Um novo ponto de encontro foi inaugurado este sábado, no centro da capital paulista, para eventos culturais e de formação, para venda de livros e de alimentos saudáveis produzidos pelo MST. O Armazém do Campo e a livraria da editora Expressão Popular partilham agora um espaço na Alameda Nothmann, no Bairro de Campos Elíseos.
De acordo com João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, a escolha da zona para o novo espaço não foi ao acaso, sendo que o objectivo é «incidir nas disputas» que envolvem o desenho futuro do centro de São Paulo.
Palco histórico de manifestações e da acção de movimentos populares, a zona é alvo da especulação imobiliária e de processos de gentrificação, revela o Brasil de Fato. Ao mesmo tempo, concentra uma boa parte da população em situação de rua da cidade, bem como a chamada Cracolândia (espaço assim denominado pelo tráfico e consumo de estupefacientes que ali têm lugar).
O MST nasceu em Janeiro de 1984, em Cascavel (Paraná), tendo-se tornado um dos maiores movimentos populares da América Latina. Actualmente, está organizado em 24 estados do Brasil. Há 40 anos, cerca de 100 pessoas juntaram-se em Cascavel para participar no 1.º Encontro Nacional Sem Terra – evento no qual surgiria o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Logo no ano seguinte à fundação, teve lugar o primeiro Congresso Nacional do MST, no qual se afirmou que «sem a terra não há democracia». O congresso, que decorreu entre 29 e 31 de Janeiro de 1985, foi um marco histórico para os sem-terra. Ali seriam construídos os lemas «Terra para quem nela vive e trabalha» e «Ocupação é a Única Solução». Quadro décadas passadas, o MST está organizado em 24 estados brasileiros, com 185 cooperativas, 1900 associações, 120 agro-indústrias, cerca de 400 mil famílias assentadas e outras 70 mil a viver em acampamentos, indica o Brasil de Fato. No âmbito das comemorações dos 40 anos de existência, teve início esta segunda-feira o encontro da coordenação nacional do MST, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (São Paulo). O MST surgiu em Janeiro de 1984, em Cascavel (Paraná). Num encontro nacional, os trabalhadores do campo definiram como principais objectivos a luta pela terra, pela reforma agrária e por mudanças sociais. No 1.º Encontro Nacional Sem Terra, «esteve presente a classe trabalhadora rural de 12 estados do Brasil», refere o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que nasceu num contexto marcado pela agitação social, o declínio da ditadura militar, a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT; 1980) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT; 1983). Em Cascavel, no Sul do Brasil, foram abordadas as principais lutas travadas pelo «povo sem terra» face às políticas governamentais sobre a questão fundiária brasileira, e foi afirmada a «indignação» dos trabalhadores do campo relativamente às desigualdades sociais, à fome, à miséria, ao desemprego, bem como à impunidade de centenas de assassinatos de camponeses devido a conflitos de terra. «A situação de opressão e exploração a que cada vez mais são submetidos os lavradores e os sem-terra em suas lutas de defesa fazem com que estes comecem a agir contra o projeto da burguesia, que quer se apropriar de toda a terra e, em vez de só se defenderem, começam a luta pela reconquista», declara uma carta subscrita no encontro. Um ano depois da fundação do movimento, teve lugar o primeiro Congresso Nacional do MST, no qual se afirmou que «sem a terra não há democracia». O congresso, que decorreu entre 29 e 31 de Janeiro de 1985, foi um marco histórico para os sem-terra. Ali foram construídos os lemas «Terra para quem nela vive e trabalha» e «Ocupação é a Única Solução». O MST surgiu em Janeiro de 1984, num encontro nacional de trabalhadores do campo celebrado em Cascavel (Paraná). A luta pela terra, pela Reforma Agrária e por mudanças sociais eram objectivos primeiros. No 1.º Encontro Nacional Sem Terra, «esteve presente a classe trabalhadora rural de 12 estados do Brasil», lê-se no portal do MST. Num contexto marcado pela agitação social, o declínio da ditadura militar, a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT; 1980) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT; 1983), ali haveria de nascer o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). No encontro, foram abordadas as principais lutas travadas pelo «povo sem terra» face às políticas governamentais sobre a questão fundiária brasileira, e foi afirmada a «indignação» dos trabalhadores do campo relativamente às desigualdades sociais, à fome, à miséria, ao desemprego, bem como à impunidade de centenas de assassinatos de camponeses devido a conflitos de terra. «A situação de opressão e exploração a que cada vez mais são submetidos os lavradores e os sem-terra em suas lutas de defesa fazem com que estes comecem a agir contra o projeto da burguesia, que quer se apropriar de toda a terra e, em vez de só se defenderem, começam a luta pela reconquista», lê-se numa carta subscrita no encontro. Um ano depois do encontro que marcou a fundação do movimento, realizou-se o primeiro Congresso Nacional do MST, afirmando que «Sem a terra não há democracia». O congresso, que decorreu entre 29 e 31 de Janeiro de 1985, foi um marco histórico para os sem-terra. Ali se construíram os lemas «Terra para quem nela vive e trabalha» e «Ocupação é a Única Solução», sublinhando que a democracia no Brasil tinha de passar pela reforma agrária. Nos anos seguintes, «foi por meio das ocupações de latifúndios que o povo sem terra se rebelou contra o monopólio da terra pela classe dominante, cultivando a terra e as suas culturas por diversos estados do país», destaca