«A questão da destruição de Raqqa e o assassinato de milhares de inocentes pela ilegítima coligação liderada pelos EUA não obtiveram a atenção internacional necessária até hoje», afirmaram esta segunda-feira as autoridades sírias, sublinhando que este facto permanece como «um dos crimes mais feios», do qual a comunidade internacional «nunca soube os detalhes».
«Chegou o momento de esclarecer os aspectos humanitários, políticos e legais da questão», escreveu o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Síria em duas missivas dirigidas ao secretário-geral da ONU, António Guterres, e à actual presidente do Conselho de Segurança da ONU, Barbara Woodward.
Damasco classificou a declaração recente de potências ocidentais «sobre o 8.º aniversário do conflito na Síria» como «um documento histórico de mentira, hipocrisia, engano e falsificação». Os enviados para a Síria dos governos norte-americano, francês, britânico e alemão emitiram, no passado dia 15, uma declaração «sobre o 8.º aniversário do conflito na Síria», na qual deixam claro que não vão contribuir para a reconstrução da Síria até que «um processo político credível, substantivo e genuíno esteja irreversivelmente em curso». Referindo-se aos três primeiros países, o Ministério sírio dos Negócios Estrangeiros denuncia que se tratam dos «principais responsáveis pelo sangue derramado na Síria e noutros países da região». Num comunicado divulgado pela agência SANA, afirma que «a evolução dos acontecimentos veio mostrar que aquilo que a Síria e alguns países da região hoje vivem é o resultado de um complô ocidental dirigido pelos Estados Unidos para submeter a vontade dos países da região», conduzi-los «a um passado colonial numa nova forma», «saquear as suas riquezas e recursos, e fortalecer "Israel" à custa dos direitos e interesses árabes». O documento acrescenta que os países desse «novo projecto colonial» não deixaram de lado nenhum tipo de instrumento para alcançar os seus objectivos, tendo recorrido à pressão política, ao assédio económico, à desinformação e à mobilização de milhares de assassinos extremistas em grupos terroristas», como o Daesh e a Frente al-Nusra. «Deram todo o tipo de apoio logístico, financeiro e bélico a esses grupos radicais para destruir os países da região e derramar o sangue dos seus povos, além de esgotar as suas energias com o propósito de os enfraquecer e transformar em peões de fácil envolvimento no projecto conspirativo e agressivo», refere o documento. A diplomacia síria denunciou os crimes brutais e as atrocidades cometidos pelos grupos terroristas em todo o território sírio, bem como os que foram cometidos pelos países da chamada «coligação internacional» liderada pelos EUA, fora de qualquer âmbito legitimidade internacional, especialmente na cidade de Raqqa e na província de Deir ez-Zor. «Esses crimes serão para sempre um estigma desses países, que atingem o nível de crimes de guerra e contra a Humanidade, e constituem uma violação flagrante do Direito Internacional», acusam as autoridades sírias. Referindo-se concretamente aos governos dos EUA, do Reino Unido e da França, o Ministério sírio dos Negócios Estrangeiros afirma que «esses três países não estão interessados em absoluto na reconstrução da Síria», nem sequer foram «convidados a contribuir para esse processo». Acrescenta que «devem pagar indemnizações pelos crimes de assasinatos e destruição que causaram, e deter a sua flagrante ingerência nos assuntos internos» do país árabe. «O povo sírio e o seu Exército estão mais determinados que nunca a derrotar o projecto hegemónico e prepotente do Ocidente, a preservar a integridade territorial da Síria» e a sua soberania, destaca o Ministério. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Declaração de EUA, França e Reino Unido é «documento histórico de mentira»
«Crimes brutais e atrocidades»
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O ministério acrescentou que os ataques da coligação liderada pelos EUA contra Raqqa ocorreram entre Junho e Outubro de 2017, resultando na destruição total da cidade e provocando a morte de milhares de civis, cujos corpos ficaram sob os escombros.
«Crimes de guerra» semelhantes foram perpetrados pela mesma «coligação internacional» e pelas milícias predominantemente curdas das chamadas Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas por Washington, entre 2018 e 2019, na localidade de al-Baghuz, que foi inteiramente arrasada, refere o ministério, citado pela SANA.
Lembra igualmente o massacre de pelo menos 70 civis que tentavam fugir de al-Baghuz, perpetrado a 18 de Março de 2019 pela aviação da coligação internacional liderada pelos EUA.
O enorme volume de danos causado em infra-estruturas públicas e propriedades privadas, e de vítimas mortais, sobretudo em Raqqa, Ayn al-Arab e al-Baghuz, «atesta que os Estados Unidos e os seus aliados cometeram crimes de guerra e contra a humanidade», destaca o governo sírio nas missivas.
Neste sentido, a Síria irá continuar a colocar em organismos internacionais a questão do que se passou em Raqqa, em al-Baghuz, na barragem do Eufrates e noutras regiões do país que foram atacadas e destruídas pela coligação internacional liderada pelos Estados Unidos.
