Milhares de enfermeiros estiveram em greve em Inglaterra, no País de Gales e na Irlanda do Norte, esta terça-feira, depois de o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, ter insistido que não iria recuar perante a vaga de greves no país. O que Sunak assegurou, na Letónia, é que o empenho britânico na guerra na Ucrânia se vai manter firme em 2023.
A greve de ontem – o segundo dia em menos de uma semana, depois de, na sua história, o pessoal da enfermagem britânico nunca ter levado a cabo uma greve a nível nacional – visava lutar pela defesa das condições de trabalho e de vida.
Com a taxa de inflação em níveis sem precedentes nos últimos 40 anos, os sindicatos alertam que as pessoas estão a passar mal, e o Royal College of Nursing (RCN) disse que alguns dos seus membros se viram obrigados a recorrer a bancos alimentares.
Outro elemento para o qual os sindicatos envolvidos na luta apontam é a preocupação com as actuais condições do NHS (sistema público de saúde britânico) e o serviço que presta aos utentes. A este respeito, Pat Cullen, secretária-geral do RCN, disse que estas greves são «uma batalha pela alma absoluta do NHS, para o retirar da beira e da queda total no precipício», indica o The Guardian.
Mobilização e apoio nas ruas
Em Londres, realizou-se uma manifestação conjunta, até à residência oficial do primeiro-ministro, convocada por organizações de trabalhadores e de defesa do carácter público do NHS.
Pelo país fora, junto a várias unidades hospitalares, os trabalhadores em greve foram saudados pela população, refere o periódico Morning Star.
À entrada do Royal Liverpool University Hospital, a enfermeira Danielle McLaughlan destacou o apoio das pessoas ao piquete de greve e disse que a paralisação tinha tanto a ver com o facto de as enfermeiras não poderem viver com o que ganham como com o facto de «os pacientes estarem em risco», devido à falta de pessoal.
«Os enfermeiros estão cansados e tristes porque não podem prestar os cuidados que querem», lamentou.
Num outro piquete, junto ao St Thomas' Hospital, em Londres, a enfermeira Anu Kapur, de 35 anos, disse que o salário «não corresponde» ao nível de trabalho que lhe é exigido a ela e aos seus colegas, e mostrou-se preocupada com as consequências da falta de pessoal para a saúde dos utentes.
«Tratam-nos com desprezo»
Jane, enfermeira igualmente presente no piquete junto ao St Thomas' Hospital, criticou o governo por não se empenhar nas negociações com o RCN.
«Sinto que estão distantes, daquilo por que estamos a passar, que nos desprezam e que não se interessam e, dessa forma, não se interessam também pelos utentes», denunciou.
Tal como a sua colega, destacou a falta de pessoal, a carga de trabalho, a exaustão e o «sentir-se desmoralizada», na medida em que acaba muitos turnos com «a sensação de que não fez aquilo que devia», porque há demasiados pacientes para poucos enfermeiros.
«Porque estão sobrecarregados com trabalho e são mal pagos, muitos estão a deixar a profissão que amam», disse ao periódico.
Se não houver respostas, greves continuam
Falando num piquete em Newcastle, a secretário-geral do RCN, Pat Cullen, pediu ao primeiro-ministro que «intervenha agora e faça o que é correcto», tanto para os utentes do NHS como para os profissionais da enfermagem.
Entretanto, avisou que, até sexta-feira, o sindicato vai anunciar as datas e os hospitais para uma greve em Janeiro, e que a bola está do lado de Sunak.
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