A juventude continua na primeira linha da exploração, continuam a proliferar os vínculos precários, a sua normalização e a ideia de que a instabilidade profissional faz parte do conceito de juventude.
A precariedade é transversal a todos os sectores. Se é muito destacada – e sempre com tentativas de justificação por parte do patronato – no turismo, na restauração, no comércio ou nas telecomunicações, ela não se fica por aí: foi há muito aberto caminho largo para a massificação dos falsos recibos verdes, dos contratos ao mês, ao dia e à hora em sectores como a cultura, a investigação, a administração pública e por aí fora.
Entretanto é o caminho do jovem trabalhador que se estreita cada vez mais: os salários que não chegam para o mês – ao lado dos lucros que nós mesmos produzimos – os horários desregulados, trabalho por turnos, nocturno e aos domingos e feriados que não nos deixam viver a nossa vida por completo, o empobrecimento de quem trabalha todos os dias, quer trabalhar, e não consegue pagar a renda, as contas e comer.
A situação da juventude agravou-se muito e muito rápido; todas as desculpas servem para agravar a exploração, seja a pandemia, ou a guerra, ou qualquer outra situação que aproveitem.
Agora quem paga, são sempre os mesmos.
A indignação que nos chega ao sistema nervoso ao ver os donos da grande distribuição felizes com a descida do IVA nos bens essenciais – porque sabem que os lucros permanecem intocáveis – as lágrimas de crocodilo quando os acusam de especulação, as medidas da habitação que vão continuar com o que temos agora: mercado para ricos que nos deixa longe do trabalho, sem independência.
«A situação da juventude agravou-se muito e muito rápido; todas as desculpas servem para agravar a exploração, seja a pandemia, ou a guerra, ou qualquer outra situação que aproveitem.»
A indignação que sentimos ao ler a notícia das 1395 trabalhadoras grávidas ou mães recentes que foram despedidas em 2022, a indignação de quem vê negado o seu desejo e direito a ser mãe e pai, só pode ser canalizada num caminho.
A indignação que sentimos ao não encontrarmos uma casa para viver e termos de adiar sair de casa dos pais e emanciparmo-nos porque o salário não chega.
O caminho só pode ser um: engrossar a luta nas empresas, nos locais de trabalho, na rua.
Pelo aumento do salário de miséria como fazem os trabalhadores da Hutchinson – onde quatro jovens trabalhadores foram despedidos no dia em que participaram num plenário - como fizeram os trabalhadores do MAAT ou os assistentes de sala do Teatro Nacional São João no Porto.
Lutam aqueles que, com anos de trabalho nos bares da CP, não têm o seu vínculo à empresa onde todos os dias trabalham – lutam porque sabem que é justa a sua luta, e os jovens trabalhadores estão solidários e vão levar toda esta indignação às ruas de Lisboa e de Gaia, hoje.
Como disse no início, razões não nos faltam – e não nos faltará a força!
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