É mandar números ao ar para ver se cola. Esta é a táctica de Luís Montenegro para prever o crescimento económico de Portugal, e possivelmente dos economistas com quem se reuniu para criar o programa eleitoral da AD.
No almoço em Gondomar com 400 empresários enquadrado na campanha da AD, Luís Montenegro foi deixar vincado o seu servilismo ao defender a privatização da TAP, mas a par deste aspecto, foram os números de crescimento que ficaram na retina.
O presidente do PSD diz que Portugal é capaz de voltar a crescer a «3, 4 e a 5%». A bem da verdade não disse quando, mas o programa eleitoral da AD prevê um crescimento económico de 3%. A questão é tal previsão não é assente numa realidade palpável, é antes uma utopia que a AD quer vende como concretizável.
Diz a AD, sem base nenhuma para além da sua imaginação, que enquanto é previsto um brutal corte fiscal com a redução do IRS, a isenção de IRS e de contribuições sociais para prémios de desempenho, a diminuição do IRC para 15% até ao final da legislatura e a eliminação da derrama municipal e estadual, enquanto simultaneamente se reduz a despesa e a dívida pública em percentagem do PIB, há possibilidades de crescimento.
A coligação de direita acredita mesmo que, enquanto tudo isso é feito, há um aumento de investimento privado de 5% no próximo ano; as exportações, o crescimento económico passará dos atuais 2% para 3,5% anuais; e mesmo com corte de impostos as receitas arrecadadas pelo Estado aumentarão em 10.000 milhões de euros.
Nada disto é palpável. Há um jogo de cintura relativamente aos impostos e uma correspondente falta de verdade relativamente ao IRC efectivamente pago, mas isto não é o pior. O pior que ninguém - ninguém mesmo - tem as mesmas previsões que a AD. Veja-se que a insuspeita Comissão Europeia prevê que em 2024 a economia da União Europeia cresça apenas 0,9% e em 2025 apenas 1,7%. Já a OCDE prevê um crescimento português para 1,2% em 2024 e o Banco de Portugal um crescimento de 1,2%.
A AD coloca como objectivo imediato um brutal choque fiscal em Portugal e espera que isso seja logo repercutido em crescimento económico e a par disso, opta por ignorar o contexto internacional com a principal economia da União Europeia, a Alemanha, em recessão e a grande incerteza com a guerra no leste europeu e no Médio Oriente.
Montenegro está, assim, a procurar mandar areia para os olhos de todos, mesmo dos mais sedentos pela destruição das funções sociais do Estado. O problema, talvez, é que no meio disto tudo, nem Montenegro acredita no que diz, mas vende-o. Podemos estar a assistir a um caso de burla.
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