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Crise no Texas mostra como os EUA não conseguem proteger as pessoas

A lógica é fazer dinheiro, em vez de instalar equipamentos de alta qualidade; fazer o mínimo para garantir que o lucro é maximizado. Foi por isto que a crise do Texas aconteceu, afirma o autor Tom Fowdy.

Créditos / National Herald

A debilidade das infra-estruturas nacionais dos EUA saltou à vista esta semana, mais uma vez, com os apagões no Texas – consequência inevitável de Washington gastar o seu dinheiro em bombas em vez de o investir em serviços públicos, afirma o escritor britânico Tom Fowdy num artigo ontem publicado no portal da RT.

Depois de uma onda de frio inesperada e temperaturas abaixo de zero, partes do segundo maior estado dos EUA enfrentam uma crise sem precedentes, sem electricidade e água durante vários dias, e com as cadeias de abastecimento alimentar submetidas a uma enorme pressão. Pelo menos 24 mortes foram registadas.

As imagens de longas filas e prateleiras vazias em lojas de comida fazem lembrar cenas de países contra os quais a América decretou sanções ou há muito gozados por serem socialistas, refere o autor. No entanto, à medida que o estado luta para descongelar, essa não é a única coisa que está congelada – também o está a resposta de Washington. O que é que o governo federal e o Congresso estão a fazer? Nada, diz o autor.

Tendo como pano de fundo a pandemia de Covid-19, que levou perto de meio milhão de vidas, os EUA parecem quase incapazes de responder adequadamente a desastres naturais e ambientais no seu próprio território, nota.

Fowdy afirma que tais falhas são espantosas para um país que lida com uma máquina de guerra militar global, para sublinhar que os dois factores não surgem ao acaso e lembrar que este tipo de má gestão na América não é uma novidade, antes uma parte integrante do seu sistema político e social, em que o mercado livre é religiosamente anteposto ao bem público, e o compromisso com as armas e as bombas é maior do que com as pessoas comuns.

«Muito governo é mau» é há muito o lema de muitos políticos americanos, afirma o também analista político, destacando que nos EUA se acredita de forma quase religiosa que o mercado livre é a virtude das virtudes e que naturalmente dará conta de toda a procura pública de muito melhor maneira do que o Estado alguma vez será capaz.

Como consequência, as infra-estruturas que existem nos EUA são por norma administradas em função do «lucro». Lucrar é visto como mais importante que servir o máximo possível de pessoas da forma mais acessível e melhor.

O autor considera os hospitais um bom exemplo – pode haver em abundância, mas têm donos privados e os custos dos cuidados médicos são muitas vezes astronómicos. Da mesma forma, os EUA continuam a ter uma infra-estrutura pobre de linha ferroviária de alta velocidade, porque a despesa governamental nesta área está também sujeita a pesados constrangimentos políticos, e os transportes são dominados pelos incentivos «para o lucro» das indústrias automóvel e aérea.

Isto significa que, embora os Estados Unidos tenham os serviços e os meios, estes se revelam muitas vezes incompletos e de má qualidade ao serem aplicados, a não ser que se tenha dinheiro, claro.

Foi por isto que a crise do Texas aconteceu. Se a região é habitualmente amena e o tempo rigoroso foi inesperado, o especialista em temas políticos acha que vale a pena lembrar que a infra-estrutura energética dos EUA também é privada, «para o lucro» de uma empresa.

A lógica é fazer dinheiro, em vez de instalar equipamentos de alta qualidade; fazer o mínimo para garantir que o lucro é maximizado. É assim que um único episódio de mau tempo pode ser suficiente para fazer descarrilar todo um sistema.

Tom Fowdy destaca a ausência de consequências políticas – algo que não é novo, que sempre assim foi na América, porque o sistema não tem interesse em fornecer serviços públicos às pessoas – e sublinha como o orçamento militar assume valores gigantescos todos os anos. Já a Saúde e as infra-estruturas não fazem parte das prioridades.

Esta situação – frisa – está em completo contraste com a da China, onde o Estado investe de forma agressiva nas infra-estruturas a um ritmo constante, como um bem público e um meio de desenvolvimento económico. Deste modo, a China, um país em desenvolvimento e na pobreza há 40 anos, apresenta hoje uma rede de transporte e de infra-estrutura pública à frente da dos EUA.

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