O trabalho, considerado um dos mais abrangentes sobre o tema no Reino Unido em décadas, foi dirigido por Nissa Finney, professora de Geografia Humana em St Andrews. Nele se revela que mais de um terço das pessoas pertencentes a grupos minoritários sofreram humilhações e ataques físicos.
O estudo, que integra o volume Racismo e Desigualdade Étnica em Tempos de Crise – apresentado esta semana –, foi elaborado ao longo de dois anos, tendo constatado a elevada prevalência da desigualdade e da discriminação racial em áreas como o trabalho, a educação, a habitação e a interacção com a Polícia.
Negros e asiáticos podem estar a pagar uma «penalização étnica» de pelo menos 330 euros por ano no seu seguro automóvel, revela uma investigação realizada ao longo de um ano pela organização Citizens Advice. Num relatório agora publicado, o organismo diz que a sua investigação descobriu uma «tendência chocante» de minorias étnicas que pagam muito mais pela cobertura automóvel que as pessoas brancas, sendo que, nalguns locais, a penalização ultrapassou os 1100 euros. Em colaboração com a agência de investigação Europe Economics, a Citizens Advice levou a cabo 649 operações de cliente mistério relativas a quotizações de seguro automóvel, tendo utilizado seis nomes de clientes diferentes em oito códigos postais de Inglaterra, informa o The Guardian. O objectivo era comparar áreas com alta proporção de população branca com outras em que prevaleciam habitantes negros e asiáticos. A organização estima que 754 mil pessoas pertencentes a minorias étnicas tinham apólices de seguro automóvel e residiam em zonas onde a política de «penalização étnica» foi aplicada. Em algumas áreas «a diferença de preço foi superior a 100%», de acordo com a Citizens Advice, sublinhando que factores de risco comuns, como taxas de criminalidade e níveis de privação, não podem explicar isto. «Preocupa-nos que isto sugira que zonas com grandes comunidades de cor possam ser identificadas como mais arriscadas, mesmo quando os factores de risco objectivos são controlados», afirma. Em Bristol – onde se localizam dois dos códigos postais analisados –, numa zona onde 41% da população é negra e 18% é do Sul da Ásia, a apólice média para um Vauxhall Corsa foi de 340 euros, ou seja, 51% mais alta que a de um bairro a menos de três quilómetros de distância, onde 87% da população é branca. «Isto ocorre apesar de a zona branca ter uma taxa de criminalidade relativa mais elevada», refere o relatório. Para os «clientes», os investigadores escolheram nomes habitualmente associados a certos grupos étnicos, embora a Citizens Advice tenha afirmado que estes acabaram por não ter muito impacto nos preços. «Isto sugere que esta penalização é paga por todos os que vivem numa determinada zona, independentemente da sua etnia. No entanto, as pessoas de cor são [estatisticamente] muito mais propensas a pagá-la», acrescentou. O assassínio de George Floyd coincide com uma tensão social acumulada, e não apenas nos Estados Unidos, devido à estratégia de confinamento e de descalabro económico associada à pandemia de COVID-19. A explosão social em curso nos Estados Unidos na sequência da execução policial e extrajudicial de George Floyd não é nova num país que nasceu do massacre organizado e sistemáticos dos povos indígenas do seu território. É a revolta de oprimidos, explorados, discriminados e excluídos por um sistema que não sabe – nem pode – funcionar de outra maneira: com base na violência e na intimidação. A circunstância de o martírio de Floyd ter acontecido praticamente em directo, tal a velocidade de divulgação que o vídeo do crime adquiriu nas redes sociais e na internet em geral, tornou este exemplo de uma arbitrariedade policial que está na génese das corporações de «segurança» dos Estados Unidos ainda mais dramático que outros do mesmo género distribuídos ao longo das décadas. Acresce que o assassínio de George Floyd coincide com uma tensão social acumulada, e não apenas nos Estados Unidos, devido à estratégia de confinamento e de descalabro económico associada à pandemia de COVID-19 e cujos méritos e deméritos ainda terão um dia de ser avaliados com distanciamento histórico – se houver condições de liberdade e vontade para isso. A explosão social é uma consequência da agudização das circunstâncias, adquire talvez uma expressão quantitativa e de intensidade directamente proporcional à gravidade dos acontecimentos mas, previsivelmente, ir-se-á extinguindo não tanto como consequência da barbárie da repressão inerente ao regime mas pela própria falta de organização, da carência de objectivos concretos, das infiltrações