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Em dois anos, vidreiros duplicam a produção sem reflexo nenhum nos salários

Um ambiente «tóxico», temperaturas nos 55ºC, ruído acima dos 105 dB, ar impregnado de vapores de produtos químicos e óleos, incêndios, queimaduras e esmagamentos. Três empresas da Vidralia prolongam greve até dia 15.

Trabalhadores manifestam-se no primeiro dia da greve do sector vidreiro na empresa Santos Barosa, do Grupo Vidrala, exigindo aumentos salariais e melhores condições de trabalho. Marinha Grande, 25 de Março de 2025 
CréditosPaulo Novais / Agência Lusa

A temperatura no sector vidreiro está a ferver. Nas últimas duas semanas, greves convocadas pela Federação Portuguesa dos Sindicatos da Construção, Cerâmica e Vidro (Feviccom/CGTP-IN) e o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira (STIV/CGTP-IN) paralisaram algumas das maiores empresas portuguesas, com adesões de 100% em vários turnos.

As greves nas três empresas do Grupo Vidrala (a Santos Barosa, a Gallo Vidro e a Vidrala Logistics) que se realizaram entre 25 e 29 de Março, e durante as quais os sindicatos registaram «comportamentos e atitudes patronais lesivas do direito de greve», resultou num pedido de reunião rejeitado pelo patronato. Às 21h do dia 11 de Abril, a Gallo Vidro voltou à carga, com uma acção de luta que se prolonga até à madrugada de Domingo, dia 13, às 5h. O primeiro turno na Gallo Vidro paralisou totalmente, com uma adesão de 100%.

Na Santos Barosa, a greve arranca às 5h do dia 14 de Abril e acaba às 5h do dia 15. Os trabalhadores, informa a Feviccom, vão estar em permanência à porta das fábricas das empresas na Marinha Grande.

O vidreiros denunciam a existência de um ambiente de trabalho «tóxico», em que são forçados a exercer a sua profissão sob temperaturas «acima dos 55ºC, ruído acima dos 105 dB, o ar impregnado de vapores de produtos químicos e óleos». Os trabalhadores são sujeitos a incêndios, em que são «a primeira linha de intervenção, queimaduras, entalamentos e esmagamentos de membros», assim como «doenças profissionais (tendinites, bursites, distúrbios de sono, surdez)».

Quem trabalha «por turnos o ano inteiro», no Natal, Páscoa, fins-de-semana ou feriados, e que, com o seu trabalho, duplica, no espaço de dois anos, a produção de garrafas (sem nenhuma valorização e com o mesmo número de trabalhadores) merece «aumentos salariais dignos, respeito e melhores condições de trabalho».

Enquanto os trabalhadores são «aliciados, intimidados ou persuadidos a vir trabalhar nas pausas para colmatar baixas» por exaustão, cansaço e por acidentes de trabalho, denuncia a federação sindical, o Grupo Vidrala apresentou lucros recorde, distribuindo os maiores dividendos de sempre em 2024. O tempo de valorizar os trabalhadores é agora.

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