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Milhares em Montevideu denunciam políticas de desigualdade e pobreza

A culminar a paralisação de 48 horas dos docentes do Ensino Secundário contra os cortes orçamentais e os ataques à Educação pública, milhares de pessoas exigiram um novo modelo de governo no Uruguai.

Convocada pela central PIT-CNT, a manifestação desta quarta-feira nas ruas de Montevideu serviu para apoiar a greve de dois dias que os docentes filiados na Federação Nacional de Professores da Educação Secundária (Fenapes) haviam iniciado no dia anterior.

À mobilização juntaram-se outros sindicatos do sector e o movimento estudantil, que se pronunciou em defesa do ensino público de qualidade e contra as reformas que o actual governo, liderado por Lacalle Pou, tem estado a promover. Também aderiram à marcha sindicatos de outros sectores, como a Construção e a Indústria.

Acompanhando as reivindicações da Fenapes, que defende o emprego e o ensino público, e denuncia os cortes orçamentais na Educação e o modelo de desigualdade vigente no país, milhares de trabalhadores afirmaram a necessidade de uma mudança de modelo de governo, que preste atenção às necessidades sociais e proceda a uma melhor distribuição da riqueza.

«Falam da Alice no País das Maravilhas»

Ao dirigir-se à multidão, Enrique Méndez, responsável sindical do sector lácteo e secretário de Organização do Plenário Intersindical dos Trabalhadores – Convenção Nacional dos Trabalhadores (PIT-CNT), criticou o facto de alguns sectores da coligação governamental, em tempos eleitorais, não falarem dos mais de 550 mil uruguaios que vivem bastante mal ou dos mais de 300 mil que «vivem e sofrem a informalidade no nosso país». Falam da Alice no País das Maravilhas», acrescentou, citado pelo portal de La Diaria.

Referindo-se à pobreza, criticou ainda os partidos que apoiam Lacalle Pou por falarem de «frivolidades» durante a campanha para as eleições do próximo dia 27, sem abordarem questões como o aumento da pobreza infantil.

A este propósito, Méndez disse que, de acordo com os dados da Comissão Económica para a América Latina e as Caraíbas da ONU (Cepal), o Uruguai é dos poucos países da região com piores índices de pobreza que antes da pandemia. «Devia dar vergonha a quem governa o país», frisou.

No mesmo contexto, criticou o desmantelamento de políticas de apoio social, referiu-se ao agravamento da situação dos reformados e aos cortes orçamentais na saúde.

Neoliberalismo aprofundou a desigualdade

O dirigente sindical aludiu também a um estudo da Universidade da República de acordo com o qual, entre 2019 e 2023, os salários reais sofreram uma desvalorização, com os trabalhadores a perderem um salário e meio, enquanto mais de sete mil milhões de dólares foram transferidos do trabalho para o capital.

«É difícil que os números mudem no nosso país, porque houve uma política aplicada que fez aumentar o processo da desigualdade», afirmou Enrique Méndez, acrescentando que, em média, os rendimentos dos lares mais ricos cresceram, enquanto os dos mais pobres diminuíram.

Em matéria laboral, o dirigente sindical lembrou que o governo neoliberal de Lacalle Pou procedeu a alterações na lei da negociação colectiva e aprovou leis danosas para os trabalhadores. Disse ainda que uma das razões subjacentes à mobilização é a precariedade crescente, destacando que a qualidade do emprego é «cada vez pior».

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