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Forte contestação aos planos de privatização da Segurança Social no Panamá

A luta contra a privatização da Segurança Social e o aumento da idade da reforma vai continuar, afirmam dirigentes sindicais panamenhos, que denunciam a repressão policial e a atitude do governo.

Familiares e advogados continuam a solicitar informações e acesso aos detidos Créditos / @SuntracsPanama

Em declarações à imprensa proferidas na quarta e na quinta-feira, dirigentes do sindicato dos trabalhadores da construção (Suntracs) denunciaram que cerca de 500 trabalhadores foram detidos por contestarem nas ruas o projecto de Lei 163, actualmente em debate na Assembleia Nacional.

Yamir Córdoba, secretário de organização do sindicato, disse que havia dezenas de desaparecidos, detidos preventivamente pela Polícia, cuja intervenção, no passado dia 12, classificou como «brutal». Posteriormente, indicou que os cerca de 500 detidos estavam em condições inadequadas e que só com muita pressão lhes foi permitido o acesso a advogados e familiares.

Na quarta-feira, centenas de manifestantes, convocados por sindicatos e organizações sociais, deslocaram-se até às imediações do parlamento, na Cidade do Panamá, para expressarem a oposição a uma eventual entrega à banca da Segurança Social e ao aumento da idade da reforma.

Também manifestaram a sua oposição às pretensões expansionistas declaradas pelo actual presidente norte-americano, Donald Trump, relativamente ao Canal do Panamá e repudiaram a atitude pró-EUA do executivo liderado pelo presidente panamenho, José Raúl Mulino.

Acusada de reprimir violentamente os manifestantes sem dizer «água vai» e de os perseguir onde procuraram refúgio, nomeadamente em hospitais, a Polícia foi bastante criticada pela sua actuação. Pelo menos 100 manifestantes e 15 polícias ficaram feridos nos protestos de quarta-feira.

A Polícia foi acusada de ter entrado em locais onde os trabalhadores se refugiaram no dia 12, nomeadamente hospitais, onde amaeaçaram pacientes e utilizaram gás lacrimogéneo / @SuntracsPanama

A atitude de José Raúl Mulino (direita) também foi bastante criticada, depois de se ter referido ao sindicato como «terrorista» e «máfia», e ter prometido «todo o peso da Lei» aos detidos na manifestação – alguns dos quais terão sido espancados sob custódia policial.

«Mulino não responde dessa maneira a Donald Trump, apesar de todas as ameaças que fez contra o nosso território nacional e o nosso país», criticou Córdoba, citado pelo Peoples Dispatch.

A luta vai continuar

Córdoba afirmou que a luta nas ruas não vai parar, mesmo com as intimidações e as designações desrespeitosas dirigidas ao sindicato pelo presidente da República.

«Com estas qualificações, o presidente que temos só vai incendiar os ânimos e o nosso sindicato vai manter as suas acções, sem se deixar amedrontar», destacou, citado pela Prensa Latina.

Por seu lado, o secretário-geral do Suntracs, Saul Méndez, disse que a principal «mafiocracia» no Panamá é integrada por criminosos oligarcas de colarinho branco e políticos corruptos que roubaram o país, e qualificou como «abuso» as tentativas de silenciar as vozes dos trabalhadores descontentes com os planos de grupos oligárquicos de desmantelar o sistema de saúde e segurança social no país centro-americano.

«Querem aumentar a idade da reforma, roubar os recursos dos trabalhadores para os dar aos bancos e administradoras de fundos de pensões privados», acusou, afirmando que toda a gente quer a paz, «mas não a paz dos cemitérios, a paz da miséria e da fome que eles nos querem impor».

«A dignidade e a luta do povo serão postas à prova e triunfarão», frisou.

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