Mikhail Kononovich, primeiro-secretário da União da Juventude Comunista Leninista da Ucrânia, e o seu irmão, Aleksander, foram detidos pelos Serviços de Segurança da Ucrânia no início do mês de Março. A perseguição destes jovens dirigentes comunistas foi apenas um primeiro passo na supressão dos direitos políticos na Ucrânia, por decisão do governo de Volodymyr Zelensky.
Ainda não se conhece a situação de Mikhail Kononovich, primeiro-secretário da União da Juventude Comunista Leninista da Ucrânia, e do seu irmão, Aleksander, detidos pelos Serviços de Segurança da Ucrânia. A denúncia partiu da Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD), uma organização, fundada em 1945, que agrega dezenas de movimentos e organizações antifascistas, contra a guerra nuclear e pela defesa da paz, da qual faz parte a União da Juventude Comunista Leninista da Ucrânia, ilegalizada em 2015. Mikhail e Aleksander Kononovich foram sequestrados pelos Serviços de Segurança da Ucrânia (SBU), não sendo possível, lamenta o comunicado da FMJD, descartar a hipótese de que tenham já sido assassinados. Foram acusados, sem que nenhuma prova tenha sido divulgada, de serem simultaneamente espiões russos e bielorussos. Mikhail esteve envolvido nas fortes mobilizações para impedir a privatização de terrenos agrícolas públicos por parte do governo de Volodymyr Zelensky, que permitiria a sua alienação a grupos económicos estrangeiros. Uma manifestação de mulheres e LGBT celebrando o Dia Internacional da Mulher foi atacada por contra-manifestantes neo-nazis no centro da cidade. A manifestação prosseguiu, após intervenção policial. O Dia Internacional da Mulher foi celebrado em Kiev com manifestações convocadas por diferentes organizadores mas que convergiram num único desfile que, segundo a agência ucraniana Uniam, levou cerca de um milhar de manifestantes à praça Mykhayliv, no centro da capital ucraniana. Uma maioria de mulheres mas também alguns homens desfilaram entoando slogans feministas e em defesa da igualdade de género, erguendo a voz «contra a violência doméstica, sexual e psicológica» e exibindo cartazes, em muitos casos artesanais, com palavras de ordem como, por exemplo, «não à violência, assédio, prostituição, violação» e «meu corpo, meu assunto», entre tantas outras. Bandeiras arco-íris do movimento LGBT foram desfraldadas, confirmando a anunciada adesão deste à manifestação. Na sua página no Facebook, a Marcha das Mulheres afirmou que a iniciativa foi preparada para confrontar «a violência da extrema-direita, a violência doméstica, sexual, económica e psicológica», bem como a pressão e a violência da estrutura patriarcal». Diversos manifestantes expressaram à Uniam o seu apoio à Convenção de Istambul1, em particular à protecção das mulheres da violencia que sobre elas se exerce, da luta pela igualdade de oportunidades epela abolição de estereótipos de género. A manifestação decorreu de forma animada e pacífica mas, à chegada à praça Mykhayliv, a Marcha das Mulheres teve de enfrentar uma contra-manifestação de algumas dezenas de oponentes. Homens e mulheres empunhavam cartazes com palavras de ordem como «Deus! Pátria! Patriarcado!», «o feminismo destrói a família ucraniana», e «o feminismo moderno desfigura a imagem divina da Mulher», e bandeiras das organizações neo-nazis Movimento Tradição e Ordem e Frente Nacionalista Cristã. Apesar de separados por um impressionante cordão policial, as altercações sucederam-se entre os dois grupos de manifestantes. Algumas tentativas de agressão foram prontamente reprimidas pela polícia e vários extremistas foram presos, com a a agência Tass a informar da sua libertação, pouco depois dos incidentes. Os participantes na Marcha das Mulheres não desmobilizaram com os confrontos e a manifestação continuou combativa até ao seu final. Uma boa cobertura fotográfica e em vídeo da marcha do evento pode ser encontrada em notícia publicada pelo sítio Informator (legendas apenas em russo e ucraniano). Depois de, em 2017 e em 2018, as celebrações do Dia Internacional da Mulher terem sido atacadas e interrompidas em diversas localidades da Ucrânia, o governo de Piotr Pososhenko recebeu alertas de governos e ONGs para garantir a impossibilidade de se repetirem os acontecimentos. Na véspera, 7 de Março, a Amnistia Internacional (AI) chamou as autoridades ucranianas a garantirem que os participantes nos eventos assinalando o Dia Internacional da Mulher seriam protegidos de actos violentos, publicou a Rádio Europa Livre (Radio Free Europe, RFL), um insuspeito meio de comunicação social do governo norte-americano para o Leste Europeu. Na mesma notícia referia-se que Oksana Pokalchuk, a directora do escritório ucraniano da AI, afirmara que as autoridades ucranianas «falharam a adequada protecção» nesses eventos nos últimos dois anos e que tal conduzira