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Declarações de John Foster ao AbrilAbril

«A mobilização da classe trabalhadora será crucial»

Em declarações ao AbrilAbril, John Foster, Secretário Internacional do Partido Comunista Britânico (PCB), aborda diversos tópicos relacionados com o referendo que no dia 23 de Junho conduziu ao Brexit.

No que respeita ao resultado do referendo, Foster entende que este representa uma derrota dos principais interesses económicos na Grã-Bretanha, assim como dos seus principais aliados.

«O resultado do referendo é um grande golpe para a classe capitalista dominante na Grã-Bretanha, os políticos ao seu serviço e os seus aliados imperialistas na UE, nos EUA, no FMI e na NATO»

John Foster

«A resposta da direita pró-União Europeia tem sido a tentativa de um duplo golpe contra a democracia – contra a vontade democrática do povo da Grã-Bretanha de sair da UE», afirmou, acrescentando que, como resposta, a esquerda deve «defender o princípio da democracia e transformar o resultado deste referendo numa derrota mais ampla para todo o eixo UE-FMI-NATO».

O voto pela saída da UE «foi principalmente uma expressão de revolta e frustração da classe trabalhadora face ao Governo, aos partidos políticos e aos políticos que não os representam nas questões do emprego, educação, habitação, serviços públicos, padrões de vida e de qualidade de vida em geral», disse, referindo-se também a preocupações como «a erosão da soberania e a capacidade de decisão própria», bem como às «consequências reais ou percepcionadas da imigração em massa».

O dirigente do PCB destacou que a maioria a favor da «saída» só foi possível porque minorias substanciais de apoiantes dos Trabalhistas (37%), dos Verdes (25%) e dos escoceses nacionalistas (36%) –, bem como feministas e cidadãos de origem asiática, rejeitaram a pertença à UE.

Sobre a questão da motivação, Foster denunciou a tentativa dos comentaristas pró-UE tentarem retratar o resultado como uma expressão de racismo e xenofobia. «Foi um factor, mas minoritário», disse, precisando que, de acordo com as sondagens actuais, o maior factor que persuadiu as pessoas a votar pela «saída» foi o «objectivo de restabelecer o controlo democrático sobre tomadas de decisão».

Aposta perdida de Cameron

«O capital financeiro britânico não esperava este resultado. O primeiro-ministro apostou que poderia usar o referendo para restaurar o seu controlo sobre o Partido Conservador e marginalizar o UKIP (Partido da Independência do Reino Unido), mas perdeu a aposta e precipitou uma crise que a classe dominante não sabe como resolver», afirmou.

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Sublinhando as divisões existentes no Partido Conservador, John Foster afirmou que a liderança fiel à saída está agora a ser fortemente pressionada para alterar o resultado, «através da negociação de uma qualquer forma de permanência na UE». Contudo – defende – esse passo colocaria ainda mais a actual liderança dos Tories nas mãos do UKIP e aprofundaria a divisão no seio do partido. Por outro lado, seria visto como um ataque directo à democracia, o que, tendo em conta «o grau de desconfiança e revolta revelado pelo voto», comporta enormes riscos de deslegitimação do sistema.

Pressões e ingerências

«Nas próximas semanas assistiremos a uma intensificação da campanha da UE e dos EUA, bem como dos bancos e das empresas que controlam, em auxílio da elite da Grã-Bretanha, procurando assustar os eleitores para que exijam um novo referendo. Isso pode muito bem conduzir a uma forte desvalorização da libra, a despedimentos de trabalhadores e retenção de fundos», sublinhou.

«A pertença da Grã-Bretanha à UE é crucial para os EUA»

John Foster

«Os bancos norte-americanos situados na City de Londres controlam dois terços dos serviços financeiros na UE e dependem tanto do seu carácter desregulamentado como da sua posição no seio da UE», disse, acrescentando que «esta, por sua vez, é crítica para o posicionamento internacional mais amplo do dólar. Não menos importante, a pertença da Grã-Bretanha à UE é fundamental para a NATO e para contrabalançar a posição mais independente da classe dominante alemã».

«Para contrariar estas pressões, a mobilização da classe trabalhadora será crucial. Imediatamente após o resultado, os maiores sindicatos emitiram uma declaração exigindo respeito pelo resultado. Por seu lado, os comunistas comprometeram-se a trabalhar para esta unidade de classe», concluiu.

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