o portal do MST. Com o passar dos tempos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra foi conquistando reconhecimento a nível nacional e internacional, ganhou legitimidade enquanto «movimento de massas e luta da classe trabalhadora do campo por justiça social e uma vida digna», e foi integrando novas lutas no seu acervo, nomeadamente em defesa da soberania alimentar, da cultura e educação popular, da saúde comunitária e do Sistema Único de Saúde para toda a sociedade brasileira. O MST completa 37 anos de existência num contexto de pandemia e mostrando a força da agricultura familiar e da sua organização de base. Apesar dos ataques do governo de Bolsonaro, o movimento doou mais de 3000 toneladas de alimentos em 2020, para ajudar a população a enfrentar a pandemia do novo coronavírus. Sobre isto e as expectativas para 2021, o Brasil de Fato conversou com Maria de Jesus Santos Gomes, figura histórica do movimento, que participou na primeira ocupação de terra no seu estado – o Ceará –, em 1990, e hoje integra a direcção nacional e o sector de educação do MST. Na entrevista, Gomes fala sobre o desafio do protagonismo feminino no movimento e aponta a agro-ecologia como saída para a crise alimentar no país. «A opção pela produção saudável tende a crescer no Brasil e a única classe que pode ofertar alimentos saudáveis é a classe camponesa. Somos nós, os agricultores e agricultoras desse país», sublinha. Sobre o desmantelamento de políticas públicas aprofundado pelo governo de Bolsonaro, além do apoio incondicional a ruralistas e até o incentivo à violência no campo, Maria de Jesus explica as contradições pregadas pelo agronegócio e reforça que o movimento seguirá firme em defesa das bandeiras populares. «Nós sabemos o que queremos com o campo brasileiro: nós queremos a reforma agrária popular. E, como esse programa não se realizou, nós estamos muito firmes na defesa desse projecto. O agronegócio não tem capacidade de fornecer alimentos para a população brasileira, porque o propósito dele não é esse», aponta. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Ali, foi definida a principal estratégia de acção política do movimento nos anos seguintes: a ocupação popular de terras improdutivas para a reforma agrária, sublinhando que a democracia no Brasil tinha de passar pela reforma agrária. Em declarações citadas pelo Brasil de Fato, Izabel Grein, militante do MST, afirmou: «O movimento nasce da experiência da força colectiva. Eu acho que essa é uma primeira questão que a gente aprende no movimento: a clareza e a coerência com os objectivos e os princípios organizativos que esse movimento se pautou lá no início.» «O princípio da necessidade da luta pela terra, da organização colectiva, da necessidade da Reforma Agrária e da transformação da sociedade para poder fazer uma verdadeira distribuição de terra no país. Não só uma distribuição, mas uma nova forma de olhar a questão da terra na sociedade», disse. Actualmente, o MST é composto por cerca de 550 mil famílias assentadas e acampadas, organizadas em 24 estados brasileiros, que participam 1900 associações comunitárias, 160 cooperativas e 120 agro-indústrias, produzindo alimentos saudáveis, refere o Brasil de Fato. Desde o início da pandemia de Covid-19, em 2020, o MST levou a cabo várias campanhas de solidariedade, tendo doado mais de 6000 toneladas de alimentos e mais de 1,1 milhões de marmitas para pessoas e famílias em situação de fome e insegurança alimentar. Este balanço foi feito após a conclusão da campanha «Natal Sem Fome», promovida pelo movimento entre Dezembro de 2020 e o início de Janeiro, no âmbito da qual cerca de 250 mil pessoas receberam alimentos, marmitas solidárias e ceias especiais de Natal em 24 estados do Brasil. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. As actividades, anuncia o movimento no seu portal, prolongam-se até ao próximo sábado, contando com a participação de 400 trabalhadores sem-terra representantes de 24 estados do país sul-americano. Também no âmbito deste aniversário, o MST irá realizar, em Julho, o seu 7.º Congresso Nacional, sendo esperadas cerca de 15 mil pessoas em Brasília. O último evento do género, lembra o Brasil de Fato, ocorreu em 2014, quando o movimento definiu que, para além da democratização do acesso à terra, era preciso disputar o modelo produtivo de agricultura. Foi então que acrescentou a palavra «popular» à reforma agrária que defende, reivindicando de forma mais contundente, por exemplo, os debates ambientalistas e a defesa da agroecologia. Para o geógrafo Bernardo Mançano, autor, entre outros, do livro A formação do MST no Brasil e investigador do movimento desde o início, o momento mais crítico do MST foi nascer. «O movimento nasce no seio da ditadura. Ele já nasce com cicatrizes políticas de um processo que prendeu e ceifou vidas, mas ainda assim consegue conquistar territórios e começar o processo de espacialização da luta», disse Mançano. O caldo em que surge a fundação do MST foi o das lutas pela redemocratização na viragem das décadas de 1970 e 1980, com ocupações de latifúndios feitas por agricultores no estado do Rio Grande do Sul. Uma das mais icónicas foi a Encruzilhada Natalino, em Dezembro de 1980, que recebeu grande apoio da Igreja Católica e da população da região. O MST surgiu em Janeiro de 1984, num encontro nacional de trabalhadores do campo celebrado em Cascavel (Paraná). A luta pela terra, pela Reforma Agrária e por mudanças sociais eram objectivos primeiros. No 1.