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EUA: preocupação com os custos leva adultos mais velhos a evitar urgências

Mais de 20% dos norte-americanos com idades entre os 50 e os 80 anos evitam procurar cuidados médicos de emergência devido aos custos, revela um estudo agora publicado.

Créditos / The Hill

Dos mais de 2000 cidadãos norte-americanos inquiridos, a maior parte manifestou preocupações com os custos de uma eventual ida a uma urgência, por causa dos custos, refere o periódico The Hill, com base nos resultados da investigação publicada dia 16 em The American Journal of Managed Care.

Os mais propensos a evitar uma ida às urgências são indivíduos na faixa etária dos 50 e dos 60 e poucos anos, os que não têm cobertura de seguro, os que têm rendimentos mais baixos e os que dizem ter uma saúde mental normal ou má.

No estudo agora publicado, realizado em Junho de 2020, os autores afirmam que a Covid-19 colocou muita pressão sobre as finanças de muitas casas norte-americanas, e os dados mostram que, em 2022, as despesas com a saúde atingiram os níveis mais elevados desde 1985.

Nas conclusões do estudo, afirma-se que 80% dos adultos se mostraram preocupados com os custos de uma ida às urgências (com 45% a manifestarem grande preocupação).

«Como médica de urgências, vejo pacientes que chegam à unidade depois de terem adiado a vinda. Muitas vezes, chegam mais doentes do que estariam se tivessem recebido cuidados médicos antes», disse num comunicado a autora principal do estudo, Rachel Solnick, da Escola de Medicina Icahn, em Nova Iorque.

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Norte-americanos têm mais dificuldades em pagar as contas do que na pandemia

O número de cidadãos norte-americanos que têm dificuldades em pagar as contas é hoje maior do que no pico da pandemia de Covid-19, em 2020, revela o Gabinete de Censos dos EUA.

Cartaz colado na baixa de Seattle, estado de Washington, EUA, pede a suspensão do pagamento de rendas, a 26 de Março de 2020 
CréditosStephen Brashear / EPA

A percentagem que declara estar a ter dificuldades para pagar as suas despesas ultrapassou os níveis registados no pico da Covid-19, há dois anos, revela uma pesquisa da entidade responsável pelos censos (US Census Bureau), sublinhando o peso financeiro dos aumentos de preços nos orçamentos familiares.

Na pesquisa, realizada no final de Junho e no início deste mês, quatro em cada dez adultos afirmam que tem sido algo ou bastante difícil cobrir as despesas domésticas habituais.

É o número mais elevado de cidadãos que expressam dificuldades desde que o Censo começou a colocar a questão, em Agosto de 2020, indica o portal bloomberg.com.

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Filas da fome em Nova Iorque: mais de 1,5 milhão dependem de ajuda

Cerca de 1,5 milhão de nova-iorquinos recorrem aos bancos alimentares para conseguir sobreviver. A pandemia agravou a desigualdade e a pobreza nos EUA: mais oito milhões de pobres desde Maio.

Créditos / @CityHarvest

A pandemia do novo coronavírus trouxe à tona as debilidades do sistema sanitário e económico nos Estados Unidos da América. Milhões ficaram sem trabalho e viram-se em situação de pobreza. As desigualdades inerentes ao sistema aprofundaram-se e Nova Iorque foi e é uma das cidades mais afectadas.

Na Primavera, numa das fases de maior impacto do surto, muitos agricultores do estado de Nova Iorque viram-se forçados a parar as colheitas ou a deitá-las fora, ao deixarem de ter como escoar a produção, na sequência do encerramento da grande maioria das lojas e restaurantes que abasteciam.

Em Nova Iorque, muitos trabalhadores perderam o emprego e ficaram sem rendimentos, tendo começado a recorrer aos bancos alimentares da cidade para fazer frente à fome e sobreviver.

As filas que então se viam junto aos bancos alimentares – e que hoje continuam a existir – «mostraram que as políticas alimentares para a cidade mais habitada do país eram insuficientes», afirma o portal lacalletv.com, e deixaram ver igualmente que o estado «nunca esteve preparado» para «enfrentar uma crise desta dimensão», também a nível sanitário, «embora o governador Cuomo tenha então afirmado que Nova Iorque tinha o melhor sistema de saúde do país».

Actualmente, cerca de um 1,5 milhão de nova-iorquinos dependem dos bancos alimentares da cidade para poderem subsistir, revelou uma reportagem recente do diário espanhol El País.

