanos, sociais e laborais conquistados através do século passado (...)»
Esse processo concretizou-se através de multiplicação de guerras, da extinção gradual de direitos laborais, sociais e humanos no interior e no exterior da própria zona da «civilização».
Além dos conflitos armados, a guerra contra as pessoas assumiu múltiplas outras formas: extinção de garantias adquiridas, ou pelo menos consignadas nas Constituições e nos programas políticos – incluindo a saúde, a habitação e a educação, a liberdade de informação, de expressão e de opinião; fome, pobreza, ínfimos recursos sanitários, agressões contínuas e sem freios contra o meio ambiente, centenas de milhões de refugiados, dos quais poucos milhares merecem as atenções que lhes são devidas, no caso os ucranianos; desertificação e escassez de recursos de água, possuídos os mais ricos por gigantes transnacionais que embolsam lucros escandalosos; instigação terrorista de diferenças religiosas, rapina e extorsão de matérias-primas, riquezas e bens de primeira necessidade, designadamente pescas, vastos terrenos agrícolas e florestais em todo o planeta.
As transformações conduzidas no âmbito da esfera especulativa imperial/colonial a partir da última década do século passado processaram-se no âmbito de uma designada «ordem internacional baseada em regras», imposta por Washington e seus satélites, e que, na prática, invalida a aplicação do direito internacional, reduzindo organizações como a ONU a um papel marginal ou, em muitos casos, a cúmplice do sistema global.
Trata-se de uma guerra generalizada da qual as vítimas principais são sempre as pessoas – e em todo o mundo.
Mudanças em espelho
A unipolaridade imperial tem vindo a ser desafiada, desde a crise económica de 2008 e da segunda metade da década passada, pela afirmação de forças capazes de transformar a ordem internacional num sentido multipolar a partir de potências emergentes como a Rússia, a China e respectivas esferas de influência, sobretudo em termos económicos, de recursos estratégicos e de afirmação de novas rotas comerciais muito dinâmicas; a essa movimentação agregam-se países e novas situações regionais com dimensões e orientações susceptíveis de marcarem posição num novo cenário de relações transcontinentais, como o Brasil, a Índia, a afirmação crescente do continente africano (perturbando a fluidez do sistema colonial), a alteração das relações de forças no Médio Oriente e a vitalidade económica, tecnológica e populacional da Ásia.
A mudança ocorre, porém, segundo um processo em espelho. Interesses e poderes dominantes batem-se contra interesses e poderes emergentes confrontando-se segundo sistemas económicos afins mas com uma diferença de fundo: especulação financeira dominante contra uma reactivação da produção industrial e tecnológica, esta com base numa imensa superioridade em matérias-primas, recursos humanos e naturais estratégicos. A multipolaridade tem um vigor económico potencial que vai faltando à unipolaridade colonial/imperial.
As transformações em curso são colossais, porém nada trazem de novo na frente da contenção da guerra contra as pessoas. Admite-se que nas áreas mundiais mais populosas venham a ser criadas condições que poderiam servir de base à evolução da qualidade de vida de centenas de milhões de pessoas, mas o mais provável é que a administração dos novos recursos disponibilizados não sirva prioritariamente os seres humanos. Interesses e poderes, rivais ou não, continuarão a mandar e neles – porque o quadro dominante se mantém neoliberal – as pessoas não serão sujeitos mas sobretudo instrumentos – ou mesmo empecilhos, sempre que as condições o exijam. A uma ordem em ruptura não parece corresponder qualquer recuo no caminho da desumanização.
De Hitler, a Zelensky e o Nobel
No âmbito deste enfrentamento de âmbito global surge a guerra na Ucrânia como ponto crítico; e a situação limite criada reforça cada vez mais a ideia de que o mundo inteiro – sobretudo o continente europeu – tem razões para estar aterrorizado com a estratégia de tudo ou nada seguida por ambas as partes.
De ambos os lados das barricadas, de Vladivostoque aos cabos atlânticos da Península Ibérica, quem se preocupa com as pessoas que morrem sob mísseis, de fome ou frio, degradação dos cuidados de saúde, miséria galopante, rajadas de sanções e respectivos ricochetes, penúria de colheitas agrícolas e de energia?
Da mesma maneira que de Leste a Oeste poucos pestanejaram quando o louco útil do Ocidente chamado Zelensky pediu «um ataque nuclear preventivo» contra a Rússia. A antecâmara do «juízo final».
É o nível zero da lucidez e da responsabilidade dos nossos governos e o pico praticamente máximo do risco de extermínio colectivo. E no meio deste drama, o subserviente governo português anuncia, por meio da muito orgulhosa ministra da Defesa, que Lisboa vai mandar para o governo nazi da Ucrânia os seis helicópteros Kamov russos que em tempos Moscovo ofereceu a Portugal para combater os incêndios. A ministra alega que as sanções e a falta de «certificados» impedem a sua utilização. Se morrerem alguns portugueses em fogos florestais por causa da falta de meios aéreos, paciência! Há que cumprir as sanções, violá-las é impensável mesmo que seja para salvar vidas de compatriotas. Tudo para respeitar as ordens de Washington e garantir a sobrevivência de Zelensky e seu regime nazi. Admirável independência nacional!
Há «uma verdadeira guerra contra as pessoas, coisa que eu ainda não tinha compreendido», escreve Theodor Kallifatides dando voz às suas reflexões, conclusões e opiniões – exercendo os mais elementares direitos como ser humano.
«É o nível zero da lucidez e da responsabilidade dos nossos governos e o pico praticamente máximo do risco de extermínio colectivo. E no meio deste drama, o subserviente governo português anuncia, por meio da muito orgulhosa ministra da Defesa, que Lisboa vai mandar para o governo nazi da Ucrânia os seis helicópteros Kamov russos que em tempos Moscovo ofereceu a Portugal para combater os incêndios.»
Se não acordarmos para o mundo que nos cerca por mais quanto tempo poderemos fazê-lo?
A História recorda-nos que, em Janeiro de 1939, o primeiro-ministro da Suécia, Eric Brandt, escreveu uma carta ao Comité Nobel da Noruega sugerindo o nome de Adolf Hitler para receber o Prémio Nobel da Paz. Hitler, «o homem que mais do que ninguém no mundo merece este prémio altamente respeitado»; Adolfo Hitler, o «autêntico combatente pela paz enviado por Deus – e milhões de pessoas de todo o mundo depositam nele as suas esperanças como Príncipe da Paz na Terra» – proclamou o chefe do governo da Suécia.
Era Eric Brandt um nazi? Não, era um social-democrata. Ora sociais-democratas e aparentados da ideologia única integram grupos que recomendam agora Volodymyr Zelensky para o mesmo prémio.
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