º Encontro Nacional Sem Terra, «esteve presente a classe trabalhadora rural de 12 estados do Brasil», lê-se no portal do MST. Num contexto marcado pela agitação social, o declínio da ditadura militar, a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT; 1980) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT; 1983), ali haveria de nascer o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). No encontro, foram abordadas as principais lutas travadas pelo «povo sem terra» face às políticas governamentais sobre a questão fundiária brasileira, e foi afirmada a «indignação» dos trabalhadores do campo relativamente às desigualdades sociais, à fome, à miséria, ao desemprego, bem como à impunidade de centenas de assassinatos de camponeses devido a conflitos de terra. «A situação de opressão e exploração a que cada vez mais são submetidos os lavradores e os sem-terra em suas lutas de defesa fazem com que estes comecem a agir contra o projeto da burguesia, que quer se apropriar de toda a terra e, em vez de só se defenderem, começam a luta pela reconquista», lê-se numa carta subscrita no encontro. Um ano depois do encontro que marcou a fundação do movimento, realizou-se o primeiro Congresso Nacional do MST, afirmando que «Sem a terra não há democracia». O congresso, que decorreu entre 29 e 31 de Janeiro de 1985, foi um marco histórico para os sem-terra. Ali se construíram os lemas «Terra para quem nela vive e trabalha» e «Ocupação é a Única Solução», sublinhando que a democracia no Brasil tinha de passar pela reforma agrária. Nos anos seguintes, «foi por meio das ocupações de latifúndios que o povo sem terra se rebelou contra o monopólio da terra pela classe dominante, cultivando a terra e as suas culturas por diversos estados do país», destaca o portal do MST. Com o passar dos tempos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra foi conquistando reconhecimento a nível nacional e internacional, ganhou legitimidade enquanto «movimento de massas e luta da classe trabalhadora do campo por justiça social e uma vida digna», e foi integrando novas lutas no seu acervo, nomeadamente em defesa da soberania alimentar, da cultura e educação popular, da saúde comunitária e do Sistema Único de Saúde para toda a sociedade brasileira. O MST completa 37 anos de existência num contexto de pandemia e mostrando a força da agricultura familiar e da sua organização de base. Apesar dos ataques do governo de Bolsonaro, o movimento doou mais de 3000 toneladas de alimentos em 2020, para ajudar a população a enfrentar a pandemia do novo coronavírus. Sobre isto e as expectativas para 2021, o Brasil de Fato conversou com Maria de Jesus Santos Gomes, figura histórica do movimento, que participou na primeira ocupação de terra no seu estado – o Ceará –, em 1990, e hoje integra a direcção nacional e o sector de educação do MST. Na entrevista, Gomes fala sobre o desafio do protagonismo feminino no movimento e aponta a agro-ecologia como saída para a crise alimentar no país. «A opção pela produção saudável tende a crescer no Brasil e a única classe que pode ofertar alimentos saudáveis é a classe camponesa. Somos nós, os agricultores e agricultoras desse país», sublinha. Sobre o desmantelamento de políticas públicas aprofundado pelo governo de Bolsonaro, além do apoio incondicional a ruralistas e até o incentivo à violência no campo, Maria de Jesus explica as contradições pregadas pelo agronegócio e reforça que o movimento seguirá firme em defesa das bandeiras populares. «Nós sabemos o que queremos com o campo brasileiro: nós queremos a reforma agrária popular. E, como esse programa não se realizou, nós estamos muito firmes na defesa desse projecto. O agronegócio não tem capacidade de fornecer alimentos para a população brasileira, porque o propósito dele não é esse», aponta. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «Aqueles colonos estavam numa tentativa de sobrevivência muito concreta, certamente não pensavam no que isso viria a ser. Mas, olhando no retrovisor da história, foi uma inovação do formato de luta por terra no Brasil: a ocupação com lona preta», sublinha Ceres Hadich, da coordenação nacional do MST. «A Encruzilhada Natalino inaugurou um jeito de pensar a luta pela reforma agrária e fazer política que viria a ser uma das grandes marcas do MST», resumiu. Gilmar Mauro, também da coordenação nacional, não esteve no encontro fundacional do MST, em 1984, mas integrou-se logo no ano seguinte, quando fez 18 anos. Nascido na cidade de Capanema, numa região paranaense de pequenos agricultores, Gilmar participou na ocupação de Marmelheiro, que em 1986 se tornaria um assentamento regularizado. Esta foi uma de muitas tomadas de latifúndio que o movimento realizou na região Sul logo após o seu surgimento. Inspirados em experiências anteriores como a das Ligas Camponesas e do Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), os criadores do MST definiram que ele seria nacional e teria três objectivos: a luta por terra, pela reforma agrária e por transformação social. «Já no início o movimento experimentou a produção com cooperativas», afirmou Ceres. «A educação também sempre teve um papel fundamental. Percebemos que era preciso criar nosso jeito de educar, formular uma pedagogia sem-terra», disse, destacando a experiência das escolas itinerantes. Pouco depois, o movimento enfrentaria a sua década mais sangrenta, mas também aquela em que se deu a conhecer ao Brasil. Se a violência no campo esteve presente ao longo dos 40 anos do MST, para Hadich o período entre 1995 e 2010 é aquele em que a conjugação «Estado, milícia e latifúndio se revela especialmente». Dia 17 cumpre-se o 25.