Pedro Ortega, secretário-geral da CST, disse ao portal el19digital.com que o Encontro Sindical Internacional foi motivado pelas comemorações do 45.º aniversário da Revolução Popular Sandinista, tendo contado com a participação de mais de 70 delegados de diversos países de África, Europa e, sobretudo, da América.
«Encontrámo-nos nestes três dias [de 16 a 19 de Julho], em que debatemos questões sobre a descolonização, também da política imperialista norte-americana contra os povos, como Cuba, Nicarágua e Venezuela», disse o dirigente sindical, que se referiu também à luta do povo saarauí e à guerra «contra os nossos irmãos palestinianos, em Gaza».
O encontro centrou-se igualmente no actual panorama laboral e de luta dos trabalhadores na Europa, na perspectiva centro-americana, bem como nos direitos dos trabalhadores, na segurança social e na migração.
Numa nota publicada esta segunda-feira, a Confederação Intersindical Galega (CIG) dá conta da sua participação no encontro, marcado por «debates intensos e contributos interessantes», e que contou com intervenções de membros do governo nicaraguense sobre as conquistas alcançadas pelo país após a Revolução, nomeadamente ao nível dos direitos socioeconómicos e laborais.
O acto de encerramento esteve a cargo de Ovidio Reyes, presidente do Banco Central da Nicarágua (BCN) em representação do executivo sandinista, a que se seguiu a leitura de várias resoluções: uma em solidariedade com a Revolução nicaraguense, outra com as conclusões do encontro e outra em solidariedade com os povos palestiniano e saarauí.
«No dia seguinte ao triunfo, o que havia era um poder popular a assumir o controlo e a iniciar uma nova estrutura institucional, o que foi extraordinário», disse o escritor Francisco Javier Bautista. O escritor nicaraguense afirmou, esta quinta-feira, que o triunfo da Revolução Popular Sandinista, em 1979, correu com a ditadura somozista e mudou para melhor a história da Nicarágua. «A mesa foi limpa, ou seja, terminou com a ditadura de Somoza que esteve aqui durante 45 anos sob a tutela dos Estados Unidos, com a Guarda Nacional e a oligarquia liberal-conservadora protegidas pelos seus benefícios históricos em torno desse poder», explicou Bautista. O escritor, que foi também fundador da Polícia Nacional, dialogou com a Prensa Latina a propósito dos 45 anos do triunfo da revolução, que hoje se assinalam, tendo afirmado que naquele 19 de Julho de 1979 «houve uma alegria popular e teve início uma mudança nas estruturas institucionais». Foi a última revolução armada na América Latina, depois da mexicana (1910) e da cubana (1959), cujo principal objectivo era dar poder ao povo e erradicar pela raiz a pobreza. «No dia seguinte ao triunfo não havia aqui uma única instituição em vigor, não havia Tribunal de Justiça, Tribunal Eleitoral, Congresso da República… O que havia era um poder popular a assumir o controlo e a iniciar uma nova estrutura institucional, o que foi extraordinário», disse. Bautista, que desde muito jovem esteve ligado a movimentos revolucionários na zona urbana, comentou que esse processo não aconteceu devido à coragem de uma pessoa, mas porque se juntaram vontades, desde a bandeira anti-imperialista, nacionalista e da dignidade de Augusto C. Sandino até todos os legados de lutas acumuladas. Recordou a guerrilha do Chaparral em Junho de 1959, a partir da qual foi lançada uma primeira acção militar contra a ditadura, organizada por um grupo de revolucionários, entre os quais se encontrava Carlos Fonseca Amador. «Pode dizer-se que aquele foi o embrião da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), que foi o embrião daquele processo que continuou em 1961, retomando a bandeira de Sandino pela soberania e pela dignidade nacional», defendeu. O escritor nicaraguense comentou que, depois da vitória de Julho, vieram dias complexos, mas manteve-se a bandeira básica da luta sandinista pela defesa da soberania, da independência e da autodeterminação, ou seja, a capacidade do povo de construir o seu próprio destino. «Mas veio também outra questão, romper com as estruturas económicas e sociais da dependência, das desigualdades e promover a equidade e a solidariedade», sublinhou. Bautista destacou a gestão do governo liderado pelo presidente Daniel Ortega, cuja aprovação é de 82,4%, e acrescentou que, apesar dos obstáculos externos, da manipulação mediática e das tentativas de golpe, o processo político avança porque assenta na consciência social. A 19 de Julho ocorrem as cerimónias oficiais e as felicitações dos países não alinhados com Washington já começaram a chegar a Manágua. Nas ruas, a festa dura há vários dias, para lembrar a insurreição sandinista. As felicitações ao povo e ao governo da Nicarágua pelo 43.