Comece-se pelo livros, motivo e opção óbvios, a morte de Baptista-Bastos. Sem ele e a arte e prazer de o ouvir contar estórias ao vivo ficam os livros. Vários dos seus melhores romances, entre outros No Interior da Tua Ausência, A Colina de Cristal, Cão Velho entre Flores, Cavalo a Tinta da China, encontram-se disponíveis (estarão todos?) nas livrarias.
O que se espera é que se faça uma reedição da Biblioteca Baptista-Bastos que a Asa, pela mão de um editor atento e esclarecido, o Manuel Alberto Valente, realizou no alvorecer do século XXI, que agora deveria abranger os últimos romances e crónicas. Fica a sugestão.
No cinema o destaque vai para os últimos dias do IndieLisboa, com propostas cinematográficas bem interessantes a decorrer nos cinemas São Jorge, Ideal e Cineteatro Capitólio, na Cinemateca Portuguesa e na Culturgest. Consulte o programa, até dia 14 quando encerra ainda tem muito por onde escolher.
O outro destaque é para o ciclo Kenji Mizoguchi no cinema Nimas, Lisboa e no Teatro do Campo Alegre, Porto e terá continuidade em Coimbra, Braga, Setúbal e Figueira da Foz.
São os melhores filmes desse realizador que em Contos de Lua Vaga, fez um retrato sem concessões da animalidade e barbárie do homem em situações limite de guerra no contexto da guerra civil no século XVI, na origem do Japão actual.
Uma obra-prima que ganhou o Leão de Prata em Veneza o que deu impulso significativo ao culto da cinematografia japonesa e de Mizoguchi. A crueldade humana volta a ser tema, agora em tempo de paz, nos Amantes Crucificados. Todo o amor sofre castigo até ser condenado à pena de morte por crucificação. Um filme em que o amor é exaltado optando os amantes pela morte para não renegarem a paixão em que se consomem.
A crueldade já não física mas social e moral continua a ser seu tema em As Mulheres de Quem se Fala, num belíssimo cenário arquitectónico de uma casa de gueixas. O ciclo completa-se com outros filmes como Festa em Gion, A Senhora Oyu, A Imperatriz Yang Kwei Fei, O Intendente Sansho, Rua da Vergonha (1956) e O Conto dos Crisântemos Tardios. Um ciclo a não perder, para ver ou rever Mizoguchi. Consultem os programas onde já está a decorrer em Lisboa, e no Porto. Nas outras cidades referidas, cinéfilos estejam atentos.
No teatro, o grande destaque é para Teatro O Bando com uma leitura bem original do O Inferno, da Divina Comédia de Dante, com encenação de João Brites, até 4 de Junho no Teatro Nacional D. Maria II. A 19 de Maio, no Teatro Municipal de Almada-Joaquim Benite, uma oportunidade para quem não conseguiu ver, as salas estiveram sempre esgotadas, Jardim Zoológico de Vidro de Tennessee Williams, dos Artistas Unidos com encenação de Jorge Silva Melo.
Nas exposições continua até 5 de Junho, José Almada Negreiros: uma Maneira de ser Moderno. Outra exposição que merece toda a atenção é Victor Palla e Bento d’Almeida Arquitecturas de Outro Tempo, até 4 de Junho no Centro Cultural de Belém, sobre a obra do atelier desses dois arquitectos que se celebrizaram pela introdução em Portugal do modelo americano do snack-bar, o Galeto é exemplar no seu desenho que resiste ao tempo.
Foram responsáveis pela modernização de inúmeros estabelecimentos comerciais, fábricas, escolas primárias, habitação permanente (moradias unifamiliares e edifícios de habitação multifamiliar) e temporária (hotéis e aldeamentos turísticos).
Victor Palla pelo seu notável trabalho em muitas outras áreas, design de equipamento e gráfico, pintura, fotografia em que se destaca um livro feito em colaboração com Costa Martins, Lisboa, Cidade Alegre e Triste, com poemas de Armindo Rodrigues, David Mourão-Ferreira, Eugénio de Andrade, Jorge de Sena, José Gomes Ferreira e um texto de Rodrigues Miguéis, uma obra-prima de fotografia e de arranjo gráfico, merece uma exposição retrospectiva de toda a sua extensa obra.
