Jesús Santrich, ex-comandante do grupo guerrilheiro FARC-EP, membro do Conselho Político da Força Alternativa Revolucionária do Comum (FARC) e um dos cinco representantes deste partido político na Câmara dos Representantes da Colômbia, foi preso esta segunda-feira em sua casa, em Bogotá.
De acordo com o procurador-geral Néstor Humberto Martínez, a detenção, efectuada por elementos do Corpo Técnico de Investigação do Ministério Público colombiano, ocorreu na sequência de um mandado de captura internacional emitido nos Estados Unidos da América, no qual se solicita a extradição de Santrich para esse país, onde um tribunal o acusa de «tráfico de estupefacientes».
«Montagem e sabotagem»
Por seu lado, a FARC classificou a detenção de Santrich, «um dos negociadores principais e signatários» do acordo de paz, como uma «montagem e sabotagem» «a quem esteve empenhado até à alma no processo de paz».
Iván Márquez, do Conselho Político da FARC, sublinhou no Twitter que se trata do «pior momento que o processo de paz está a atravessar» e que o «governo deve actuar e impedir que montagens jurídicas desemboquem em factos como este, que provocam grande desconfiança».
Também no Twitter, Victoria Sandino, membro da direcção nacional da FARC, chamou a atenção para o carácter «delicado e perigoso» desta situação, que «confirma mais uma vez o que temos vindo a denunciar relativamente à insegurança jurídica e à falta de garantias que possuem os membros do partido FARC».
Santrich entra em greve de fome
Ao final do dia, apoiantes da FARC e gente que defende o cumprimento dos acordos de paz concentraram-se frente à sede do Ministério Público, em Bogotá, para protestar contra a detenção de Jesús Santrich e exigir «respeito pelos acordos firmados».
Por seu lado, o responsável da FARC detido anunciou, através do seu advogado, Gustavo Gallardo, que entrava em greve de fome. Santrich deixou uma mensagem de «coragem e esperança», sublinhando que continuará «a lutar até às últimas forças pela liberdade, pela paz e pela nova Colômbia». Mas também deixou alertas sobre «este processo de paz falhado», afirmando que «todas as FARC devem preparar-se para o que aí vem», informa a TeleSur.
Já o presidente da República, Juan Manuel Santos, disse que, se o Supremo Tribunal de Justiça confirmar as acusações do Ministério Público (via Embaixada dos EUA em Bogotá), Santrich será extraditado e que «não lhe tremerá a mão ao dar a autorização», revela a Prensa Latina.
«Plano orquestrado pelos EUA com o apoio do MP colombiano»
Numa conferência de imprensa que hoje deu na capital da Colômbia, o Conselho Político Nacional da FARC denunciou que «a detenção de Santrich faz parte de um plano orquestrado pelo governo dos Estados Unidos com o apoio do Ministério Público colombiano».
Iván Márquez disse que a «montagem jurídica ameaça alastrar a todo o ex-comando fariano com o objectivo de decapitar a direcção política» do partido FARC e, assim, «sepultar os anseios de paz do povo colombiano».
Lembrando que as FARC-EP não eram o causador do «negócio corporativo transnacional da cocaína», Márquez afirmou que a detenção de Santrich responde também à necessidade de fabricar um pretexto para justificar «a fracassada "guerra contra as drogas"».
«O pretexto não podia ser outro senão o do prolongamento das nossas alegadas actividades criminosas, para impedir o direito conquistado à participação política, incluindo a representação no Congresso», disse o membro do Conselho Político Nacional da FARC.
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