No que respeita ao resultado do referendo, Foster entende que este representa uma derrota dos principais interesses económicos na Grã-Bretanha, assim como dos seus principais aliados.
«O resultado do referendo é um grande golpe para a classe capitalista dominante na Grã-Bretanha, os políticos ao seu serviço e os seus aliados imperialistas na UE, nos EUA, no FMI e na NATO»
John Foster
«A resposta da direita pró-União Europeia tem sido a tentativa de um duplo golpe contra a democracia – contra a vontade democrática do povo da Grã-Bretanha de sair da UE», afirmou, acrescentando que, como resposta, a esquerda deve «defender o princípio da democracia e transformar o resultado deste referendo numa derrota mais ampla para todo o eixo UE-FMI-NATO».
O voto pela saída da UE «foi principalmente uma expressão de revolta e frustração da classe trabalhadora face ao Governo, aos partidos políticos e aos políticos que não os representam nas questões do emprego, educação, habitação, serviços públicos, padrões de vida e de qualidade de vida em geral», disse, referindo-se também a preocupações como «a erosão da soberania e a capacidade de decisão própria», bem como às «consequências reais ou percepcionadas da imigração em massa».
O dirigente do PCB destacou que a maioria a favor da «saída» só foi possível porque minorias substanciais de apoiantes dos Trabalhistas (37%), dos Verdes (25%) e dos escoceses nacionalistas (36%) –, bem como feministas e cidadãos de origem asiática, rejeitaram a pertença à UE.
Sobre a questão da motivação, Foster denunciou a tentativa dos comentaristas pró-UE tentarem retratar o resultado como uma expressão de racismo e xenofobia. «Foi um factor, mas minoritário», disse, precisando que, de acordo com as sondagens actuais, o maior factor que persuadiu as pessoas a votar pela «saída» foi o «objectivo de restabelecer o controlo democrático sobre tomadas de decisão».
Aposta perdida de Cameron
«O capital financeiro britânico não esperava este resultado. O primeiro-ministro apostou que poderia usar o referendo para restaurar o seu controlo sobre o Partido Conservador e marginalizar o UKIP (Partido da Independência do Reino Unido), mas perdeu a aposta e precipitou uma crise que a classe dominante não sabe como resolver», afirmou.
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Sublinhando as divisões existentes no Partido Conservador, John Foster afirmou que a liderança fiel à saída está agora a ser fortemente pressionada para alterar o resultado, «através da negociação de uma qualquer forma de permanência na UE». Contudo – defende – esse passo colocaria ainda mais a actual liderança dos Tories nas mãos do UKIP e aprofundaria a divisão no seio do partido. Por outro lado, seria visto como um ataque directo à democracia, o que, tendo em conta «o grau de desconfiança e revolta revelado pelo voto», comporta enormes riscos de deslegitimação do sistema.
Pressões e ingerências
«Nas próximas semanas assistiremos a uma intensificação da campanha da UE e dos EUA, bem como dos bancos e das empresas que controlam, em auxílio da elite da Grã-Bretanha, procurando assustar os eleitores para que exijam um novo referendo. Isso pode muito bem conduzir a uma forte desvalorização da libra, a despedimentos de trabalhadores e retenção de fundos», sublinhou.
«A pertença da Grã-Bretanha à UE é crucial para os EUA»
John Foster
«Os bancos norte-americanos situados na City de Londres controlam dois terços dos serviços financeiros na UE e dependem tanto do seu carácter desregulamentado como da sua posição no seio da UE», disse, acrescentando que «esta, por sua vez, é crítica para o posicionamento internacional mais amplo do dólar. Não menos importante, a pertença da Grã-Bretanha à UE é fundamental para a NATO e para contrabalançar a posição mais independente da classe dominante alemã».
«Para contrariar estas pressões, a mobilização da classe trabalhadora será crucial. Imediatamente após o resultado, os maiores sindicatos emitiram uma declaração exigindo respeito pelo resultado. Por seu lado, os comunistas comprometeram-se a trabalhar para esta unidade de classe», concluiu.
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