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O direito a jogar à bola

A ação das forças armadas israelitas sobre o desporto palestiniano sempre procurou colocar em causa o desenvolvimento deste. Na maneira como condicionaram o movimento a atletas sempre esteve uma ideia de destruição.

Créditos / Tehran Times

Israel impede os palestinianos de jogar futebol, mas é defendido pela FIFA no seu direito a estar presente em competições. Da mesma forma, a Rússia não pode estar em competições, mas marca presença no Congresso da FIFA. A ausência de um discurso claro na defesa do direito à prática desportiva é uma fragilidade desta organização. 

A ação das forças armadas israelitas sobre o desporto palestiniano sempre procurou colocar em causa o desenvolvimento deste. Na maneira como condicionaram o movimento a atletas, sempre esteve uma ideia de destruição de possibilidades de crescimento e evolução daqueles que procuravam melhores condições para praticar uma modalidade. No caso do futebol, durante muitos anos foi impossível reconhecer o estatuto da Federação da Palestina, entre outros atropelos.

Recentemente, mais dois episódios se conjugam numa longa lista de ataques ao direito da prática desportiva pelas populações árabes. No final de março, o ataque com gás lacrimogéneo no estádio onde se disputava a final da Taça da Palestina, atacando de forma despropositada jogadores e adeptos ali presentes. No último fim-de-semana, um alargar da escala de incompreensão, utilizando as redes sociais do Ministério dos Negócios Estrangeiros para sublinhar a existência de crianças a jogar à bola junto à Mesquita de Al-Aqsa como um ato indigno. 

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Futebolista palestiniano assassinado pelo exército israelita

Ahmad Atef Daragmah, 23 anos, ponta-de-lança da equipa Thaqafi Tulkarem, foi morto a tiro pelas forças de ocupação israelitas em Nablus. Face ao crime, a solidariedade ocidental fica muda e calada.

Ahmad Atef Daragmah, 23 anos, ponta-de-lança da equipa Thaqafi Tulkarem, foi morto a tiro por Israel no dia 21 de Dezembro de 2022 
Créditos / Palestina Hoy

É difícil não traçar paralelos com o caso do jogador iraniano Amir Nasr-Azadani, detido pelas autoridades e, supostamente, ameaçado com a pena de morte pela sua participação em protestos que, acusa o regime iraniano, resultaram na morte de polícias. Embora ainda não tenha sido confirmada qualquer sentença, a sua situação motivou dezenas de declarações de solidariedade de figuras públicas e associações desportivas e de direitos humanos.

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Jornalista da Al Jazeera morta a tiro durante ataque israelita a Jenin

A jornalista palestiniana Shireen Abu Akleh faleceu esta quarta-feira, depois de ser atingida com um disparo na cabeça, quando cobria um raide das forças israelitas em Jenin, no Norte da Cisjordânia ocupada.

A jornalista palestiniana Shireen Abu Akleh (imagem de arquivo) 
Créditos / WAFA

O Ministério palestiniano da Saúde afirmou em comunicado que Abu Akleh, repórter da Al Jazeera de 51 anos, foi levada de urgência para um hospital próximo, onde faleceu.

Ali Samoudi, produtor da mesma cadeia televisiva, foi atingido a tiro nas costas e encontra-se em situação estável, segundo referiu o ministério.

Em declarações à agência WAFA, Samoudi disse que se encontrava com Abu Akleh e outros jornalistas nas escolas do campo de refugiados de Jenin, e que todos usavam coletes à prova de bala com a indicação «imprensa» quando foram atacados por soldados israelitas.

O produtor da Al Jazeera acusou as forças israelitas de os terem atingido de forma premeditada, na medida em que sabiam que todos os que se encontravam naquele local eram jornalistas e que ali não havia elementos armados ou confrontos.

Desta forma, Samoudi desmentiu as declarações de um responsável do Exército israelita a uma rádio em que negava qualquer responsabilidade dos militares na morte da jornalista.

Também a jornalista Shatha Hanaysha, que estava perto de Abu Akleh quando esta foi atingida, confirmou que os soldados israelitas dispararam contra eles, mesmo estando bem identificados.

Palestinianos denunciam assassinato

Governo palestiniano, partidos políticos e diversas organizações condenaram os factos ocorridos em Jenin.