º aniversário da revolução que deu força ao povo na América Central começaram a chegar ontem, da parte de representantes governamentais, embaixadores, partidos e organizações de esquerda de vários pontos do mundo. Hoje, têm lugar as cerimónias oficiais, com a participação do chefe de Estado, Daniel Ortega, mas nas ruas a alegria, a memória do triunfo da revolução e a solidariedade com povos em luta já se sente há vários dias. Em Matagalpa, no dia 17, milhares de pessoas encheram as ruas num tributo aos mártires da revolução, no meio de um mar de vermelho e negro – as cores da Frente Sandinista –, de bandeiras nacionais e das da China, da Rússia, do Irão, de Cuba e da Venezuela. O dia 17 de Julho de 1979 ficou marcado pelo «trilho de botas, uniformes e espingardas dos que abandonavam o traje [militar] para se disfarçarem de civis e fugirem», como lembrou o escritor e advogado nicaraguense Alejandro Bravo. O ditador Anastasio Somoza, apoiado pelos «gringos», e a sua Guarda Nacional renderam-se. Somoza fugiu para Miami. Por isso, 17 de Julho é conhecido como Dia da Alegria e as ruas enchem-se de festa. Na autoestrada de Masaya, realizou-se uma caravana com milhares de motoqueiros. Ontem, véspera do 19 de Julho, a festa saiu à rua pelo país fora, como no Bairro de San Judas, em Manágua, onde não faltaram bandeiras da Palestina (e da Rússia). O Teatro Rubén Darío voltou a ser palco do tradicional concerto «Cantos a la Revolución», agora em forma presencial, depois do carácter virtual imposto pela pandemia e do elitismo imposto pela ditadura. Ramón Rodríguez, director da instituição cultural, lembrou isso mesmo à imprensa, ao afirmar que é «graças à vitória revolucionária que o teatro é actualmente um lugar popular, pois antes era um sonho pensar num concerto deste tipo». No passado dia 16, numa sessão a que assistiram centenas de nicaraguenses que apoiam o processo da FSLN, foram interpretadas canções de autores nacionais e estrangeiros. «Cuba, que linda es Cuba», de Eduardo Saborit, ou «Y en eso Llegó Fidel», de Carlos Puebla, foram alguns dos temas cantados e aplaudidos, num espaço onde, refere a Prensa Latina, também se ouviram vivas a Cuba, à Venezuela e à Nicarágua. A 19 de Julho de 1979, a guerrilha da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) e o povo nicaraguense que a apoiou entraram na capital e consolidaram o triunfo revolucionário, dois dias depois de o ditador ter fugido do país e a Guarda Nacional se ter rendido. Os dias que se seguiram foram como «ter tocado o céu com as mãos», disse em tempos um dos fundadores da FSLN, Tomás Borge (1930-2012). O triunfo da revolução, que, como a cubana, foi ganha de armas na mão, tinha como objectivo principal defender o povo – oprimido e empobrecido pela ditadura – e erradicar a pobreza. Foi sob este prisma que arrancou a Cruzada Nacional de Alfabetização, promovida pelo governo sandinista logo após o triunfo da revolução e que permitiu reduzir o analfabetismo no país de níveis superiores a 50% para 12% – um avanço que foi reconhecido pela Unesco em 1981. Combater a pobreza, garantir a educação e a saúde, distribuir terras entre os agricultores, valorizar a cultura eram elementos que faziam parte do projecto sandinista – que de imediato começou a ser combatido pela administração de Ronald Reagan, a Agência Central de Inteligência (CIA) e os mercenários de «la contra». A gratuitidade da saúde para todo o povo da Nicarágua foi declarada com a chegada ao poder da FSLN, em 1979, e, com o novo modelo, foi possível acabar com a poliomelite (em 1982) e controlar doenças como a tosse convulsa e o sarampo. Com o triunfo da revolução e as políticas a favor do povo, muitos nicaraguenses tiveram acesso à habitação, a água potável e saneamento. Além disso, foi construída uma extensa