Logo ao meio-dia, milhares de pessoas vieram para as ruas e juntaram-se nas imediações da Casa Rosada, que apareceu cercada de vedações, tal como nas últimas manifestações contra as políticas de miséria impostas pelo governo de Javier Milei.
A 49 anos do golpe de Estado que deu início à ditadura civil-militar na Argentina, no Dia da Memória pela Verdade e a Justiça, milhares de pessoas gritaram «Nunca Mais», em reposta ao apelo lançado por organizações de defesa dos direitos humanos, em conjunto com um amplo espectro de movimentos sociais, partidos políticos e sindicatos – uma unidade que, destaca a imprensa argentina, não se via há quase duas décadas.
Durante a jornada, netos recuperados pelas Avós da Praça de Maio, como Horacio Pietragalla e Victoria Montenegro, condenaram o negacionismo da ditadura promovido pelo actual governo, bem como o desmantelamento das políticas e programas destinados à recuperação da memória histórica antifascista.
Segundo refere a Prensa Latina e vários órgãos da imprensa argentina, o executivo publicou ontem de manhã um vídeo em que reafirma a negação dos 30 mil detidos-desaparecidos durante a ditadura e em que questiona aquilo que se passou então.
Também ontem, o governo decretou a imediata desclassificação de arquivos em poder da Secretaria de Inteligência de Estado ligados às actividades militares e guerrilheiras entre 1976 e 1983 (período da ditadura), refere o Página 12.
No entanto, trabalhadores do Espaço Memória e Direitos Humanos, que funciona na antiga Escola de Mecânica da Armada (um ex-centro clandestino de tortura do fascismo), classificaram a medida como «pura demagogia» e alertaram para as tentativas de «garantir a impunidade» aos genocidas.
Disseram ainda que esse trabalho de desclassificação não se pode realizar, tendo em conta que o governo de Milei correu com os funcionários especializados do Arquivo Nacional da Memória – que agora é dirigido por uma especialista em criptomoedas.
Num comunicado, as Mães da Praça de Maio convidaram o povo argentino a participar nas iniciativas para comemorar esta data e os 48 anos do início da sua luta para exigir justiça para os seus filhos.
Além disso, condenaram a aplicação de um «plano de destruição do aparelho produtivo, a estrangeirização da economia e o brutal endividamento externo, para tornar perpétuas as correntes que atam o destino colectivo ao interesse do imperialismo norte-americano».
«Não deixaremos que roubem as nossas riquezas naturais, deixem o nosso povo sem direitos, nos arrebatem conquistas históricas, nos tirem o salário a reforma», refere o texto.
«Fora com o FMI, a dívida é com o povo»
No final do acto, Estela de Carlotto, Taty Almeida, Elia Espen e Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz, leram o documento oficial da marcha, sublinhando o direito à verdade e ao reencontro que «os netos, as suas famílias e toda a sociedade» têm, face ao terrorismo de Estado.
O documento também exigiu o fim da «repressão e da violência institucional» no país austral, bem como da política de «gatilho fácil, das razias e detenções arbitrárias, perseguições, desaparecimentos e feminicídios».
As organizações promotoras recordaram «o plano de miséria planificada» de há 48 anos, «consequência do plano económico então implementado», e sublinharam que não esquecem os nomes daqueles que beneficiaram com o sangue dos 30 mil: os Blaquier, os Noble Herrera, os Pérez Companc, os Rocca, os Macri, a Ford, a Mercedes Benz, os Martínez de Hoz, entre tantos outros».
Agora, alertaram, «são esses mesmos grupos económicos que beneficiam com o governo de Javier Milei e Victoria Villarruel, para implementar o mesmo modelo económico de miséria e exclusão da maioria do Povo, com a exorbitante concentração do capital e uma maximização dos seus lucros, arrasando com os direitos conquistados pelo nosso povo».
Nesse sentido, denunciaram «a situação social de pobreza em que vivem cada vez mais famílias, o encerramento ou esvaziamento de políticas de assistência aos mais vulneráveis», e exigiram o fim das políticas de destruição da saúde pública e da educação pública, gratuita e laica, refere o Página 12.
Outra das exigências dos organizadores da marcha desta segunda-feira foi o fim do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). «Fora com o FMI! A dívida é com o povo; dinheiro para reformas, medicamentos, emprego, protecção social, habitação, saúde e educação», afirmaram, reclamando ainda a realização de uma greve geral «pelo aumento dos salários, das reformas e os programas sociais».
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