º aniversário do Massacre de Eldorado do Carajás. Apesar da pandemia, o «Abril Vermelho» não esquece os trabalhadores rurais assassinados e a defesa da reforma agrária. Tal como em 2020, as actividades agendadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para o «Abril Vermelho» são condicionadas pelo contexto da pandemia de Covid-19. O movimento, que tomou a decisão de promover as medidas sanitárias em defesa da vida, recorre a formas «criativas de actuação», sem abdicar de duas questões fundamentais: a homenagem aos 21 trabalhadores rurais assassinados, em 1996, por agentes da Polícia Militar em Eldorado do Carajás, no estado do Pará; reivindicar a reforma agrária popular. Num país em que os trabalhadores rurais, na sua luta pela terra, tiveram de fazer frente a grande violência e à impunidade associada, o Massacre de Eldorado do Carajás possui forte carga simbólica. Como forma de homenagem aos trabalhadores assassinados e àquilo que representam, 17 de Abril passou a ser o Dia Internacional da Luta Camponesa – uma data escolhida pelas organizações que compõem a Via Campesina. Numa entrevista ao portal do MST, Ayala Ferreira, membro da direcção nacional do movimento e do Coletivo Nacional de Direitos Humanos do MST, relembrou a brutalidade do massacre no Pará, falou da impunidade, das acções previstas para o «Abril Vermelho» e da situação no campo brasileiro, por falta de políticas do governo federal à agricultura camponesa e familiar. Sobre o massacre perpetrado há 25 anos na «curva do S», em Eldorado do Carajás, no Pará, a dirigente destacou a «violência extrema». Além das 21 pessoas mortas – «dez das quais executadas já rendidas» –, 69 foram mutiladas (algumas com as foices e os facões que usavam no trabalho), referiu a dirigente, acrescentando que o governo e o Estado como um todo assumiram uma atitude «de não-mediação, de não-negociação». «O massacre revelou que o Estado está do lado do latifúndio, que não tem interesse em implementar a Reforma Agrária mesmo estando prevista na Constituição Brasileira. É o Estado que alimenta o aprofundamento e a ampliação dos conflitos no campo», denunciou. Ayala Ferreira enfatizou ainda a impunidade que envolve a violência contra os trabalhadores do campo no Brasil. Dos 1468 casos registados, apenas 117 foram a julgamento. «Muitos desses julgamentos levaram à absolvição de mandantes e executores desse tipo de massacre, como o que ocorreu em Eldorado», disse. Com o «Abril Vermelho», o MST procura organizar jornadas de luta e mobilizações massivas. No entanto, nestes «tempos difíceis», o movimento assumiu a primazia das medidas sanitárias e a garantia da vida, por entender que, ao fazê-lo, tem «a possibilidade de garantir a superação de tantos outros problemas que são impostos» no actual contexto. Em simultâneo, ao assumir que «é impossível deixar de rememorar o dia 17 de Abril por tudo o que representa», as actividades terão um pendor mais criativo, nos territórios, assentamentos e acampamentos espalhados pelo país, e nas redes, nos espaços virtuais, para fortalecer a defesa do «projecto de desenvolvimento do campo, com a democratização da terra e a implementação de outras práticas para além do agronegócio», disse. O «Abril Vermelho» está marcado para o período entre 17 e 21 de Abril, incluindo, entre outras iniciativas, o 15.º Acampamento Nacional da Juventude Sem Terra Oziel Alves Pereira; um acto político virtual, também internacional, para «fazer a memória, reafirmar a vida e denunciar a total paralisação da Reforma Agrária no contexto do governo Bolsonaro» (dia 17, às 10h); acções ligadas à campanha de plantio de árvores e produção de alimentos saudáveis (dia 21). Sobre o agronegócio – «modelo hegemónico no campo brasileiro» –, Ayala Ferreira afirmou que «não serve para resolver os problemas concretos do povo brasileiro». «Se a gente quiser pensar num projecto de desenvolvimento nacional em que os trabalhadores e as trabalhadoras estejam incluídos, é necessário estabelecer-se um conjunto de reformas no nosso país», disse, sublinhando que isso passa «pela democratização do acesso à terra, hoje extremamente concentrada» no Brasil. «Acredito no nosso esforço de denunciar esse modelo do agronegócio e reafirmar a Reforma Agrária, a agricultura familiar como um modelo de desenvolvimento, que pode, sim, contribuir com a sociedade como um todo», frisou. Questionada sobre os desafios mais urgentes que a actual conjuntura coloca à luta pela terra no Brasil, a dirigente do MST afirmou que, desde 2016, o país «passou por profundas e drásticas transformações ocasionadas por essa reformulação da classe dominante que impôs o impeachment a Dilma Rousseff e retomou com muita força uma agenda neoliberal, agora na figura do actual presidente Jair Bolsonaro». Este último, lembrou, apontou que «os camponeses, do MST, o movimento sindical, as comunidades tradicionais como indígenas e quilombolas são inimigos que representam o atraso». Neste sentido, disse, «um dos nossos desafios é manter-nos vivos e inteiros diante de um governo que assumidamente cumpre os interesses do agronegócio, do latifúndio, e tem feito um conjunto de acções para desconstruir tudo aquilo que nós fomos conquistando». No que respeita ao processo de condenação dos responsáveis pelo assassinato dos 21 trabalhadores em Eldorado do Carajás, a dirigente dos sem-terra disse que 155 polícias estiveram envolvidos e que há quase 20 mil páginas associadas aos julgamentos, que «sofreram aquilo a que chamamos uma construção deliberada da impunidade», ao longo de vários momentos. Como exemplo da «articulação política com o Poder Judiciário», referiu que esta tirou do processo o [governador do Pará] Almir Gabriel e o secretário de Segurança Pública, Paulo Sérgio Cabral, além de ter absolvido 143 polícias envolvidos. «Houve também a absolvição por parte dos media [d]os dois comandantes da operação, o coronel Mário Colares Pantoja e o