Delcy Rodríguez deu um conferência de imprensa, esta sexta-feira, em Caracas, depois de o seu país ter recebido uma notificação da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – os restantes quatro membros e fundadores do Mercado Comum do Sul (Mercosul) – a comunicar-lhe o «cessamento do exercício dos direitos inerentes à sua condição de Estado-membro» do bloco referido.
«A Venezuela continuará a participar no Mercosul, temos de defender o nosso legado histórico», declarou Rodríguez, citada pela RT. A chefe da diplomacia venezuelana considerou «não existirem razões jurídicas» para a decisão tomada pelos estados-membros do Mercosul, mas «apenas intolerância política. [O] gérmen do fascismo marca estes factos», declarou.
A representante venezuelana afirmou que nos próximos dias divulgará as provas sobre alegadas irregularidades cometidas na Secretaria do organismo. «Pretendem fazer um golpe de Estado», disse Rodríguez, sublinhado que, se este se vier concretizar, o Mercosul torna-se numa organização ilegal. «Nós mantemo-nos na legalidade do sistema; como tal, a Venezuela não foi notificada», afirmou.
Rodríguez reiterou que a Venezuela irá continuar a ser membro do Mercosul e que «qualquer acção que infrinja esta legalidade é absolutamente nula, insignificante e não possui qualquer efeito».
Todos contra a Venezuela
Foi ontem que a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai notificaram a Venezuela sobre a sua suspensão do Mercosul. Num comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Paraguai refere que a decisão é consequência de a a República Bolivariana não integrar na sua legislação normas-chave sobre comércio e direitos humanos.
Em Setembro, os chefes da diplomacia dos quatro países fundadores do Mercosul firmaram uma declaração relativa ao funcionamento do bloco e sobre o protocolo de adesão da República Bolivariana da Venezuela, no qual se decretava que, a 1 de Dezembro, iriam «analisar novamente o estado de cumprimento das obrigações assumidas» pela Venezuela.
Macri, Temer, Paraguai e tensão crescente
Com a vitória de Macri na Argentina e o golpe de Temer no Brasil, estes países passaram a assumir uma política de confronto directo com o Governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, acusando-o de ter «presos políticos» ou de ser «autoritário». Com o Paraguai, formaram aquilo que a Venezuela catalogou como «Tríplice Aliança», quando, em Agosto, lançaram uma fortíssima ofensiva para impedir que a Venezuela assumisse a presidência pro tempore [temporária] no Mercosul.
Esta presidência têm um carácter rotativo, sendo que os estados-membros a assumem automaticamente, por ordem alfabética, por um período de seis meses. Então, a dita «Tríplice Aliança» avançou com argumentos variados, desde a não incorporação, pela Venezuela, das normas do bloco até à instabilidade política e económica que, diziam, se vivia no país caribenho.
Na altura, o Uruguai chegou a denunciar esta campanha, lançando, inclusive, fortes acusações contra o Brasil. Mas depois outros interesses parecem ter-se imposto, e quem falara com voz grossa, durante algum tempo, deixou de estar.
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