policiais violentas e provocatórias e do assalto oportunista do aparelho do Partido Democrático ao controlo dos movimentos. O mesmo partido/regime que dias antes aprovara na Câmara dos Representantes, onde tem a maioria, uma lei autorizando o reforço dos poderes policiais. Não sendo ainda certo, apesar da gravidade da situação, que assistamos à queda do fascista de turno à cabeça do império. Seguindo o guião habitual, que cataloga as coisas pela rama e as formata para fácil consumo das grandes audiências, a comunicação social dominante define genericamente os acontecimentos como manifestações contra o racismo. Como se o racismo fosse um fenómeno isolado, sem contexto, e a densidade desta revolta fosse explicada unicamente pelo facto de um polícia branco ter esmagado o pescoço de um cidadão negro – aliás no país onde, como está provado, o regime mandou matar Martin Luther King. Agora «somos todos Floyd», como já fomos outras vítimas e instituições agredidas, mas improvavelmente a generosidade e a solidariedade irão mais uma vez dar em nada para que tudo continue na mesma e a sociedade em que vivemos permaneça intrinsecamente racista, xenófoba, discriminatória. Porque é de sua natureza; porque essa é a essência do capitalismo, sobretudo depois de catapultado para um neoliberalismo selvagem e em estado de crise. Não há maneira de combater eficazmente o racismo sem atacar organizadamente o capitalismo; assim como não é possível lutar pela paz ou actuar eficientemente contra as alterações climáticas sem agir contra quem faz a guerra ou destrói o planeta: o capitalismo. Racismo, violência policial, xenofobia, homofobia, discriminação cultural, colonialismo, terrorismo, guerra, destruição do meio ambiente são todos ramos da mesma árvore; são inerentes a um sistema que continua no caminho da globalização e no qual as emergências de nacionalismos e fascismos correspondem a necessidades cada vez mais prementes de assegurar a sobrevivência do próprio capitalismo. O racismo está entranhado na história dos Estados Unidos da América e na sociedade capitalista em geral. Por isso, as declarações de abolição ou as proclamações sobre a erradicação ficam muito aquém do combate efectivo a uma tal aberração. Nos Estados Unidos a discriminação racial foi tecnicamente abolida na segunda metade do século passado, mas o racismo permanece como pilar essencial da sociedade. As comunidades afro-americana e latina são as principais vítimas das desigualdades e do desequilíbrio social necessário ao funcionamento do sistema de máximo lucro. Os mecanismos são completos e podem expressar-se até de maneira perversa em termos de cor da pele ou de origens. O presidente Barack Obama, um negro, não contribuiu para aliviar a sociedade norte-americana da sua carga racista e discriminatória. Organizou guerras de índole colonial e imperial por razões discriminatórias ditas civilizacionais para mascarar simplesmente o acto de saquear os mais fracos. Nos seus mandatos a violência policial continuou a assassinar negros como sempre fez em quaisquer administrações, democráticas ou republicanas. E temos o caso do famoso senador fascista Marco Rubio, um latino de origem cubana que está sempre na linha da frente entre os carrascos dos povos da América Latina – que o digam os de Cuba e os da Venezuela. O racismo, a xenofobia, a discriminação vão muito além da cor da pele. Aliás o capitalismo não olha propriamente para a cor da pele dos explorados, desde que o sejam. O assassínio bárbaro de George Floyd foi o principal detonador da tensão acumulada pelo inferno social criado por 38 milhões de novos desempregados nos Estados Unidos em apenas algumas semanas, pelo facto de a trágica gestão da pandemia ter atingido principalmente os mais vulneráveis e os mais necessitados, o que significa as comunidades minoritárias afro-americana e latina. O racismo abriu o caminho de uma revolta social que, no limite, desestabilizaria o próprio sistema se este, na sua versão bipartidária totalitária, não dispusesse de um impressionante manancial de recursos para lhe fazer frente. E passará pela cabeça de alguém, olhando as encenações promovidas pelo Partido Democrático em honra de George Floyd, que uma eventual administração de Joe Biden em 2021 iria combater o racismo e travar os assassínios por violência policial? Demonstrando as afinidades práticas, ainda que nem sempre concordantes no plano do discurso, com o comportamento do regime de Washington, as instituições europeias não tiveram ainda uma palavra sobre a execução de George Floyd. Não basta declarar-se contra a pena de morte: é preciso sê-lo. Confirmando