Durante a noite de quinta para sexta-feira a aviação israelita bombardeou «cerca de 100 locais na Faixa de Gaza cercada», refere em comunicado o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM). «Nestas condições», prossegue o comunicado, «a comissão organizadora da Grande Marcha do Retorno “apelou para o adiamento das marchas” de hoje [sexta-feira] a título excepcional», «num esforço para manter a calma na Faixa de Gaza e evitar escaladas».
«É a primeira vez que as manifestações são interrompidas desde o seu início», há um ano atrás («há 51 semanas», precisa o MPPM), e essa decisão excepcional pode estar relacionada com o imediato «cessar-fogo mediado pelo Egipto», o qual «terá entrado em vigor» desde as «8h da manhã locais».
O protesto da Grande Marcha do Retorno teve início a 30 de Março de 2018, no Dia da Terra Palestina, e deveria ter-se prolongado até dia 15 de Maio de 2018 – quando se assinalou o 70.º aniversário da Nakba (Catástrofe) palestiniana, que se refere à expulsão de mais de 750 mil palestinianos das suas terras, durante a limpeza étnica levada a cabo pelas forças sionistas em 1948, antes e depois da formação do Estado de Israel.
Os protestos dos palestinianos, no entanto, prolongaram-se durante praticamente um ano, face à falta de resposta adequada pelas autoridades israelitas e, pelo contrário, ao agravamento da legislação sionista e instituição, na prática de leis de apartheid no território controlado pelo Estado de Israel.
Os acontecimentos
Dois rockets foram lançados sobre Tel Aviv na noite de quarta para quinta-feira, a partir da Faixa de Gaza, o que não acontecia desde a agressão israelita de 2014 (operação Margem Protectora). As facções armadas na Faixa de Gaza — Hamas, Jihad Islâmica, Frente Popular para a Libertação da Palestina e Comités de Resistência Popular — negaram todas a responsabilidade pelo lançamento dos rockets.
Aliás, sublinha o comunicado do MPPM, «no momento dos disparos a direcção do Hamas» reunia «com uma delegação egípcia, para discutir uma trégua prolongada com Israel», com «o Ministério do Interior e Segurança de Gaza» a declarar que «o disparo dos mísseis violava o acordo entre as facções da resistência e o consenso nacional para evitar uma escalada militar com Tel Aviv», tendo anunciado vir a tomar «as medidas necessárias contra os responsáveis» pelos disparos.
Os ataques aéreos israelitas, os mais intensos dos últimos cinco meses, foram desencadeados em resposta ao disparo dos dois rockets e foram dirigidos sobre alvos que o exército sionista afirmou pertencerem ao Hamas. Israel tem por norma responsabilizar automaticamente o Hamas, qualquer que seja a autoria real dos disparos a partir da Faixa de Gaza, por aquele movimento ser a força governante no território.
O Ministério da Saúde da Palestina em Gaza confirmou terem ficado feridos quatro palestinos, um casal na cidade de Rafah e duas outras pessoas na cidade de Gaza. A resistência palestiniana respondeu aos ataques disparando vários rockets sobre Israel, sem resultados conhecidos.
Um incidente com contornos estranhos
«O exército israelita», aparentemente fundamentado nos seus informadores infiltrados em Gaza, tornou já público que «os rockets foram disparados “por engano”, durante trabalhos de manutenção». Os ataques aéreos parecem ter sido efectuados com precisão cirúrgica, provocando sérios prejuízos materiais mas sem causar vítimas mortais.
O comunicado do MPPM sublinha o facto de «este episódio, cuja verdadeira origem ainda está por esclarecer», ter tido «imediata repercussão na campanha eleitoral» em curso «para as eleições legislativas antecipadas de 9 de Abril», em Israel.
Na verdade, o incidente permitiu aos opositores do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu desdobrarem-se em declarações violentamente agressivas, aos pés das quais o «falcão» Netanyahu parece uma «pomba». O comunicado do MPPM regista que «Naftali Bennett, do partido Nova Direita (e ministro da Educação do governo cessante), reclamou a retomada da política de assassínio dos dirigentes do Hamas» e que «Benny Gantz, ex-chefe de Estado Maior das Forças Armadas e cabeça de lista da coligação Azul e Branco (dita de “centro-esquerda”!), afirmou que “só acções agressivas e duras restaurarão a dissuasão que foi corroída”» sob a vigência do actual primeiro-ministro, e que «ver criticado [Netanyahu] pela pela sua “brandura” diz muito sobre o ambiente em que decorre a campanha eleitoral israelita (e sobre o clima ideológico em Israel)».
E conclui que uma campanha «em que os principais contendentes parecem querer ultrapassar-se uns aos outros em agressividade e ódio» aos palestinianos «suscita fundados receios de uma nova escalada» contra estes, «no futuro próximo».
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