O Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) aprovou esta terça-feira, por unanimidade, uma resolução sobre o tráfico de seres humanos em «países em conflito», na qual se prevê uma maior partilha no acesso a informações entre os países-membros, de modo a desenvolverem bancos de dados na luta contra este fenómeno.
O texto considera particularmente importante a denúncia de grupos terroristas, que fomentam o tráfico de seres humanos «aproveitando-se da fraqueza de Estados debilitados por conflitos» – é o caso da Líbia, um Estado mais do que «debilitado», na sequência da intervenção da NATO, em 2011, e onde esse tráfico tem sido registado e denunciado.
Recentemente, um órgão de comunicação social norte-americano, que em 2011 fez parte da máquina que alimentou a campanha de mentiras que viriam a «sustentar» a intervenção externa na Líbia, divulgou uma reportagem em que se vêem migrantes a serem leiloados em plena rua, neste país, para depois serem utilizados como escravos na agricultura ou na construção.
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), «os refugiados e migrantes – subsarianos na sua maioria – que conseguem sobreviver ao chegar à Líbia são metidos em centros de detenção, casas e garagens, em condições deploráveis, onde são submetidos a torturas e violações constantes, para depois serem vendidos como escravos», indica a TeleSur.
«(...) migrantes são obrigados a telefonar aos seus familiares para pedir um resgate, sendo ameaçados e espancados»
Esta agência das Nações Unidas conseguiu reunir testemunhos de migrantes que são obrigados a pôr-se em contacto telefónico com os seus familiares para pedir um resgate, «enquanto são ameaçados e espancados».
A aprovação da resolução no CSNU segue-se aos apelos lançados pelo secretário-geral da organização, António Guterres, no sentido da existência de uma maior cooperação nesta matéria. Guterres, que disse sentir-se «horrorizado» com a alegada venda de migrantes africanos como escravos na Líbia, exigiu que os factos sejam investigados com urgência, para que «os responsáveis sejam levados à Justiça».
«Devemos agir imediatamente para proteger os direitos e a dignidade das populações migrantes», disse o secretário-geral da ONU, salientando a necessidade «de atacar as causas profundas da migração».
Num estado destruído pela NATO, a escravatura
Num texto recentemente publicado na Rede Voltaire, «Memorandum sobre a Líbia – Mentiras contra o Estado, o Guia e o exército», Saif al-Islam Khadafi, filho de Muammar Khadafi, libertado este ano, expõe a campanha de mentiras que justificaram a intervenção da NATO, em 2011, com o apoio de países árabes, e conduziram à destruição e fragmentação do Estado líbio.
No texto, Saif al-Islam Khadafi denuncia os «dois pesos e duas medidas» do Tribunal Penal Internacional, «envolvendo personalidades líbias em crimes inventados, enquanto ignorava e não condenava o bárbaro linchamento perpetrado contra Muammar Khadafi e contra o seu filho Moatassem pelas milícias que a NATO apoiava».
O documento sublinha como as milícias que a NATO apoiou fracturaram o país, destruindo cidades e infra-estruturas vitais nos últimos seis anos, e detalha os crimes contra Humanidade, variados e horrendos, por elas cometidos. Saif al-Islam Khadafi acusa as instâncias internacionais de terem fechado os olhos e decidido ignorar esses crimes.
Em 2010, a Líbia era o país com maior Índice de Desenvolvimento Humano no continente africano, de acordo com dados das Nações Unidas. Hoje, com os seus imensos recursos aquíferos, petrolíferos e de gás a saque, a população das cidades líbias, sofre escassez de água, cortes de luz e falta de instalações médicas.
Para além disso, as principais ligações rodoviárias estão cortadas, em virtude das operações militares e da proliferação de milícias. Os sequestros, o tráfico de armas e de pessoas são frequentes.
Foi neste país do Norte de África que se redescobriu «o flagelo» da escravatura. E, com horror, a existência de «redes de tráfico» que maltratam os «migrantes», afligidos por «cenários de guerra».
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