O aeroporto da Portela foi inaugurado em 1942. Menos de três décadas depois, começou a discutir-se a necessidade de relocalizar o aeroporto e a 8 de março de 1969 o governo fascista liderado por Marcello Caetano publicava o Decreto-Lei n.º 48902 que constituía o «Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa».
A história é grande e, entre avanços e recuos, um livro podia ser publicado dada a quantidade de voltas que já houve. Parece então que hoje surgiu mais um capítulo para essa eventual obra por editar.
A comissão técnica independente, criada por PS e PSD excluindo todos os outros partidos, como manda a tradição antidemocrática, concluiu que a melhor localização para o novo aeroporto será o Campo de Tiro de Alcochete. A decisão não deixa de ter a sua piada na medida em que PS e PSD procuraram definir a metodologia para a comissão técnica de forma a conseguir que a conclusão fosse no sentido da defesa dos interesses da Vinci, quem ambos os partidos defendem realmente.
Muita tinta correu desde a criação dessa comissão técnica, sendo que PS procurava condicionar mediaticamente sugerindo que a melhor solução seria o Montijo e o PSD, sem nada a que se agarrar, só colocava em causa o trabalho desenvolvido, sem nunca se entender bem o quê ou o porquê.
Em cima da mesa estavam nove opções, entre as quais: Portela + Montijo; Montijo + Portela; Alcochete; Portela + Santarém; Santarém. Entretanto, foram acrescentadas ao estudo as opções Portela + Alcochete, Portela + Pegões, Rio Frio + Poceirão e Pegões.
A verdade é que o PSD dizia não excluir o Campo de Tiro de Alcochete, mas a verdade é que em audições parlamentares realizadas, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, uma plataforma cívica, a Ordem dos Engenheiros e a Ordem dos Economistas defenderam a mesma solução que a concluída pela comissão técnica independente. Face a isto o PSD podia ter vincado a sua posição, mas quando, juntamente com CDS entregaram a ANA à multinacional Vinci e esta se recusou a avançar com a construção do novo aeroporto de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete, nada foi dito, apenas defendido os interesses do grande capital.
O mesmo se aplica ao PS que estava pronto para usar a maioria absoluta e estipular a localização de um novo aeroporto numa zona totalmente contrária aos interesses do país e das populações. Importa recordar que Pedro Nuno Santos chegou a avançar para a mudança de uma lei que dava poder de veto aos municípios que estivessem cobertos pelo aeroporto e não concordam com o mesmo. O mesmo António Costa ainda hoje invocou questões contratuais com a Vinci para no futuro se ignorar a conclusão de Alcochete.
Parece então que a realidade veio dar razão ao PCP que defendia acérrimamente a solução do Campo de Tiro de Alcochete. A título de exemplo, o deputado do PCP, Bruno Dias, na Assembleia da República chegou a dizer que «há 12 anos tinha sido já decidido que a melhor localização era mesmo o Campo de Tiro de Alcochete».
Mais um exemplo remete a 2017, onde o dirigente do PCP, Vasco Cardoso, num artigo no órgão central do PCP, o Jornal Avante!, escreveu: «A “solução” que agora tem vindo a ser construída pelo Governo PS aponta para a recuperação da tese 'Portela+1', na versão base aérea do Montijo, libertando a Vinci [empresa francesa detentora da ANA] das suas obrigações, desperdiçando recursos e adiando um problema que mais cedo ou mais tarde se voltará a colocar. Não é essa a solução de que o país precisa».
Face à actualidade e ao que hoje foi tornado público, o PCP considerou que a conclusão de Alcochete a avançar terá que ser acompanhada de um conjunto de investimentos estratégicos, como é exemplo a terceira travessia do Tejo, algo que também já é uma discussão tão antiga como necessária.
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