major José Maria Oliveira», acusou. Num segundo julgamento, estes seriam condenados à pena máxima, «inclusive por terem coordenado a acção», mas manteve-se a decisão de absolver os polícias militares e de não incluir no processo o então governador Gabriel o secretário de Segurança Pública. Tanto o coronel como o major puderam recorrer da decisão em liberdade. E ficaram anos assim, até que, em 2004, a decisão do Tribunal Superior foi de manter a condenação dos dois e absolver os polícias. Ambos tiveram de ir para a cadeia, mas ficaram ali pouco tempo; recorreram novamente e conseguiram ficar em casa, cumprindo prisão domiciliária. «Actualmente o processo está aberto nessas condições. No ano passado, em função da Covid-19 o coronel Mário Colares Pantoja morreu, e em anos anteriores, tanto o secretário de Segurança Pública quanto o ex-governador Almir Gabriel também vieram a falecer», revelou Ayala Ferreira. E acrescentou: «Os nossos camponeses dizem "houve justiça divina, mas não houve justiça na terra", porque não houve justiça entre os homens, pois aqueles que mandaram e aqueles que executaram o crime tiveram o direito de viver mais tempo fora da cadeia do que nela.» Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O massacre de Eldorado do Carajás, que fez do 17 de Abril o dia mundial de luta pela terra, é o mais emblemático destes episódios. No entardecer daquele dia de 1996, cerca de 1500 sem-terra chegavam ao local conhecido como Curva do S, no Sudoeste do Pará, a caminho de Belém para reivindicar ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a desapropriação de uma fazenda. Cercados e atacados por 155 agentes da Polícia Militar, 21 camponeses foram assassinados e 79 ficaram feridos. A comoção com o ataque, que teve cenas televisionadas, foi imensa, afirma o Brasil de Fato, lembrando que o debate sobre a reforma agrária tomou o centro da agenda política brasileira. Em 1997, três marchas simultâneas convocadas pelo MST saíram de pontos diferentes do país e caminharam durante cerca de dois meses até chegar a Brasília, no dia em que o massacre fez um ano, juntando perto de 100 mil pessoas. «Foi histórico. Mas não foi o MST que colocou 100 mil. Foi a sociedade que aderiu. E colocou o movimento em outro patamar», salientou Gilmar Mauro. Naquele 17 de Abril de 1997 foi lançado o livro de fotos Terra, de Sebastião Salgado, sobre luta pela terra, com uma apresentação de José Saramago e acompanhado por um CD de Chico Buarque. Os três artistas doaram os direitos de autor do trabalho ao MST, que, com o dinheiro arrecadado, construiu a Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (São Paulo). É nessa fase pós-massacre de Eldorado do Carajás que a TV Globo transmite a novela O rei do gado. Com um enredo que envolve um romance entre uma sem-terra e um fazendeiro, a novela teve, no entender de Gilmar Mauro, «o intuito de domesticar o MST, de desfazer o conflito». «Mas teve o efeito contrário. Acabou difundindo o tema da reforma agrária e o MST a nível nacional», disse. Para Gilmar, 1997 é um ano de viragem para o movimento. «Ganhámos as cidades. Principalmente as universidades. Muita gente entra para o movimento. Até surge uma palavra de ordem na época: "reforma agrária se faz no campo, mas se conquista na cidade"», relembrou. O crescimento, no entanto, não fez cessar a violência. Para Ceres, um dos marcos da nova roupagem da repressão, acompanhando as mudanças do agronegócio a partir dos anos 2000, com o boom da exportação de commodities, os transgénicos e a financeirização, foi a morte de Keno, como era conhecido o agricultor Valmir Mota de Oliveira. Em Outubro de 2007, aos 34 anos, Keno foi assassinado por seguranças contratados pela transnacional suíça Syngenta. Ele participava, com outras 150 pessoas da Via Campesina – articulação internacional de movimentos populares do campo que o MST integra –, numa ocupação na cidade de Santa Tereza do Oeste (Paraná). A acção denunciava a ilegalidade dos experimentos que a empresa, uma gigante do sector de transgénicos e agrotóxicos, fazia na zona. Os militantes foram atacados por 40 homens armados da empresa NF Segurança. Além de Keno, a agricultora Isabel Nascimento de Souza foi colocada de joelhos para ser executada. Quando o tiro veio, ela ergueu a cabeça e foi atingida no olho direito. Ficou cega, mas sobreviveu. Outros três activistas ficaram feridos. Em 2018, a Syngenta foi condenada pelo Tribunal de Justiça do Paraná. «’O diferencial do assassinato do Keno pela Syngenta é que a gente não estava falando mais da violência do latifundiário, do jagunço. A gente estava falando da transnacional, daquela empresa que está no mundo impondo os transgénicos, que tem sede na Suíça», afirmou Hadich. Hoje, no local onde Keno foi morto, funciona o Centro de Pesquisas em Agroecologia Valmir Mota de Oliveira. As décadas de 1990 e 2000, analisou Ceres, «revelaram a violência do capital e do agronegócio e, nesta dor, nos permitiu ser acolhidos pela sociedade brasileira. Escancarou isso: são trabalhadores pobres do campo que não têm nada, que estão numa luta digna e estão apanhando, morrendo por conta disso. Foi um período que, contraditoriamente, nessa violência e nesse luto, revelou à sociedade um MST que ninguém conhecia». Outra viragem na história do MST ocorreu em 2014. A agroecologia – modelo de agricultura baseado em princípios ecológicos e relações socialmente justas, sem utilização de fertilizantes sintécticos, agrotóxicos ou sementes transgénicas – já vinha a ser incorporada pelo movimento desde o início dos anos 2000. Foi no seu último congresso, no entanto, que o MST consolidou o entendimento de que o enfrentamento ao agronegócio é, para além da disputa pelo pedaço de chão, uma disputa de modelo, sobre como se trabalha naquela terra. «Entendemos que não faz sentido a defesa de uma reforma agrária puramente distributivista e produtivista, ao estilo clássico. Mas que no Brasil, pelas condições características, precisaríamos de avançar para outro tipo, sim de reparto fundiário, mas pensando de outra forma a questão ecológica, produtiva, alimentos saudáveis e assim por diante», explicou Gilmar Mauro. «É um salto de qualidade imenso», frisou. Em 2024, o 7.º Congresso Nacional deve sistematizar o próximo salto. «Essa é uma grande expectativa», disse Ceres Hadich: «acertar na síntese que vai apontar por onde vamos caminhar nos próximos anos.» Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra faz 40 anos