Entre Março e Agosto, com a crise sanitária, os bancos alimentares nova-iorquinos receberam 12 milhões de visitas, cerca de três milhões ou 36% mais que o registado em igual período do ano anterior, segundo revelou a organização não governamental City Harvest.

«Não falamos de indigentes, mas de gente que tinha dois, três trabalhos precários»

A procura de comida grátis é tal que foi criada uma aplicação online para procurar despensas comunitárias por zonas. Estes dados são reveladores da dimensão da crise que a cidade atravessa, num caldo em que se misturam pandemia de Covid-19, capitalismo, desigualdade, desemprego e pobreza.


Neste contexto, a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, realizou um estudo segundo o qual pelo menos oito milhões de norte-americanos passaram a viver em situação de pobreza desde Maio último, quando terminou o plano de ajudas económicas, como um cheque de 1200 dólares e um subsídio extra mensal de 600 dólares para os desempregados.

Em declarações ao jornal espanhol, Jessica Ramos, senadora democrata pelo estado de Nova Iorque, expressou a dimensão «preocupante» da pobreza na cidade: «Não falamos de indigentes, mas de gente que tinha dois, três trabalhos precários, e hoje, no melhor dos casos, são vendedores ambulantes e com isso não podem alimentar a sua família», disse, referindo-se ainda a «muitas pessoas que, por não terem documentos, não podem pedir ajuda».

«Ainda que a pandemia seja uma novidade, não o é o défice estrutural, ignorado durante demasiados anos, e que a Covid apenas ajudou a pôr em destaque», afirmou.

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Isto significa que há mais de 90 milhões de famílias com problemas nos Estados Unidos, quando há um ano eram 60 milhões.

Quando o Gabinete de Censos colocou a questão pela primeira vez, em 2020, um terço dos inquiridos afirmaram estar a passar por dificuldades para pagar as despesas domésticas comuns.

Depois, esse número caiu, mas, quando a ajuda governamental terminou e a inflação se impôs, o número de pessoas a declarar dificuldades voltou a aumentar, há cerca de um ano.

A 1 de Setembro termina a moratória sobre a cobrança de dívidas a estudantes, declarada no âmbito da Covid-19, pelo que se estima que milhões de lares passem a debater-se com uma despesa extra, refere a fonte.

De acordo com a pesquisa, o «stress financeiro» aumentou significativamente nas grandes áreas metropolitanas do país. Em Dallas, por exemplo, a percentagem de inquiridos que declaram ter dificuldades em pagar as contas subiu de 27,9%, há um ano, para 45,9%. Em Detroit, registou-se um aumento de quase 20 pontos percentuais no mesmo período.

Um relatório recente do Controlador do estado de Nova Iorque, Thomas DiNapoli, revelou que um em cada oito residentes tinham pagamentos de facturas de serviços públicos em atraso, a partir de Março. Mais de 1,2 milhões de utentes devem 1,8 mil milhões de dólares, neste estado da Costa Leste, sendo que os residentes na cidade de Nova Iorque representam 68% do total.

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Em Portland, antes comida a apodrecer do que na barriga dos necessitados

Cerca de uma dezena de polícias enfrentaram, esta terça-feira, um grupo de pessoas que tentavam retirar do lixo a comida que um hipermercado tinha deitado fora na cidade de Portland, no Noroeste dos EUA.

Uma pessoa com comida retirada de um contentor junto a uma loja da Fred Meyer, em Portland, EUA, no dia 16 de Fevereiro de 2021
CréditosJuniper Simonis / Twitter

Na terça-feira, funcionários de uma loja da cadeia Fred Meyer, localizada no bairro de Hollywood, em Portland, tiveram de deitar fora milhares de produtos perecíveis porque a loja, como outras na região, foi afectada por um apagão que a deixou sem electricidade, na sequência de uma tempestade.

Nas redes sociais, surgiram imagens e vídeos de dois grandes contentores cheios de comida embalada, pacotes de sumo e produtos lácteos.

Por volta das 14h30, começaram a aparecer pessoas com o intuito de levar alguns dos produtos desperdiçados. Mas, pouco tempo depois, várias pessoas reportaram a presença de agentes da Polícia de Portland junto aos contentores, para as impedir de retirar a comida.

De acordo com a Polícia, os agentes responderam a uma chamada de um funcionário da Fred Meyer, cerca das 16h, na qual este terá afirmado que a situação estava a «ficar fora de controlo». Ainda segundo a Polícia, quando os agentes chegaram ao local, o funcionário disse-lhes que «a comida estava estragada e imprópria para consumo ou doação».