a «ferimentos em pacíficos manifestantes». Não foi a primeira vez que a AI criticou as autoridades ucranianas por falhas no impedimento ou na investigação de «numerosas» violações de direitos humanos cometidos contra activistas, segundo a RFL, em particular sobre os defensores dos direitos da mulher, membros da comunidade LGBT, opositores políticos e minorias étnicas. Em mês de eleições, Poroshenko não quis arriscar as críticas ocidentais e mobilizou para enquadrar os manifestantes um impressionante dispositivo policial, compreendendo centenas de membros da temida polícia de choque ucraniana. A prevenção da AI tinha toda a razão de ser. Apesar de a estação americana não o referir, as semanas que precederam o dia 8 de Março foram férteis em ameaças aos manifestantes, feitas não só pelos neo-nazis mas também por deputados e jornalistas que integram a elite no poder em Kiev. Andrey Manchuk, em artigo publicado no sítio ukraina.ru (em russo), descreveu várias dessas situações. Segundo Manchuk, «nacionalistas ucranianos» colocaram recentemente online um «vídeo escandaloso», «apelando directamente» a represálias contra os participantes nas celebrações do Dia Internacional da Mulher, em Kiev e outras cidades ucranianas. No vídeo, os nacionalistas, de cara descoberta por «conscientes da sua impunidade», como sublinha o articulista, afirmam que «as feministas defendem o ódio aos homens e desrespeitam a nossa Pátria e as tradições culturais e religiosas da Ucrânia». Vão mais longe: «uma feminista não é uma mulher, é uma doença». Na opinião de Manchuk, este verdadeiro «terror anti-feminista» apenas é possível por o establishment político ucraniano ser «extremamente hostil à celebração do 8 de Março», que vê como uma celebração «comunista» e «pró-soviética», hostilidade que estendem à actual Federação Russa, que manteve este feriado, um dos mais importantes no tempo da URSS. «Quanto ao 8 de Março, penso que cada vez mais ucranianos compreendem que não podemos viver no mesmo ritmo do país agressor. Esta sincronicidade na celebração de algumas datas com um país que está a tentar destruir o nosso Estado enfraquece-nos […], lutamos pela sua abolição», cita Menchuk como tendo afirmado Vladimir Vyatrovich, director do Instituto para a Memória Nacional da Ucrânia. Terá ainda muito a fazer para convencer os ucranianos: segundo Manchuk, uma recente sondagem do Canal 24 terá dado 55% dos ucranianos como desejando que o feriado continuasse a realizar-se «como nas décadas anteriores». A elite ucraniana é diferente da maioria da população. Iryna Gerashchenko, presidente da Verkhovna Rada (parlamento), escreveu na sua página que «beberia um copo» no dia 8 de Março para «não o festejar». Manchuk considera esta declaração «particularmente chocante»: o Dia Internacional da Mulher é «universalmente considerado um dos mais importantes» eventos celebratórios, «simbolizando o triunfo do progresso social», esta atitude sendo possível apenas «por o país se encontrar num rumo retrógrado» relativamente ao progresso social. Gerashchenko é membro da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (Parliamentary Assembly of the Council of Europe, PACE) mas esta democrática instituição europeia, que na sua página inicial apela, por ocasião do 8 de Março, para a necessidade de luta contra a violência sobre as mulheres, deve desconhecer não só as afirmações do seu membro como a verdadeira situação na Ucrânia: uma delegação da PACE, que esteve recentemente no país a convite de Gerashchenko, concluiu que «o ambiente geral da Ucrânia deverá permitir a realização de eleições democráticas». A agência Uniam junta-se ao coro contando a «verdadeira» história do Dia Internacional da Mulher. Em artigo citado por Manchuk, a agência noticiosa oficial apresenta-o como o «feriado das prostitutas em protesto», que terá sido dirigido por comunistas os quais, mais tarde, «apresentaram as prostitutas às mulheres trabalhadoras». Este «verdadeiro relato» tem sido amplamente reproduzido nas redes sociais, segundo Manchuk., Para Elena Suslova, da organização patriótica Centro de Consulta e Informação da Mulher, apenas «cerca de 20 países têm este dia como feriado» e, na sua maioria, são «países que votam nas nações Unidas com a Rússia contra a Ucrânia». Todo este ambiente, segundo Manchuk, prepara uma «descomunização» do Dia Internacional da Mulher, «privando-o do seu significado original» de luta e «substituindo-o por uma versão festiva tipo “Dia da Mãe”». Processo que se interrompe neste eleitoral mês de Março por os candidatos não quererem alienar os votos de milhões de mulheres e homens que ainda vêm o 8 de Março como um feriado a manter. Mas a inconveniência da celebração do Dia Internacional da Mulher, para as autoridades ucranianas, vai mais longe do que um simples «complexo anti-soviético». Afinal, conclui