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MST: há 38 anos a lutar pela democratização da terra no Brasil
Definição de princípios e linhas de acção: a «terra para quem nela trabalha»
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A violência, a reacção e o boom do MST
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Eldorado do Carajás, 25 anos de impunidade e de luta pela terra
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Segundo indica a fonte, o actual governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (direita), anunciou a intenção de transferir para o Bairro de Campos Elíseos o centro administrativo do governo estadual, no âmbito de um designado processo de «requalificação» da zona, por meio de uma parceria público-privado (PPP).
A este propósito, João Paulo Rodrigues afirma: «Nós não podemos deixar que esse bairro seja um novo shopping center, uma Faria Lima ou coisa parecida. Tem que manter essa tradição do popular e, acima de tudo, de alternativa: um modelo de São Paulo que nós defendemos.»
«Inaugurámos este espaço para debater cultura, educação e alimentação no centro de São Paulo, uma das cidades mais importantes do mundo, numa região popular, abandonada pelo Estado», disse o dirigente do MST ao Brasil de Fato. «O Estado vai ter que achar uma alternativa de como tratar o tema da Cracolândia. Acho que a esquerda também deveria tratar esse tema com o devido cuidado», frisou.
«Nós, os movimentos populares, estamos dizendo: é possível ter espaços bonitos, de qualidade e que sejam organizados e tocados pelo povo», declarou o dirigente do MST, acrescentando: «Por isso é muito mais que o espaço da livraria, do Armazém do Campo. É um modelo de socialização dos espaços urbanos das grandes capitais.»
A inauguração
Com um programa que durou o dia todo, a inauguração do novo espaço ficou marcada por jogos, música, comida, apresentações culturais, intervenções de representantes políticos e activistas.
Nascida a 29 de Janeiro de 1999, no seio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Expressão Popular «direccionou-se para a transformação social», afirma Miguel Yoshida, seu coordenador editorial. A Expressão Popular surgiu no âmbito da campanha de construção da Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST. Nesse contexto do final do século XX, também marcado pelo avanço do neoliberalismo, a editora e livraria consolidou-se como meio de divulgação de ideias progressistas, formação de militantes e democratização do acesso à literatura. Desde então, a editora publicou mais de 700 títulos, reunindo trabalhos de mais de mil autores, mantendo preços acessíveis. Numa breve entrevista ao portal do MST, Miguel Yoshida, coordenador editorial da Expressão Popular, sublinha que a editora pretende trazer sempre nos materiais que publica a compreensão da luta de classes contemporânea, a agroecologia, a pedagogia socialista e a publicação de clássicos marxistas. Outro elemento destacado é o facto de, neste quarto de século, a Expressão Popular não se ter limitado a «observar», mas também ter participado activamente nas várias etapas políticas do Brasil. Desde o início, durante o governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, até aos desafios recentes impostos pelo «desgoverno» de Jair Bolsonaro, a editora assumiu o compromisso de intervir na batalha das ideias e de facultar leituras que «permitam à militância compreender o momento actual, organizar-se de maneira eficaz e projectar alternativas sociais». MST: Para iniciar, gostaríamos que compartilhasse um pouco sobre a jornada da Editora Expressão Popular ao completar 25 anos. Como surgiu a iniciativa popular e que desafios e conquistas marcantes ao longo desses anos moldaram a Expressão Popular até aqui? Miguel Yoshida: A editora teve seu início no final de 1998 e início de 1999, período em que os movimentos populares enfrentavam o neoliberalismo no governo de Fernando Henrique Cardoso. Destaco marcos significativos, como o massacre de Eldorado dos Carajás em 1996 e a marcha do MST em 1997, eventos que impulsionaram a busca por uma nova formação teórica. Nesse contexto, havia uma carência de títulos marxistas no Brasil, resultado da queda do Muro de Berlim em 1989 e da subsequente desilusão com o socialismo. Diante dessa lacuna, os movimentos populares sentiram a necessidade de criar uma editora para fortalecer teoricamente a militância. Assim, surgia a Expressão Popular, inicialmente focada na formação dos militantes. A editora, desde seu início, direccionou-se para a transformação social, inspirando-se em figuras como Lénine, Rosa Luxemburgo e Che Guevara. O primeiro livro publicado foi a biografia de Lénine, Lenin: A Revolução Russa, seguido por uma colectânea de textos de Rosa Luxemburgo e um sobre o pensamento de Che Guevara – O pensamento de Che Guevara, do Michel Levy. A solidariedade marcou a essência da Expressão Popular desde o