O primeiro-ministro, Mohammad Shtayyeh, afirmou que Abu Akleh foi morta «quando exercia o seu dever jornalístico de documentar os crimes horrendos cometidos pelos soldados da ocupação contra o nosso povo».

O Ministério dos Negócios Estrangeiros acusou Israel de ter atingido Abu Akleh e Ali Samoudi de forma «intencional e deliberada», e relacionou o facto com a implementação da política do governo israelita de matar a tiro os palestinianos.

Por seu lado, o responsável da pasta dos Assuntos Civis, Hussein al-Sheikh, disse que «se voltou a cometer o crime de silenciar a palavra, e a verdade é silenciada por balas da ocupação».

Responsáveis da Al Jazeera manifestaram-se «chocados e tristes», e o chefe do canal nos territórios ocupados, Walid al-Omari, afirmou que aquilo que se passou em Jenin «foi um assassinato premeditado por parte do Exército de ocupação».

Em Janeiro deste ano, a WAFA afirmou que, em 2021, foram registadas 384 situações de abuso por parte das forças israelitas contra jornalistas que trabalhavam nos territórios ocupados da Palestina.

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Longe da vista, longe do coração. O apagar da morte de Ahmad Atef Daragmah, sem direito a menção na imprensa nacional e internacional, não é uma situação nova: há decadas que os crimes cometidos pelas forças de ocupação israelitas contra a população palestiniano são conscientemente ignorados pelos EUA e a União Europeia.

Afastada, a Palestina, dos holofotes mediáticos ocidentais, Ahmad acaba por ser apenas mais um nome numa longa lista de homens, mulheres e crianças assassinadas na sua própria nação. Com 23 anos, um dos principais goleadores da equipa Thaqafi Tulkarem, que joga no Campeonato da Cisjordânia de Futebol, Ahmad foi morto ontem.

As forças de ocupação israelitas invadaram, na quarta-feira, a zona leste da cidade de Nablus para dar cobertura a um grupo invasor de israelitas, disparando indiscriminadamente sobre a população: Ahmad Atef Daragmah foi baleado nas costas e nos pés, ferimentos graves que provocaram a sua morte algumas horas depois.

Mohammad Shtayyeh, primeiro-ministro da Palestina, exigiu a tomada de uma posição por parte da Federação Internacional de Futebol (FIFA): «as organizações internacionais de direitos devem responsabilizar a ocupação israelita pelos seus crimes», afirmou, em declarações recolhidas pela WAFA.

«Unimo-nos ao luto do futebol palestiniano e endereçamos as nossas condolências à família do jogador», afirmou o Club Deportivo Palestino, uma equipa formada nos anos 40 por imigrantes palestinianos em Santiago, Chile, que compete no principal escalão da modalidade no país. Foi uma das raras intervenções públicas de solidariedade para com o povo palestianiano.

Até ao momento, 224 palestinianos foram assassinados por Israel em 2022.

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O condicionamento de Israel à Palestina é uma estratégia de ataque desproporcional a um território invadido. E o facto de essa invasão utilizar várias vezes o futebol como oportunidade para o realizar, corrompe de forma alargada o espírito do próprio jogo. É por isso que a tentativa da Indonésia excluir Israel do Mundial Sub-20 que se iria realizar no seu país e consequente retirada dessa organização ao país asiático, relança uma enorme discussão sobre como defender o desporto como campo de entendimento e diálogo. 

A situação da Rússia e da Bielorrússia também continua em cima da mesa, sobretudo com o aproximar dos Jogos Olímpicos. Por exemplo, no Congresso da FIFA realizado em Lisboa, a Federação Russa marcou presença, mesmo tendo a sua seleção excluída de provas oficiais, mas não proibida de realizar jogos amigáveis, como se verificou também no último mês. A dificuldade de se encontrar uma linha de pensamento que seja consistente para todas as ocasiões leva a uma crescente visão da FIFA como parte do problema e não como parte da solução.

Uma defesa intransigente do direito à prática desportiva, a utilização do desporto como via de diálogo pacífico, são elementos fundamentais para que as grandes instituições desportivas se posicionem de forma clara e inequívoca perante aqueles que olham o desporto como um elemento de liberdade e não de perseguição.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

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