A Polícia turca deteve, esta terça-feira, pelo menos dez jornalistas que trabalhavam para meios de comunicação curdos, depois de efectuar buscas nas suas casas e escritórios, em várias províncias do país, refere a agência EFE com base no diário Birgün.
Entretanto, há notícias de mais um jornalista detido – são todos repórteres da Agência de Notícias Curda da Mesopotâmia (MA) e da JINNEWS (Agência de Notícias de Mulheres Curdas), meios multilingues centrados em questões relacionadas com os curdos da Turquia.
Can Güleryüzlü, presidente da Associação Progressista de Jornalistas (ÇGD), disse que os jornalistas detidos ainda não tinham podido estar com os seus advogados e que ainda se desconhecia o motivo das detenções.
«O jornalismo não é um crime. Com estas detenções, buscas em casas e escritórios, procuram criminalizá-lo. Após a lei da censura, que entrou em vigor há uma semana, há muitos jornalistas presos», disse Güleryüzlü num contacto telefónico com a EFE.
O partido de esquerda pró-curdo HDP (Partido Democrático dos Povos) também se posicionou contra as detenções, tendo solicitado a sua libertação na sua conta de Twitter.
«As detenções ilegais dos jornalistas da MA e JINNEWS evidenciam a anarquia alcançada pelo fascismo. Condenamos energicamente estes ataques contra os trabalhadores da imprensa livre; libertem os jornalistas imediatamente», afirmou.
A Turquia aprovou recentemente a chamada «lei da desinformação», que prevê penas de prisão para quem divulgar «falsas informações».
Desde meados deste ano que centenas de jornalistas turcos se mobilizam para condenar esta nova norma – então projecto de lei –, que, em seu entender, pode penalizar quase todos os meios de comunicação que não agradem ao governo.
Em Junho, o presidente da Associação Progressista de Jornalistas alertava que, «uma vez aprovada a lei, será praticamente impossível fazer jornalismo». «Quem decide o que é desinformação? Um tribunal! E já sabemos como decidem os tribunais hoje em dia», disse então à EFE.
A legislação, redigida pelo partido islamista AKP, de Erdoğan, e o seu parceiro de coligação, o ultranacionalista MHP, foi aprovada já este mês e contempla penas de prisão até três anos para os acusados de divulgar «desinformação».
Segundo indica o portal thecradle.co, na actual versão, a lei visa tanto os jornalistas como os utilizadores das redes sociais, que também podem ser acusados. No caso de estes últimos serem suspeitos de «propagar informação enganosa», as empresas das redes sociais teriam de fornecer informação sobre eles, refere a fonte.
De acordo com uma organização não governamental a que thecradle.co faz referência, em 2020, 48 jornalistas estiveram pelo menos um dia detidos na Turquia.
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