Os resultados do terceiro trimestre mostram que a antiga empresa pública, hoje nas mãos da família Amorim, continua a registar lucros cada vez mais elevados – apesar de o preço do petróleo se manter a menos de metade do que acontecia entre 2011 e 2014.
Nos primeiros nove meses do ano, a Galp registou 416 milhões de euros de lucros, uma subida de 15% face ao mesmo período de 2016. Só no terceiro trimestre, os lucros ultrapassaram os 165 milhões, uma subida de 45%, face ao período homólogo, de acordo com a informação enviada à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Matéria-prima transformada e vendida em Portugal
Esta será uma das empresas que mais irá contribuir para a receita com o aumento da derrama estadual para as empresas com mega-lucros (mais de 35 milhões de euros). Como fizemos com a EDP e a Jerónimo Martins, fomos perceber o que seria preciso para que os receios dos patrões, do PSD, do CDS-PP e de figuras do PS – de fuga das grandes empresas com a subida do imposto – se concretizassem.
A produção da Galp está distribuída entre Moçambique (onde tem 10% da exploração de gás natural) e os campos petrolíferos de Brasil e Angola – inserida em consórcios com a Petrobras, no primeiro caso, e com várias petrolíferas, no país africano. No entanto, só 5% das receitas com vendas da empresa resultam do produto antes de refinação.
Os produtos petrolíferos refinados deram à Galp um encaixe, no ano passado, de cerca de 10 mil milhões de euros. E as duas refinarias da Galp estão localizadas em Portugal: Matosinhos e Sines. Não só é ali que é transformado o crude como ainda é produzida electricidade.
A saída da Galp de Portugal exigia, assim, a complexa (para não dizer impossível) operação de pegar em duas refinarias e colocá-las noutro ponto do globo. Mas mesmo que o fizesse, a empresa teria ainda outro problema: é que mais de metade das vendas são feitas a clientes directos (ou seja, não representa exportações nem vendas a outras petrolíferas) e é em Portugal que a Galp tem mais de 700 postos de abastecimento e o essencial dos seus clientes.
Não se pode fugir duas vezes: uma história de amor entre o grande capital e o regime fiscal holandês
Mas se a caracterização aponta para semelhanças para com a EDP, a estrutura accionista da Galp tem semelhanças com a Jerónimo Martins: também tem como principal accionista uma das famílias mais ricas do País através de uma filial na Holanda.
Tal como os donos do Pingo Doce, a família Amorim prefere aproveitar o paraíso fiscal holandês para fugir aos impostos portugueses. Mas o peso de duas refinarias de onde saem 330 mil barris de petróleo diariamente, dos 720 postos de combustível e dos milhões de clientes em Portugal não permitem antever uma fuga da petrolífera.
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