ainda que não existe qualquer sintonia entre os órgãos instalados em Bruxelas e as populações europeias têm-se multiplicado manifestações multifacetadas contra o racismo e de repúdio pelo assassínio de Floyd. O facto a realçar neste quadro é que não seria necessário «importar» casos de racismo e de violência dos Estados Unidos para motivar protestos na Europa. Do lado de cá do Atlântico há razões de sobra para repudiar racismo, xenofobia, discriminação, colonialismo e perseguições contra minorias sem necessidade de ir buscar inspiração pontual além-fronteiras. O tratamento institucional da União Europeia em relação aos imigrantes, refugiados e os mais desfavorecidos em geral deveria suscitar acção e revolta constantes. A Europa é um continente racista, colonialista, que usa e abusa, com discriminação e violência, do eurocentrismo cultural e civilizacional. Os muros, barreiras e cercas contra refugiados e imigrantes, as vergonhosas discussões entre governos sobre quotas de admissão de pessoas fugindo de guerras, quantas delas provocadas por países e entidades europeias, não suscitam socialmente a revolta que deveriam merecer. Passam em claro, como parte do velho normal, sucessivos casos de violência policial através da Europa contra bairros periféricos de grandes cidades, para onde são empurradas as comunidades marginalizadas pelo aparelho económico triturador – uma discriminação institucionalizada que nem sempre, mas também, se orienta pela cor da pele, a etnia, a nacionalidade da família de origem. Há situações limite, porém, em que a inversão de valores é total. A participação de nações europeias e de instituições como a União Europeia e a NATO em guerras de agressão contra países em estados inferiores de desenvolvimento, contra povos vulneráveis, são exemplos maiores de violência discriminatória. No entanto, escassas são as manifestações populares massivas de repúdio e revolta. Pelo contrário, passa bem através da generalidade do tecido social a mensagem construída pelos poderes, incluindo a comunicação cúmplice, de que se trata de actos humanitários, legítimos e de elevado valor civilizacional. Não se poupam, aliás, os elogios públicos ao envio de tropas europeias para antigas colónias de várias nações do continente com o objectivo de ir ensinar a esses povos, certamente ainda inferiores, que não devem guerrear-se entre si, sobretudo quanto perturbam o normal fluxo de riquezas naturais extorquidas a esses países e suas populações pelos governos que enviam os militares. Eis uma forma de racismo que não é racismo por ser suposto que nações e instituições civilizadas que renegam oficialmente o racismo não pratiquem o racismo. Praticam, porém, o capitalismo na sua versão mais selvagem. Inevitavelmente, a discriminação, a xenofobia, o racismo estão incluídos no pacote de malfeitorias do sistema, por muito que os praticantes apregoem o contrário Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Além disto, a organização analisou 18 mil preços de seguro automóvel apresentados por pessoas que lhe solicitaram ajuda com dívidas em 2021. Em média, afirmou, as pessoas negras e asiáticas pagam mais 300 euros por ano que as pessoas brancas. Não é a primeira vez que etnia e preços de seguros são associados. Em 2016, um relatório co-escrito pelo ex-comissário para igualdade Trevor Phillips afirmava que milhões de pessoas que viviam em áreas com grande número de famílias de minorias étnicas estavam a pagar uma «penalização de minoria étnica» em prémios de seguro automóvel até 540 euros por ano, refere o The Guardian. Em resposta aos dados recentes apresentados pela Citizens Advice, o director da política geral de seguros da Associação Britânica de Seguradoras, James Dalton, disse que estas «nunca usaram a etnia como factor para estabelecer preços» e que os membros da associação cumprem a Lei da Igualdade. Dalton afirma que os preços dos seguros são determinados por níveis de risco individuais e que a etnia não é um deles. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Inglaterra: minorias podem pagar «penalização étnica» no seguro automóvel
Uma zona de Bristol e um alerta de 2016
Opinião|
O racismo vem no pacote do capitalismo
O racismo
Entranhado na sociedade
Versão europeia
Contribui para uma boa ideia
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Neste sentido, o projecto conclui que a «Grã-Bretanha não está perto de ser uma sociedade racialmente justa» e insta o executivo britânico a lidar com aquilo a que chama «desigualdades étnicas substanciais» encontradas em diversas áreas da vida e das instituições do país, afirma The Guardian.