princípio, evidenciada pelo facto de que Isabel Loureiro e Michel Levy, ambos reconhecidos intelectuais à época, cederam os direitos autorais de seus trabalhos para a editora. Este princípio de conhecimento compartilhado e a busca pela transformação social continuam a nortear a editora até aos dias de hoje. MST: A Expressão Popular tem como objectivo oferecer livros de qualidade a preços acessíveis. Como a editora mantém esse compromisso ao longo dos anos, especialmente considerando os desafios económicos e as pressões do mercado editorial? MY: Isso tem sido um grande desafio, né? Não só para nós, mas para o conjunto do mercado editorial. Ainda mantemos o princípio da solidariedade, dialogando constantemente com autores e colaboradores nessa perspectiva de cessão de direitos autorais, o que acontece na maioria dos casos. Há diversas formas de contribuição: alguns pedem apenas alguns exemplares para divulgação, enquanto outros ficam satisfeitos em ver seu conhecimento sendo compartilhado. Esse princípio não se perdeu ao longo do tempo. E com mais de 700 títulos publicados, envolvendo um grande número de pessoas, todos compreendem que a editora está a serviço de uma causa maior: a transformação da realidade brasileira. Isso nos ajuda a resolver o problema, apesar dos desafios. A afirmação é de Carlos Bellé, cuja trajectória de vida se mistura com a da editora Expressão Popular, que ajudou a fundar. São já 20 anos a contribuir para a formação política no Brasil. A livraria e editora Expressão Popular surgiu em 1999 no seio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na sequência da campanha de construção da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF). Numa entrevista que concedeu ao Brasil de Fato há dois anos, Carlos Bellé, que integra a equipa da editora desde o seu início, falou sobre o seu surgimento: «Estávamos naquele recuo político da queda do Muro de Berlim, do "não existe alternativa", "o capitalismo venceu", "não tem mais outro jeito", "vai ter que viver nessa miséria de divisão da sociedade entre ricos e pobres"», disse, referindo-se ao contexto em que nasce a Expressão Popular. Em seu entender, o surgimento da editora decorreu também do declínio que então se verificava ao nível da formação em organizações populares, sociais e político-partidárias da esquerda brasileira que tinham surgido no período da redemocratização. A Expressão Popular nasceu então com o intuito de «fornecer subsídio político e ideológico para formar a militância e a classe trabalhadora». Bellé sublinha que a editora, com as suas características, «só tem sentido se contribuir para a formação de um militante entendido em todas as suas necessidades, desde a formação humana até a capacitação intelectual e política». O preço acessível dos livros é um objectivos da editorial, para que, assim, possa «apoiar militantes e trabalhadores que queiram aprimorar as suas formações», refere o Brasil de Fato, explicando que muitos autores que «se identificam com a missão da editora e querem contribuir para um projecto de transformação social» não cobram direitos. Ao longo do seu percurso, a Expressão Popular passou por diversos momentos de agitação política, dando sempre o seu contributo para a «disputa de ideias». Quando nasceu, o Brasil passava pelo governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso. Posteriormente, durante os governos petistas (2003-2015), assumiu «o papel de debater e ajudar a compreender o modelo de actuação política», apontando temas para a discussão com a militância, refere o portal brasileiro. Mais recentemente, viveu o golpe contra Dilma Rousseff e enfrenta agora o governo de Jair Bolsonaro. «A nossa militância precisa de ler para entender o momento actual, se organizar melhor, desenvolver melhor a luta e projectar uma sociedade alternativa e socialista», afirma Carlos Bellé. Para esse efeito, a editora adequa-se aos períodos históricos que os trabalhadores enfrentam. Miguel Yoshida, coordenador editorial, explica que o processo de escolha dos temas passa pela abordagem à luta de classes contemporânea, à agroecologia, à pedagogia socialista – que abarca as experiências de educação, cultura e literatura emancipadoras ao longo da história – e inclui a publicação de livros clássicos marxistas. Actualmente, a editora conta com 587 títulos publicados, 150 pontos de distribuição em todo o país, e prossegue a missão de chegar a cada vez mais trabalhadores. Entre os autores publicados contam-se Paulo Freire, Florestan Fernandes, Augusto Boal, Ademar Bogo, Eduardo Galeano, Rosa Luxemburgo, entre muitos outros. Em Junho de 2017, nasceu o Clube do Livro. A ideia é criar uma rede de leitores que tenham acesso mensal a títulos, a partir de uma assinatura fixa mensal, a fim de enriquecer os debates políticos sobre a conjuntura. «O Clube é um grande instrumento de formação política em termos de Brasil», diz Bellé. