Depois de uma campanha com prognósticos difíceis, foi «só no fim» que os franceses e o mundo souberam que, entre os 11 candidatos, seria Emmanuel Macron, com 24% dos votos previsíveis, e Marine Le Pen, com 21,8% , a passar à segunda volta, que realizar-se-á no dia 7 de Maio. Estas são as primeiras projeções segundo a BFM tv.
O banqueiro e economista Macron candidatou-se sob a capa de independente, apesar de ter sido 15 anos militante do PS e ministro de Hollande até ao momento em que anunciou a intenção de se candidatar. Afirma que não é o candidato de direita nem de esquerda, mas que diz aproveitar «o melhor da esquerda, da direita e do centro». Com este estatuto, aproveitou para se distanciar das mesmas políticas que aplicou enquanto governante até há menos de um ano.
Emmanuel Macron diz-se o «único candidato pró-europeu» e promete aplicar uma política económica «amiga das empresas», em linha com a sua acção enquanto ministro da Economia. Demonstra defender a continuidade das políticas económicas e sociais da União Europeia, do aprofundamento de medidas federalistas, do reforço do eixo franco-alemão e de uma política de continuidade na cena internacional.
7/05
Data da 2.ª volta das eleições presidenciais francesas
Opiniões vão no sentido de que Macron pode ter beneficiado da lógica do «voto útil», tendo em conta que a maioria das sondagens davam ao próprio e a Marine Le Pen o melhor posicionamento.
Já Marine Le Pen, líder da fascista Frente Nacional, a segunda mais votada, beneficiou da «suavização» do discurso da frente Nacional e da capitalização da desilusão dos franceses ao fazer críticas à União Europeia, com um discurso centrado na soberania nacional. Continuou, apesar de estrategicamente mais subtil, com a retórica xenófoba e securitária, aproveitando também o estado de emergência declarado, desde Janeiro de 2015. O fecho das fronteiras foi uma das grandes bandeiras.
Os dois mais votados não ficaram muito longe de outros candidatos, nomeadamente de Jean-Luc Mélenchon, do movimento França Insubmissa, com o apoio de vários partidos de esquerda, que prevê-se conseguir 19,3% (subida significativa relativamente às presidenciais de 2012, em que teve 11% da votação). Mélenchon é deputado no Parlamento Europeu, eleito pelo Partido da Esquerda (que fundou em 2008), em aliança com o Partido Comunista Francês e outras forças.
No seu programa político defendia «a renegociação dos tratados europeus para tentar recuperar a soberania para os cidadãos franceses» e o lançamento da «6.ª República», através de um processo de elaboração de uma nova constituição. É igualmente defensor de mais investimento, da criação de mais emprego e da subida de impostos para os mais ricos.
Desilusão com a alternância
O candidato conservador, François Fillon (Os Republicanos, direita gaullista), envolvido num escândalo relacionado com a contratação de familiares próximos para cargos públicos que nunca ocuparam e indiciado de uso indevido de dinheiros públicos, contou com 19,9% dos votos e assumiu-se como derrotado. Tal não estará desligado do seu programa.
Fillon, que foi primeiro-ministro sob a presidência de Nicolas Sarkozy e que é deputado desde 1981, defende, por exemplo, o aumento das 35 para as 39 horas de trabalho e o corte de 500 000 empregos na função pública, para além de se assumir contra o casamento entre casais do mesmo sexo ou contra a interrupção voluntária da gravidez.
Uma das maiores marcas destas eleições foi a baixa votação do candidato do PS francês, Benoît Hamon, de quem se prevê apenas 6,5 / 7% da votação. Demonstrando a crise no PS, é reflexo da desilusão com as promessas deixadas pelo actual presidente, François Hollande (PS) na sua eleição, em 2012.
Durante a campanha das últimas presidenciais, Hollande prometeu a reversão das reduções fiscais sobre elevados rendimentos, a reposição da idade da reforma nos 60 anos ou a retirada das tropas francesas do Afeganistão. Durante a sua presidência, a idade da reforma sem penalizações foi mantida nos 67 anos e, apesar da retirada do Afeganistão, a França interviu militarmente no Mali, na República Centro-Africana ou na Síria.
Tanto Fillon como Hamon já assumiram apoiar Macron na segunda volta.
Umas das grandes conclusões que se pode retirar dos resultados destas eleições é que existe uma desilusão dos franceses com os partidos que se alternaram no poder durante a 5.ª República. Elemento que podemos verificar também no facto destas eleições terem votações mais dispersas do que as de 2012.
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