De acordo com a pesquisa, mais de um quarto das pessoas de grupos étnicos minoritários afirmaram ter sofrido insultos raciais; quase um terço disseram ter sofrido racismo num local público; um em cada seis dos entrevistados disse ter vivido situações de segregação por parte dos vizinhos; 17% afirmaram que as suas propriedades sofreram danos em ataques racistas.
Racismo, parte da vida quotidiana
Finney, professora da Universidade de St Andrews que dirigiu o estudo, disse que estes dados mostram que o racismo é «parte da vida quotidiana» das pessoas de minorias étnicas: «O Reino Unido está imensamente longe de ser uma sociedade racialmente justa», declarou, citada por The Gaurdian.
«Os tipos de desigualdade que vemos no nosso estudo não existiriam se tivéssemos uma sociedade realmente justa», frisou.
O estudo, financiado pelo Conselho de Investigação Económica e Social (Economic and Social Research Council), abrangeu mais de 14 mil pessoas de 21 grupos étnicos, incluindo britânicos brancos, que foram entrevistados entre os meses de Fevereiro e Outubro de 2021.
O assassínio de George Floyd coincide com uma tensão social acumulada, e não apenas nos Estados Unidos, devido à estratégia de confinamento e de descalabro económico associada à pandemia de COVID-19. A explosão social em curso nos Estados Unidos na sequência da execução policial e extrajudicial de George Floyd não é nova num país que nasceu do massacre organizado e sistemáticos dos povos indígenas do seu território. É a revolta de oprimidos, explorados, discriminados e excluídos por um sistema que não sabe – nem pode – funcionar de outra maneira: com base na violência e na intimidação. A circunstância de o martírio de Floyd ter acontecido praticamente em directo, tal a velocidade de divulgação que o vídeo do crime adquiriu nas redes sociais e na internet em geral, tornou este exemplo de uma arbitrariedade policial que está na génese das corporações de «segurança» dos Estados Unidos ainda mais dramático que outros do mesmo género distribuídos ao longo das décadas. Acresce que o assassínio de George Floyd coincide com uma tensão social acumulada, e não apenas nos Estados Unidos, devido à estratégia de confinamento e de descalabro económico associada à pandemia de COVID-19 e cujos méritos e deméritos ainda terão um dia de ser avaliados com distanciamento histórico – se houver condições de liberdade e vontade para isso. A explosão social é uma consequência da agudização das circunstâncias, adquire talvez uma expressão quantitativa e de intensidade directamente proporcional à gravidade dos acontecimentos mas, previsivelmente, ir-se-á extinguindo não tanto como consequência da barbárie da repressão inerente ao regime mas pela própria falta de organização, da carência de objectivos concretos, das infiltrações policiais violentas e provocatórias e do assalto oportunista do aparelho do Partido Democrático ao controlo dos movimentos. O mesmo partido/regime que dias antes aprovara na Câmara dos Representantes, onde tem a maioria, uma lei autorizando o reforço dos poderes policiais. Não sendo ainda certo, apesar da gravidade da situação, que assistamos à queda do fascista de turno à cabeça do império. Seguindo o guião habitual, que cataloga as coisas pela rama e as formata para fácil consumo das grandes audiências, a comunicação social dominante define genericamente os acontecimentos como manifestações contra o racismo. Como se o racismo fosse um fenómeno isolado, sem contexto, e a densidade desta revolta fosse explicada unicamente pelo facto de um polícia branco ter esmagado o pescoço de um cidadão negro – aliás no país onde, como está provado, o regime mandou matar Martin Luther King. Agora «somos todos Floyd», como já fomos outras vítimas e instituições agredidas, mas improvavelmente a generosidade e a solidariedade irão mais uma vez dar em nada para que tudo continue na mesma