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Contamos com a solidariedade não apenas de autores, mas também de tradutores e revisores. Embora tenhamos uma equipe profissionalizada, a solidariedade é crucial. Por outro lado, precisamos operar dentro das normas do mercado editorial, enfrentando desafios relacionados a gráficas, papel e outros custos da produção do livro. Tentamos equalizar esses gastos, mas estamos sujeitos às regras do mercado. Buscamos maneiras de ter canais de distribuição directa para chegar ao público a preços mais acessíveis, o que continua sendo um desafio. Antes da pandemia, tínhamos nossos livros em 150 pontos pelo Brasil, contando com diversas formas de distribuição. Com a pandemia, a retomada dessa política tornou-se mais difícil, mas estamos buscando adaptar-nos à nova conjuntura, mantendo a solidariedade na produção e distribuição dos livros. Novamente, é um conjunto de vontades solidárias que compõe a essência da editora. MST: Você citou que actualmente a editora conta com mais de 700 publicações nestes 25 anos. Como a editora tem buscado diversificar seu catálogo e como é feita esta curadoria do que é publicado? MY: A editora inicialmente estava mais voltada para a militância dos movimentos populares. Este era o princípio norteador. Sem abandonar esse compromisso, a editora expandiu seu alcance ao longo do tempo. Temos um público diversificado, incluindo um considerável público universitário, composto por professores e estudantes interessados em nossas obras. A organização do nosso catálogo e linha editorial é baseada em quatro eixos editoriais que guiam nossa produção. O primeiro eixo é denominado «Clássicos do Marxismo», uma marca da editora desde sua fundação. Recuperámos textos da tradição marxista, abrangendo autores como Marx, Engels, Lénine, Rosa Luxemburgo, Clara Zetkin e Mariátegui, contribuindo para diversas áreas do conhecimento. O segundo eixo é a «Pedagogia Socialista», compreendida em uma perspectiva ampla além da educação escolar. Desde a Comuna de Paris em 1871 até às tradições da Revolução Russa e da educação soviética, buscamos inspiração para pensar a educação, incluindo debates contemporâneos sobre a educação no campo. Isso inclui uma colecção de literatura, reflectindo sobre a formação cultural e a educação dos sentidos. O terceiro eixo, «Luta de Classes Contemporânea», foca na compreensão da dinâmica da sociedade actual. Analisamos a movimentação do grande capital, os eixos de acumulação de capital e as possíveis lutas políticas diante das contradições da luta de classes hoje. O quarto eixo, «Agroecologia», não apenas reflecte nossa relação com o MST, mas também aborda a questão ambiental essencial para a vida no planeta. Exploramos a agroecologia não apenas em termos técnicos, mas também nas implicações políticas, relacionando-a à crise ambiental e à produção no campo. Dentro desses quatro eixos, diversas colecções abordam temas específicos, reflectindo a maneira como organizamos nossa produção editorial. MST: Ao celebrar esse marco de 25 anos, quais as perspectivas e objectivos futuros da Editora Expressão Popular? MY: Temos projectos em andamento que seguem a essência da editora. Desde 2020, por exemplo, desenvolvemos o projecto chamado União Internacional de Editoras de Esquerda. Diante da persistência e intensificação do imperialismo, que impacta nossos territórios e a classe trabalhadora nos países do Sul Global, enfatizamos o internacionalismo como princípio fundamental. Essa união, iniciada com a LeftWord Books, da Índia, e a Batalha de Ideias, da Argentina, agora conta com aproximadamente 50 editoras, abrangendo do Chile à Coreia do Sul. Essa união possui três iniciativas centrais. A primeira é a publicação de «livros conjuntos», onde decidimos publicar um livro em várias línguas simultaneamente. No ano passado, lançámos um livro sobre os 50 anos do golpe no Chile em diversas línguas, promovendo a diversidade linguística. O objectivo é disseminar o pensamento do Sul Global globalmente. A segunda iniciativa é o «intercâmbio de catálogo», possibilitando a publicação de títulos interessantes em diferentes países de forma solidária, fortalecendo a rede entre as editoras. Além disso, destacamos o «Dia dos Livros Vermelhos» em 21 de Fevereiro, marcando o lançamento do Manifesto Comunista em 1848. A campanha busca tornar esse dia significativo para a cultura de esquerda, promovendo a leitura colectiva de livros inspiradores. Outro projecto importante é o Clube do Livro Especial, iniciado em 2017 e actualizado em 2023. Com foco na resistência à ofensiva imperialista, o Clube do Livro Sul Global publica textos de autores ainda não publicados ou esquecidos no Brasil, promovendo o pensamento do Sul Global. Autores como Fidel Castro, Martha Alencar, José Carlos Mariátegui, Ruth Furst e Thomas Sankara são incluídos, fortalecendo teoricamente a luta anti-imperialista. Esses projetos são estratégicos para o fortalecimento da editora. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Expressão Popular, há 25 anos a formar militância e consciência social no Brasil
Internacional|
«A nossa militância precisa de ler para entender o momento e se organizar melhor»
Duas décadas de vida
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À tarde, foi lançada uma reedição – com a chancela da Expressão Popular – de Vidas Secas, obra clássica de Graciliano Ramos. Escrito entre 1937 e 1938, o romance aborda a história, a relação e as emoções de uma família migrante do sertão nordestino, atravessada pela seca, a fome e a luta pela sobrevivência.
Armazém e livraria
Os armazéns do campo surgiram há oito anos como aposta do MST para um espaço de diálogo entre o campo e a cidade, com o intuito de mostrar à população urbana aquilo que é produzido nas áreas de reforma agrária. Actualmente, há 30 lojas destas espalhadas por todo o país sul-americano.
Por seu lado, a Expressão Popular é uma editora, fundada em 1999 com o objectivo de produzir livros a preços acessíveis. Para tal, conta com autores que habitualmente cedem os direitos de criação, tradução ou imagem, bem como com a ajuda voluntária nas várias etapas da produção dos livros.
Em 25 anos de existência, em que se consolidou como um meio de divulgação de ideias progressistas, formação de militantes e democratização do acesso à literatura, a Expressão Popular publicou cerca de 700 títulos, 400 dos quais constituem o catálogo permanente da editora.
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