Por seu lado, Morgan Mckniff, residente no bairro, disse que os empregados já estavam a guardar os contentores quando as pessoas apareceram para levar a comida para ali atirada. Então, começou a filmá-los e estes ameaçaram chamar a Polícia – algo que o responsável da loja fez pouco depois, informa The Oregonian.

Ter-se-ão juntado umas 15 pessoas no local, segundo o residente em Hollywood, que acusa a Polícia de ter ido para ali para impedir que elas pudessem levar a comida.

Uma atitude difícil de «racionalizar»

Juniper Simonis, bióloga e jornalista que acorreu ao local para documentar a presença policial, disse que, quando apareceram, os agentes ameaçaram prender quem ali estava e que as pessoas foram para o outro lado da rua, informa o jornal.

Depois de lhes mostrar a carteira de jornalista, Simonis aproximou-se para tirar fotografias, mas a Polícia ameaçou detê-la se não se fosse embora. «Eu estava a documentar a Polícia, não o que estava nos contentores», disse Simonis a The Oregonian.

Os agentes acabaram por se ir embora e, por volta das 18h30, cerca de duas dezenas de pessoas regressaram aos contentores, levando cada qual vários produtos. Os funcionários do Fred Meyer voltaram a chamar a Polícia, mas esta não voltou ao local.

Simonis disse que a comida estava ainda em boas condições, até por causa do muito frio. Tanto ela como Mckniff sublinharam que tentar impedir as pessoas de levar a comida dos contentores é revelador do valor que a cidade atribui à ajuda a quem dela necessita.

As pessoas apareceram porque, com a tempestade e o apagão, muitos ficaram sem nada nos frigoríficos. Simonis sublinha ainda que havia pessoas ali «sem ser por razões egoístas» e que algumas pessoas junto dos contentores fazem parte de grupos que dão ajuda e recursos em centros de acolhimento.

Para a jornalista, é difícil «racionalizar» a acção da Polícia e da loja. «Nada disto faz sentido excepto através da lente do policiamento severamente arraigado e de uma cultura de desrespeito pela dignidade humana», disse.

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Em média, os residentes do estado de Nova Iorque passaram a dever o dobro em dois anos: 768 dólares, em Março de 2020; 1467 dólares em Março último.

«Os efeitos da pandemia continuam a ser sentidos em múltiplos aspectos da vida, incluindo o elevado número de nova-iorquinos que continuam a ter problemas em pagar as suas contas de serviços públicos», disse DiNapoli no relatório.

A nível dos EUA, os dados da mais recente pesquisa do Censo mostram que mais de um terço dos lares reduziram ou evitaram despesas em necessidades básicas, como medicamentos ou alimentação, para pagar facturas de energia.

Além disso, mais de uma em cada cinco famílias mantiveram as suas casas a temperaturas que pareceram inseguras ou não saudáveis pelo menos um mês; uma fatia semelhante não foi capaz de pagar pelo menos uma parte de uma factura de energia.

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«Estes resultados evidenciam a importância de reduzir o número de pessoas sem seguro e a necessidade de que as seguradoras comuniquem claramente a cobertura dos serviços de emergência», acrescentou.

De acordo com o estudo, os norte-americanos mais velhos enfrentam um risco mais elevado de insegurança económica. Isto, em conjunto com dados que mostram que metade deles não consegue fazer frente às despesas básicas, aponta para uma maior dificuldade desta população em enfrentar um custo inesperado com a saúde.

O estudo, refere The Hill, foi realizado antes da aprovação da Lei Sem Surpresas, que visa evitar a «cobrança surpresa» por tratamentos de urgência quando alguém recebe cuidados fora da sua rede de seguro. No entanto, os autores destacam que a lei deixa espaços sem cobertura.

Também existem os programas Medicare (que dão cobertura a pessoas com deficiência e com 65 anos ou mais) e Medicaid (cobertura a pessoas com menos recursos). Ainda assim, destacam os autores, o impacto financeiro de uma ida às urgências é uma preocupação para os norte-americanos, sobretudo «para os que ainda não atingiram a idade em que podem ter ajuda do Medicare e não se enquadram nos limites dos rendimentos do Medicaid».

Os investigadores sugerem que as políticas futuras devem ajudar a reduzir as despesas directas da população vulnerável.

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