rede rodoviária em excelentes condições (mais de 5000 quilómetros), bem como outras estradas e caminhos, e alargou-se a cobertura da rede eléctrica nacional, que hoje abrange a quase totalidade do território (99,2%). As mulheres passaram a assumir um papel mais destacado na sociedade, a nível social, político e económico, e a segurança aumentou – ao ponto de a Nicarágua ocupar o primeiro lugar entre os países centro-americanos, de acordo com a TeleSur. Nestas mais de quatro décadas, os avanços são inegáveis, a vários níveis. Destaca-se a Educação gratuita e de qualidade, também pelo investimento público milionário na melhoria de infra-estrututas e na construção de novas escolas e universidades. Também a cobertura universal da Saúde, uma área em que houve uma grande aposta na construção de infra-estruturas (ao nível dos cuidados primários, centros de saúde, hospitais nacionais e departamentais). A mortalidade materna diminuiu 59% entre 2006 e 2018, e a mortalidade infantil, 58%, segundo refere a TeleSur. Outros aspectos em destaque são a democratização da propriedade da terra e a habitação, sobretudo por via do programa Bismarck Martínez, iniciativa governamental criada em 2018, que tem como objectivo entregar habitações dignas a milhares de famílias nicaraguenses. O combate à pobreza (que foi reduzida de 48% para metade) e à pobreza extrema (que diminuiu 20%, passando para 6,3%, segundo dados da TeleSur) esteve e continua a estar entre as metas dos sandinistas. Em declarações à Prensa Latina, o analista Jorge Capelán entende que o país centro-americano vai crescer de forma sólida e acelerada nos próximos dez anos, tendo em conta as suas relações com a China. Já Manuel Espinoza, director do Centro Regional de Estudos Internacionais, entende que o principal perigo são os Estados Unidos, pois as «suas agências não dormem» quando se trata de desestabilizar a Nicarágua. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «O que é que o povo quer? Em primeiro lugar, respeito pela soberania, independência e autodeterminação, queremos continuar a viver num país seguro e preservar a paz», afirmou. Explicou que antes de 1979 a economia da Nicarágua parecia florescer, mas mais de metade da população era analfabeta, quase 60% eram camponeses sem direito à terra ou ao crédito. O crescimento económico concentrava-se em grupos muito limitados, mas a Revolução rompeu com isso e hoje tenta crescer com equidade, partilha o crescimento e distribui a riqueza, o que se reflecte no acesso gratuito à Educação e à Saúde, à segurança social, às ruas e à habitação para o povo. «Se compararmos a Nicarágua de hoje com a de há 17 anos, o progresso é evidente e acredito que vamos continuar a melhorar. A Revolução Sandinista é uma realidade histórica e não se pode ignorar que aqui houve um processo de mudança», frisou. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
«A Revolução mudou a história da Nicarágua para melhor», afirma escritor
O processo político avança
Internacional|
Cantos, marchas e cerimónias para celebrar os 43 anos da Revolução Sandinista
Cantos à Revolução
19 de Julho, o triunfo da Revolução Sandinista
Perspectivas e desafios
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Na intervenção final, Pedro Ortega agradeceu o «apoio de todas as delegações participantes no encontro à Revolução Sandinista e ao Governo de Reconciliação e Unidade Nacional, depois de poderem verificar que na Nicarágua existe verdadeira liberdade sindical, direito de negociação colectiva, educação gratuita, trabalho cooperativo, facilidades de acesso à habitação e outras medidas que pretendem favorecer as camadas mais desfavorecidas», refere a CIG no seu portal.
Visitas e comemorações
No âmbito do programa, os participantes visitaram a empresa Delmor, de produção de enchidos e que é auto-gerida pelos trabalhadores, bem como uma urbanização em Manágua gerida por uma cooperativa de habitação, que estava a proceder à entrega de 2500 unidades a outras tantas famílias.
No dia 19, em que passavam 45 anos do triunfo da Revolução, as delegações participaram nas cerimónias de comemoração que tiveram lugar na Praça da Revolução, no meio de milhares de pessoas, incluindo muita juventude.
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