e a sociedade em que vivemos permaneça intrinsecamente racista, xenófoba, discriminatória. Porque é de sua natureza; porque essa é a essência do capitalismo, sobretudo depois de catapultado para um neoliberalismo selvagem e em estado de crise. Não há maneira de combater eficazmente o racismo sem atacar organizadamente o capitalismo; assim como não é possível lutar pela paz ou actuar eficientemente contra as alterações climáticas sem agir contra quem faz a guerra ou destrói o planeta: o capitalismo. Racismo, violência policial, xenofobia, homofobia, discriminação cultural, colonialismo, terrorismo, guerra, destruição do meio ambiente são todos ramos da mesma árvore; são inerentes a um sistema que continua no caminho da globalização e no qual as emergências de nacionalismos e fascismos correspondem a necessidades cada vez mais prementes de assegurar a sobrevivência do próprio capitalismo. O racismo está entranhado na história dos Estados Unidos da América e na sociedade capitalista em geral. Por isso, as declarações de abolição ou as proclamações sobre a erradicação ficam muito aquém do combate efectivo a uma tal aberração. Nos Estados Unidos a discriminação racial foi tecnicamente abolida na segunda metade do século passado, mas o racismo permanece como pilar essencial da sociedade. As comunidades afro-americana e latina são as principais vítimas das desigualdades e do desequilíbrio social necessário ao funcionamento do sistema de máximo lucro. Os mecanismos são completos e podem expressar-se até de maneira perversa em termos de cor da pele ou de origens. O presidente Barack Obama, um negro, não contribuiu para aliviar a sociedade norte-americana da sua carga racista e discriminatória. Organizou guerras de índole colonial e imperial por razões discriminatórias ditas civilizacionais para mascarar simplesmente o acto de saquear os mais fracos. Nos seus mandatos a violência policial continuou a assassinar negros como sempre fez em quaisquer administrações, democráticas ou republicanas. E temos o caso do famoso senador fascista Marco Rubio, um latino de origem cubana que está sempre na linha da frente entre os carrascos dos povos da América Latina – que o digam os de Cuba e os da Venezuela. O racismo, a xenofobia, a discriminação vão muito além da cor da pele. Aliás o capitalismo não olha propriamente para a cor da pele dos explorados, desde que o sejam. O assassínio bárbaro de George Floyd foi o principal detonador da tensão acumulada pelo inferno social criado por 38 milhões de novos desempregados nos Estados Unidos em apenas algumas semanas, pelo facto de a trágica gestão da pandemia ter atingido principalmente os mais vulneráveis e os mais necessitados, o que significa as comunidades minoritárias afro-americana e latina. O racismo abriu o caminho de uma revolta social que, no limite, desestabilizaria o próprio sistema se este, na sua versão bipartidária totalitária, não dispusesse de um impressionante manancial de recursos para lhe fazer frente. E passará pela cabeça de alguém, olhando as encenações promovidas pelo Partido Democrático em honra de George Floyd, que uma eventual administração de Joe Biden em 2021 iria combater o racismo e travar os assassínios por violência policial? Demonstrando as afinidades práticas, ainda que nem sempre concordantes no plano do discurso, com o comportamento do regime de Washington, as instituições europeias não tiveram ainda uma palavra sobre a execução de George Floyd. Não basta declarar-se contra a pena de morte: é preciso sê-lo. Confirmando ainda que não existe qualquer sintonia entre os órgãos instalados em Bruxelas e as populações europeias têm-se multiplicado manifestações multifacetadas contra o racismo e de repúdio pelo assassínio de Floyd. O facto a realçar neste quadro é que não seria necessário «importar» casos de racismo e de violência dos Estados Unidos para motivar protestos