Manchuk, cada sua celebração «chama a atenção para a situação das mulheres ucranianas, que mais do que ninguém sofrem com a crise sócio-económica, discriminação e violência» que afectam a sociedade ucraniana enquanto o presidente Poroshenko reúne em Kiev o Fórum Familiar da Ucrânia. «Elas não podem brindar como Gerashchenko, porque perderam os seus empregos, ou têm de trabalhar por tostões e são forçadas a emigrar», sublinha Manchuk, trabalhando em condições penosas como as «da mulher que, no ano passado, deu à luz numa fábrica polaca e tentou matar o filho na casa de banho». Das que «vivem na zona de conflito no Donbass e caem nas redes de escravatura sexual», das que não «têm possibilidade de dar à luz» e são forçadas a abortar «porque pura e simplesmente não têm meios de manter os filhos». Ou das reformadas «forçadas a viver no limiar da sobrevivência». A tragédia de todas estas mulheres, conclui Manchuk, mostra a «crescente urgência» de celebrar o 8 de Março na Ucrânia. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O número de assassinatos com motivos políticos tem vindo a crescer na Ucrânia desde o início da guerra. São exemplo, nos últimos dias, os casos de Maxim Ryndovskiy, um atleta de MMA (artes marciais mistas), torturado e assassinado por um grupo neo-nazi em Kiev, e Denis Kireev, que havia participado, em nome da Ucrânia, nas negociações com a Federação Russa, assassinado sumariamente pelos SBU. «A FMJD convoca as suas organizações membros, toda a juventude e pessoas de todo o mundo a expor esta situação», exigindo, junto das representações diplomáticas da Ucrânia, por todo o mundo, acção no sentido de travar um possível assassinato, sem julgamento nem possibilidade de defesa, violando os princípios da declaração universal dos direitos humanos. Em Portugal, a Juventude Comunista Portuguesa (JCP), filiada na FMJD, denunciou, em comunicado, o «hediondo acto» cometido pelos SBU, exigindo o assegurar da «integridade física dos dois dirigentes juvenis» e o fim «desta criminosa detenção». «O caminho da paz, que a juventude e os povos do mundo reclamam, não se faz com o corte de direitos fundamentais nem com mais armas, violência e destruição», argumentam os jovens comunistas, «a solidariedade e ajuda aos povos que sofrem as dramáticas consequências da guerra não pode ser confundida com a legitimação da xenofobia, da violência, da censura e discriminação». «A juventude, e em particular os jovens comunistas ucranianos, que viram o Partido Comunista da Ucrânia ser alvo de um processo de ilegalização em 2015, podem contar com a profunda solidariedade da JCP e dos jovens comunistas portugueses», reafirmando, uma vez mais, a necessidade de pôr termo à guerra. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Sequestrados dois dirigentes da Juventude Comunista da Ucrânia
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8 de Março: marcha de mulheres enfrenta neo-nazis em Kiev
Manifestantes atacados, polícia interveio
Um impressionante dispositivo policial
A elite e os neo-nazis contra os direitos da mulher
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«Liberdade para Mikhail e Aleksander Kononovich!»
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Agora, «após meses de abuso, tortura e violação dos seus direitos cívicos num centro de detenção em Kiev, a pretexto de uma falsa acusação com um claro viés ideológico, a única solução é a sua libertação incondicional e o fim da repressão e perseguição política da oposição», defende a Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD).
A campanha de solidariedade, convocada para a próxima semana, tem como objectivo aumentar a pressão social, «à escala global», pela libertação dos irmãos Kononovich, que pertencem a uma organização que integra a FMJD: a ilegalizada Juventude Comunista Leninista da Ucrânia.
«Apelamos a todos os jovens anti-imperialistas e antifascistas que redobrem os seus esforços e a sua solidariedade» nesta campanha. O apelo, dirigido à juventude, sugere a dinamização de acções nas ruas, pressionando «as instituições e embaixadas ucranianas nos nossos países».
Ainda antes da invasão russa, Mikhail esteve directamente envolvido nas fortes mobilizações populares para impedir a privatização de terrenos agrícolas públicos por parte do governo de Volodymyr Zelensky, que permitiria a sua alienação a grandes grupos económicos estrangeiros.
A Federação Mundial da Juventude Democrática foi fundada em 1945, agregando dezenas de movimentos e organizações antifascistas contra a guerra nuclear e na defesa da paz. A Juventude Comunista Portuguesa (JCP) integra a FMJD, em Portugal.
As acções e declarações de apoio no âmbito desta campanha já estão a ser divulgadas nas redes sociais através do hashtag #FreeKononovich.
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