|desregulação de horários

Coreia do Sul: liberais falham aumento da jornada de trabalho para as 69 horas

O governo neo-liberal tinha a solução para os problemas dos jovens trabalhadores sul-coreanos nas mãos: instituir as 69h de trabalho semanais (cerca de 14h diárias) para alcançar uma «maior flexibilidade».

Yoon Suk-yeol, eleito presidente da Coreia do Sul em 2022 
Créditos / TheDiplomat

Eleito presidente a 9 de Março de 2022, Yoon Suk-yeol, do conservador e neo-liberal Partido do Poder Popular, tratou rapidamente de encontrar respostas necessárias exigidas pela sua base de apoio: quando as grandes empresas se queixaram de que o actual limite máximo de 52 horas de trabalho semanais estava a dificultar o cumprimento de prazos, Suk-yeol achou a sua resposta.

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Distribuidores sul-coreanos em greve contra o trabalho em excesso

Um sindicato que representa os distribuidores de embalagens na Coreia do Sul convocou uma greve para esta quarta-feira, tendo em conta as negociações estancadas com o governo e empresas de logística.

Trabalhadores da distribuição sul-coreanos protestam contra o excesso de trabalho, exigem melhores salários e a implementação total de um acordo alcançado com as empresas do sector da logística em Janeiro 
Créditos / Yonhap

Na sequência de um plenário realizado esta terça-feira, a União Solidária dos Trabalhadores de Distribuição de Embalagens afirmou que os seus cerca de 2100 filiados iam fazer greve por tempo indeterminado a partir desta quarta-feira, refere a agência Yonhap.

O sindicato quer a implementação total do acordo alcançado em Janeiro com o governo e as empresas de logística, em virtude do qual as empresas se comprometeram a contratar mais trabalhadores para classificar e etiquetar os volumes.

Os dirigentes sindicais afirmaram que as negociações fracassaram depois de a associação da área dos serviços de entrega não ter participado na reunião realizada esta terça-feira e porque as empresas continuaram a exigir o adiamento, por um ano, da implementação do acordo.

Desde segunda-feira passada, os trabalhadores da distribuição recusaram-se a classificar as embalagens e atrasaram o início da jornada laboral por duas horas, apresentando-se ao serviço às 9h e começando a trabalhar às 11h, de modo a entregarem apenas os artigos que já haviam sido etiquetados.

Os trabalhadores denunciam o facto de a etiquetagem antes da entrega não ser paga, bem como o excesso de trabalho e as longas jornadas laborais.

Para manifestarem a sua determinação e exigirem melhorias nas suas condições laborais, trabalhadores da distribuição filiados na Confederação Sul-coreana de Sindicatos (KCTU, na sigla em inglês) realizaram um protesto em Seul, ontem de manhã, indica a Yonhap.

Turnos longos, exaustão e pouco dinheiro

O acordo alcançado em Janeiro, que as empresas não estão a querer levar à prática, teve lugar depois de 16 distribuidores terem morrido só o ano passado, de acordo com a contagem dos sindicatos, que denunciam turnos de 12 horas, seis dias de trabalho por semana e o baixo pagamento por cada entrega efectuada.

Alguns distribuidores chegaram a trabalhar 21 horas num dia, houve mortes por exaustão, com ataques cardíacos, num período – o da pandemia – em que os serviços das empresas do sector registaram grande procura, divulgou então a imprensa.

Segundo o convénio acordado este ano, as empresas líderes na área da logística decidiram assumir a responsabilidade de etiquetar e classificar as embalagens contratando mais funcionários para o efeito, pagando o trabalho extra e também promovendo a automatização do trabalho.

Os distribuidores exigem ainda trabalhar cinco dias por semana, a diminuição da carga laboral e aumentos salariais.

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Ao aumentar os horários de trabalho para as 69 horas, o Governo sul-coreano defendeu estar a fazer um grande favor aos jovens trabalhadores, nomeadamente às mulheres, que poderiam acumular mais horas extraordinárias e trocar por folgas. Isso seria uma grande vantagem para as mulheres, considerou o ministro do Trabalho, Lee Jung-sik: poderiam, mais tarde, usar as folgas para resolver compromissos familiares e prestar cuidados.

«Podemos resolver problemas sociais graves, tais como o rápido envelhecimento da população e a baixa taxa de natalidade, permitindo às mulheres escolherem as suas horas de trabalho de forma mais flexível», defendeu o ministro.

Curiosamente, a medida foi rechaçada pelas organizações sindicais, a Associação de Mulheres Coreanas Unidas e de dezenas de milhares de jovens que contestaram as medidas nas ruas. Por outro lado, curiosamente, as empresas dos sectores da construção, tecnologias e produção acolheram favoravelmente a proposta de uma semana de trabalho mais longa.

Que trabalhador nunca sonhou com horários das 9h da manhã à meia-noite durante cinco dias seguidos. «Não há qualquer consideração pela saúde ou descanso dos trabalhadores», defende a Confederação Coreana de Sindicatos, em comunicado.

Por enquanto, as ruas conseguiram impedir o avanço desta proposta. Na semana passada, o Governo de Yoon Suk-yeol cedeu às reivindicações populares e retirou o projecto.

De acordo com dados da OCDE, os sul-coreanos já trabalham 199 horas acima da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (organização económica intergovernamental de 38 países ocidentais e aliados, fundada em 1961 para estimular a economia e o comércio mundial).

Ao longo de um ano, um trabalhador na Coreia do Sul passa, em média, 1915 horas a exercer a sua profissão: praticamente 80 dias, num ano, inteiramente (24h) dedicados ao trabalho.

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