Depois das eleições primárias no passado mês de Agosto, realizou-se ontem a primeira volta das eleições presidenciais argentinas. A expectativa era grande, mas o resultado ditou que os destinos do país passam por uma segunda volta.
Quanto aos resultados, Myriam Bregman da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade obteve 2,70% dos votos; Juan Schiaretti do Fazemos pelo Nosso País obteve 6,78%; Patricia Bullrich do Juntos pela Mudança obteve 23,83%; Javier Milei do A Liberdade Avança obteve 29,99%; e Sergio Massa do União pela Pátria obteve 36,68%. As urnas ditaram, assim, que a segunda volta das presidenciais, a 19 de Novembro, irá opor Javier Milei a Sergio Massa.
O libertário Javier Milei, que juntamente com Patricia Bullrich, é a aposta da direita, representa a face mais agressiva dessa mesma direita argentina. Com um programa assente na destruição das funções sociais do Estado, privatizações de todos os sectores e incitamento à violência contra forças democráticas, em particular de esquerda e comunistas, Milei, que é assumidamente adepto de Margaret Thatcher, a mesma que começou a guerra na Malvinas contra a Argentina, é o candidato mais reaccionário que há memória desde a ditadura militar que vigorou no país entre 1966 e 1973.
Já Sergio Massa, que encabeça uma coligação que reúne peronistas e progressistas, representa, neste momento, o campo democrático que pode fazer frente a um projecto que ameaça direitos e quer fazer impor um retrocesso social. Massa é actualmente o ministro da Economia do Governo de Alberto Fernández, algo que pesa num momento em que a Argentina atravessa uma grave crise económica, pois a inflação chegou aos 138% nos últimos 12 meses e existe uma gigante dívida ao FMI que acarreta juros elevados.
O programa de Sergio Massa está nos antípodas do programa de Javier Milei, uma vez que são apresentadas uma série de propostas sociais que passam pela recuperação do poder de compra das famílias, assim como garantir direitos aos trabalhadores.
Na Argentina, um candidato pode ganhar a presidência à primeira volta se arrecadar 45% dos votos ou se obtiver 40% dos votos e terminar 10 pontos percentuais à frente do segundo colocado, num sistema onde o voto é obrigatório para os cidadãos entre os 18 e os 70 anos e opcional para os jovens de 16 e 17 anos e para os cidadãos com 71 anos adiante.
Apesar da diferença de 6,69 pontos percentuais entre os dois candidatos, a vitória de Massa na segunda volta está longe de estar assegurada, sendo necessário envolver todos os democratas em torno da sua candidatura. Somando os resultados de Patricia Bullrich aos de Javier Milei na primeira volta, estes contabilizam 14147430 votos. Já Sérgio Massa obteve sozinho 9641560 votos, enquanto Juan Schiaretti obteve 1784028 e Myriam Bregman 709816. Fazendo o mesmo exercício feito no campo da direita, estes três candidatos somam apenas 12135404 votos, o que seria insuficiente.
Com o avançar dos próximos dias antecipa-se então uma bipolarização do país em torno dos dois candidatos e certamente um clima de tensão até à contagem do último voto.
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