Agora, quando o fascismo, que está sempre nas entranhas do capitalismo, volta a rondar em força o mundo, para sabermos o que todos sabemos que Portugal não é um país de brandos costumes e porque não se deve nunca apagar a memória dos anos negros da ditadura do Estado Novo e dos seus safanões a tempo, são de ver as exposições Estranhos Dias Recentes de um Tempo Menos Feliz, no Atelier-Museu Júlio Pomar, tendo por ponto de partida O Almoço do Trolha, de Júlio Pomar, e os tempos de crise e austeridade, apresenta obras de artistas contemporâneos, André Romão, Carlos Bunga, Igor Jesus, Joana Bastos, João Leonardo, João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira, Pedro Barateiro e Rodrigo Oliveira.
Lembrando tempos mais remotos que continuam a ter ecos na actualidade, casos de escravatura continuam a existir em Portugal sobretudo no trabalho agrícola, vejam-se as exposições Racismo e Cidadania, no Padrão dos Descobrimentos e Testemunhos da Escravatura na Academia Militar, no âmbito de Lisboa, Capital Ibero-Americana da Cultura.
No Museu Nacional de Arte Antiga, duas exposições a ver: A Cidade Global- Lisboa no Renascimento e Giovanni Antonio Canal, IL CANALETTO.
«O Canal Grande a partir do Campo San Vio», um pintor que usava um sistema nas origens muito remotas das máquinas fotográficas para reproduzir as imagens que depois transpunha para a pintura com grande rigor o que permitiu que o centro de Varsóvia completamente arrasado pelos nazis fosse reconstituido a partir das pinturas de Canaletto.
A não esquecer, o próximo dia 18 é Dia Internacional dos Museus, comemorado em todos os museus do país. Uma oportunidade a não perder.
Para os alfacinhas, antecipando as Festas da Cidade, inaugurou no dia 9 no Museu da Cidade-Santo António, uma interessante exposição sobre Santo António em Banda Desenhada. José Garcês, Raphael Bordalo Pinheiro, Carlos Botelho, Filipe de Abranches, João Paulo Cotrim e Pedro Burgos, Marcos Farrajota, Nuno Saraiva, Vítor Silva entre outros estão extensivamente representados.
A fechar exposições de artes deixando muitas dentro da gaveta, a de Helena Lapas, Matéria do Tempo, na galeria Ratton e Sérgio Pombo Agora, no Teatro da Politécnica.
Na música, na Casa da Música no Porto, compositores portugueses contemporâneos, com obras recentes outras em estreia, encomendadas por essa instituição, podem ser ouvidos em três concertos com o título genérico O Estado da Nação.
A Orquestra Sinfónica, o Remix Ensemble e a Orquestra Jazz de Matosinhos, visitam um reportório onde se encontram novas versões de obras de João Pedro Oliveira e Pedro Amaral, Luís Tinoco, Cândido Lima, Jorge Peixinho e Daniel Moreira entre outros.
Um alerta com alguma expectativa para Peter Grimes, de Benjamin Britten, no Teatro Nacional São Carlos, nos dias 30 de Maio, 1, 3, 5 e 7 de Junho. É uma das grandes óperas do século XX que está em todos os reportórios operáticos depois do seu sucesso inicial, que é também o primeiro grande sucesso de Britten junto do público e da crítica.
O cenário é uma aldeia piscatória fictícia em que o pescador Grimes enfrenta a acusação da morte do seu aprendiz debatendo-se em grande angústia e solidão contra o veredicto da sua comunidade. Acentuando a exclusão social do personagem central, Britten deixa ao público decidir qual a verdadeira natureza de Peter Grimes.
A fechar, na Antena 2, aos sábados às 22h00, com repetição às segundas-feiras às 13h, o programa de rádio Ao Correr do Som, de Marcos Magalhães e Marta Araújo, os promotores e directores de Os Músicos do Tejo.
Um programa para descobrir a música em perspectivas cruzadas, algumas bastante inesperadas, que abrem novos horizontes para audições musicais estimulantes. Esta semana o 7.º episódio, os anteriores podem ser encontrados na RTP-Play.
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