na Europa. Do lado de cá do Atlântico há razões de sobra para repudiar racismo, xenofobia, discriminação, colonialismo e perseguições contra minorias sem necessidade de ir buscar inspiração pontual além-fronteiras. O tratamento institucional da União Europeia em relação aos imigrantes, refugiados e os mais desfavorecidos em geral deveria suscitar acção e revolta constantes. A Europa é um continente racista, colonialista, que usa e abusa, com discriminação e violência, do eurocentrismo cultural e civilizacional. Os muros, barreiras e cercas contra refugiados e imigrantes, as vergonhosas discussões entre governos sobre quotas de admissão de pessoas fugindo de guerras, quantas delas provocadas por países e entidades europeias, não suscitam socialmente a revolta que deveriam merecer. Passam em claro, como parte do velho normal, sucessivos casos de violência policial através da Europa contra bairros periféricos de grandes cidades, para onde são empurradas as comunidades marginalizadas pelo aparelho económico triturador – uma discriminação institucionalizada que nem sempre, mas também, se orienta pela cor da pele, a etnia, a nacionalidade da família de origem. Há situações limite, porém, em que a inversão de valores é total. A participação de nações europeias e de instituições como a União Europeia e a NATO em guerras de agressão contra países em estados inferiores de desenvolvimento, contra povos vulneráveis, são exemplos maiores de violência discriminatória. No entanto, escassas são as manifestações populares massivas de repúdio e revolta. Pelo contrário, passa bem através da generalidade do tecido social a mensagem construída pelos poderes, incluindo a comunicação cúmplice, de que se trata de actos humanitários, legítimos e de elevado valor civilizacional. Não se poupam, aliás, os elogios públicos ao envio de tropas europeias para antigas colónias de várias nações do continente com o objectivo de ir ensinar a esses povos, certamente ainda inferiores, que não devem guerrear-se entre si, sobretudo quanto perturbam o normal fluxo de riquezas naturais extorquidas a esses países e suas populações pelos governos que enviam os militares. Eis uma forma de racismo que não é racismo por ser suposto que nações e instituições civilizadas que renegam oficialmente o racismo não pratiquem o racismo. Praticam, porém, o capitalismo na sua versão mais selvagem. Inevitavelmente, a discriminação, a xenofobia, o racismo estão incluídos no pacote de malfeitorias do sistema, por muito que os praticantes apregoem o contrário Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
O racismo vem no pacote do capitalismo
O racismo
Entranhado na sociedade
Versão europeia
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Ainda segundo a pesquisa, considerada a mais abrangente neste âmbito desde 1997, quase um terço (29%) das pessoas de grupos étnicos e religiosos minoritários disseram ter enfrentado racismo nas áreas da educação e do emprego, e quase um quinto viveu algum tipo de discriminação ao procurar casa.
Mais de um quinto destas pessoas afirmaram ter sido discriminadas pela Polícia – 43% no caso de grupos caribenhos negros.
De acordo com o estudo, estes grupos têm maior probabilidade de viverem numa casa superlotada – 60% no caso das famílias ciganas e um quarto das pessoas de origem paquistanesa e árabe.
Também é bem mais provável que estes grupos não tenham acesso a espaço ao ar livre nas suas casas, por comparação com os britânicos brancos.
Halima Begum, directora executiva da organização Runnymede Trust, considerou que os dados da investigação relativos à violência racial são «extremamente preocupantes» e refutou a ideia de que os crimes de ódio com motivação racial estejam em declínio.
«Infelizmente, poucos britânicos das minorias étnicas ficarão surpreendidos com estes dados», acrescentou.
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