|Forças Armadas

Críticas às Novas Tabelas de Aptidão para o serviço militar

A Associação de Praças não vê que a alteração da altura e a definição de doenças crónicas impeditivas de acesso às Forças Armadas aumentem o recrutamento ou a retenção dos militares nas fileiras.

Militares da Unidade de Elite do Exército Português em parada. Centro de Tropas de Operações Especiais em Lamego, 23 de setembro de 2016.
CréditosNuno André Ferreira / Agência Lusa

Do ponto de vista da Associação de Praças (AP), «este não é o caminho para resolver a falta de efectivos nas Forças Armadas», nem será «com medidas avulso» que o Ministério da Defesa Nacional «resolverá a falta de efectivos». Pelo contrário, só com carreiras atractivas, nomeadamente «a promoção por diuturnidade de 1º Marinheiro a Cabo e com uma valorização salarial efectiva», sublinha a AP, em comunicado divulgado esta quinta-feira.

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O desgoverno dos assuntos militares

O que tem faltado, e continua a faltar, é uma visão integrada do problema que as Forças Armadas atravessam e vontade de, com coragem, o enfrentar.

Participação de militares nas comemorações do Dia da Marinha, em Vila do Conde, 21 de maio de 2017
Fingir que se está a fazer alguma coisa para não ir aos reais problemas que podem contribuir para Reter e Recrutar, é prosseguir o rumo do desastre CréditosJOSE COELHO / LUSA

O debate sobre a atractividade da carreira militar não é novo. O problema das Forças Armadas portuguesas no plano do recrutamento também não. Dados do Pordata apontam para uma perda de cerca de 10 mil militares nas fileiras nacionais entre 2004 e 2022, quase um terço. A falta de efectivos tem-se tornado de tal forma evidente que já não é possível escondê-la, considerando que são cada vez mais frequentes notícias que dão conta precisamente desta situação. Por outro lado, os chefes militares já o têm assumido, aproximando-se da ideia de que os actuais níveis do efectivo militar colocam em causa a missãoA própria ministra da Defesa Nacional (MDN) já concordou com a importância de rever as tabelas salariais, embora seja necessário passar das palavras aos actos, deixando para trás o discurso propagandista do governo que tem imperado nesta área.

«Dados do Pordata apontam para uma perda de cerca de 10 mil militares nas fileiras nacionais entre 2004 e 2022, quase um terço. A falta de efectivos tem-se tornado de tal forma evidente que já não é possível escondê-la, considerando que são cada vez mais frequentes notícias que dão conta precisamente desta situação»

Posto isto, importa perceber porque é que não há uma linha de acção única e contundente do MDN para o recrutamento. Se o diagnóstico está há muito feito, como se explica a inércia governativa que continua a permitir a sangria de militares das Forças Armadas? Em Abril, a MDN apresentou o Plano de Acção para a Profissionalização do Serviço Militar, qual remédio milagroso para os males anunciados, mas que pouco mais é do que uma amálgama de quadros vazios de soluções.

Por parte dos três ramos, assistimos a uma acção desarticulada entre si. O mais recente exemplo disso é um conjunto de linhas traçadas numa directiva do CEMA (Chefe de Estado-Maior da Armada) para dar resposta ao problema do efectivo. Por um lado, leva a algumas preocupações no que diz respeito aos quesitos de entrada, com tendencial flexibilização relativa a áreas como as provas físicas, que perdem o carácter eliminatório, ou a saúde. Por outro lado, o surgimento de ideias como o pagamento de uma prestação aquando do ingresso de um militar (porquê apenas na Marinha?!), como se fosse essa a panaceia, ou de edificação de um complexo habitacional próprio, designado por «Aldeia Naval». Mas, o problema da habitação e dos seus elevados custos só afectam os militares da Marinha? O apoio social no âmbito de creches, por exemplo, só envolve os militares da Marinha?

Tudo isto e outras matérias, não requereriam da parte do Ministério da Defesa uma visão integrada e medidas de conjunto? Quer o governo que os filhos de militares só convivam com filhos de militares? Os exemplos acima referidos servem como ilustração para a falta de uma concepção global para responder aos problemas existentes, incluindo a falta de visão para o aproveitamento de recursos humanos que seriam úteis em áreas da Função Pública que tão depauperada está.

«[…] as necessidades de fundo estão identificadas: revisão do sistema remuneratório assente numa real valorização salarial; elevar a formação e as certificações, e dignificar as carreiras e as funções definidas; responsabilizar de baixo para cima, introduzindo novas formas de organização e funcionamento que valorizem os homens e as mulheres que prestam serviço na instituição»

O que tem faltado, e continua a faltar, é uma visão integrada do problema que as Forças Armadas atravessam e vontade de, com coragem, o enfrentar. Prosseguir o caminho de «deitar poeira para para os olhos», de fingir que se está a fazer alguma coisa para não ir aos reais problemas que podem contribuir para Reter e Recrutar, é prosseguir o rumo do desastre. E as necessidades de fundo estão identificadas: revisão do sistema remuneratório assente numa real valorização salarial; elevar a formação e as certificações, e dignificar as carreiras e as funções definidas; responsabilizar de baixo para cima, introduzindo novas formas de organização e funcionamento que valorizem os homens e as mulheres que prestam serviço na instituição.

Ora, não só nada disto está nas prioridades, como está a ser criado um ambiente de tensão que, desde logo, contribui para o recorrente uso da expressão popular «tirem-me daqui» e que, como se tem visto, tem vindo a ter sucesso. E, já agora, propagandear um aumento de 70€ na componente fixa do suplemento da condição militar como um feito histórico, é realmente não compreender nada do que se passa.

Tipo de Artigo: 
Editorial
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O Ministério da Defesa anunciou ontem que doenças crónicas como «diabetes tipo 2 não insulino tratada, disfunções tiroideias e outras de foro endocrinológico» já não são impedimento para ingressar nas Forças Armadas. A altura mínima também foi reduzida, para os 1,54 metros para homens e mulheres.

Por outro lado, a AP rejeita a ideia defendida pela ministra da Defesa Nacional de «que os militares são uma das categorias cuja remuneração média mensal mais subiu, mais de 9%, em relação à Administração Pública, que subiu 5%», considerando que esse aumento se ficou a dever à actualização do «Salário Mínimo Nacional que obrigou a que as posições remuneratórias mais baixas fossem alavancadas, causando com isso uma compressão nos vencimentos das posições remuneratórias imediatamente a seguir». Nesse sentido, afirma tratar-se não de «aumento efectivo e real dos salários dos militares», mas da tentativa de «enganar os mais incautos, que com isso pensam que de facto houve uma valorização salarial».

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