O Ministério da Defesa russo acusou este domingo a coligação liderada pelos EUA de ter dado à cidade síria o mesmo «destino de Dresden, em 1945». Entretanto, os curdos parecem querer estabelecer-se como poder na cidade. A cidade de Raqqa, capital da província homónima, tornou-se conhecida por ser na Síria o bastião do Daesh, desde o início de 2014. Na semana passada, as Forças Democráticas Sírias (FDS), curdas na sua maioria, anunciaram a libertação da cidade, ao cabo de um mês de assalto no terreno e de anos de intensos bombardeamentos por parte da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos da América. A administração norte-americana e alguma imprensa ocidental vieram a terreiro louvar «o fim do Califado» ou sublinhar como a libertação deixava a nu «os anos terríveis da dominação do Daesh», mas a questão assume outros cambiantes quando outros meios de comunicação social – alguns ocidentais – recordam que, da cidade onde chegaram a viver mais de 200 mil pessoas, restam escombros. «o número de civis mortos pelos bombardeamentos da coligação internacional em Raqqa é superior ao registado em Mossul» E há registos, acessíveis, de vários comunicados em que o governo de Damasco reiteradamente denuncia os «massacres» e «crimes» perpetrados contra os civis da cidade pela coligação internacional, que desde o início agiu sem autorização do governo sírio e sem mandato das Nações Unidas, com o pretexto de estar a combater o Daesh [o chamado Estado Islâmico]. De acordo com a RT, o número de vítimas civis provocado pelos bombardeamentos da coligação internacional liderada pelos EUA em Raqqa é superior ao registado em Mossul, no Iraque, onde a coligação também foi acusada de arrasar a cidade e de provocar inúmeros «danos colaterais». Num comunicado emitido ontem, o Ministério russo da Defesa levantou várias questões a propósito da libertação anunciada, acusando os EUA de terem varrido Raqqa da «face da terra», tal como aconteceu com «Dresden em 1945, que foi varrida do mapa pelos bombardeamentos anglo-americanos», indica o The Independent. Em representação do ministério, o major-general Igor Konashenkov disse que a Federação Russa considerava bem-vindas as promessas feitas por vários países ocidentais de ajuda à reconstrução de Raqqa. Sublinhou, no entanto, a disparidade de critérios existente, tendo em conta que «inúmeros pedidos de ajuda humanitária aos civis sírios noutras partes do país», feitos pela Rússia, ficaram sem resposta por parte dos países ocidentais. «a ONU estima que 80% dos edifícios em Raqqa não possuam condições de habitabilidade» Neste sentido, Konashenkov acusa o Ocidente de se apressar a ajudar Raqqa «para encobrir os seus próprios crimes». Por trás desta «pressa das capitais ocidentais em dar apoio financeiro» apenas a Raqqa, «só há uma explicação – o desejo de esconder, o mais depressa possível, as provas dos bombardeamentos bárbaros realizados pela aviação dos EUA e da coligação, e enterrar os milhares de civis "libertados" do Daesh nestas ruínas», disse, citado pelo The Independent. O sarcasmo do general aponta para factos concretos. Depois de anos de bombardeamentos, intensificados nos últimos meses, as Nações Unidas estimam que 80% dos edifícios em Raqqa não possuam actualmente condições de habitabilidade. A RT refere, com base em informação de repórteres no terreno, que todas as casas da cidade foram atingidas pelos combates. Dos cerca de 250 mil habitantes que Raqqa chegou a ter restam hoje 45 mil. O secretário norte-americano da Defesa, James Mattis, já tinha anunciado que «a aniquilação do Daesh» iria provocar baixas entre a população civil ou «danos colaterais», e não fugiu à verdade. Já em Junho um representante das Nações Unidas afirmava que «a intensificação dos ataques aéreos, que prepararam o terreno para o avanço das [chamadas] Forças Democráticas Sírias (FDS), não só provocou uma espantosa perda de vidas civis, mas levou também a que mais de 160 mil civis fugissem de suas casas, tornando-se deslocados internos». Se Mattis acertou nos elevados «danos colaterais», já não parece ter sido tão certeiro quanto à «aniquilação do Daesh», uma vez que os combates terminaram na sequência de um acordo entre as FDS (os homens no terreno do Pentágono) e os terroristas do Daesh, permitindo que estes últimos fossem evacuados para a província de Deir ez-Zor. «os combates terminaram após um acordo que permitiu a evacuação dos terroristas do Daesh» Dmitry Frolovsky, analista político russo e especialista no Médio Oriente, lembra ainda, em declarações à RT, que, durante o cerco a Raqqa, vários contingentes do Daesh puderam sair, armados, da cidade com destino a outros pontos da Síria, sobretudo Deir ez-Zor, onde havia combates intensos com o Exército Árabe Sírio (EAS). No entender de Frolovsky, o acordo alcançado em Raqqa, a «libertação» da cidade, faz aumentar a probabilidade de choques entre as FDS e o EAS e seus aliados. Outra questão que se coloca é a do poder em Raqqa, com os curdos a reivindicarem o governo para si numa região que sempre teve maioria árabe, por entre acusações de limpeza étnica e impedimento do regresso dos refugiados (árabes) às suas casas – algo semelhante ao que ocorreu no Norte do Iraque. No que se refere à Síria, o Pentágono não esconde a missão de alimentar as divisões e fazer frente ao governo de Damasco. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
A libertação de Raqqa foi «varrê-la» do mapa
«Varrida da face da terra»
Da «aniquilação» ao acordo, e os curdos
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Damasco sublinha, além disso, que se reserva o direito de responsabilizar todos os governos dos países envolvidos na «coligação internacional», para que assumam as responsabilidades políticas, legais, morais e materiais dos «crimes» perpetrados.
A cidade de Raqqa tornou-se conhecida na Síria como o bastião do Daesh, desde o início de 2014. Em Outubro de 2017, a «coligação internacional» e as FDS anunciaram a sua libertação. A imprensa ocidental veio louvar o «fim do Califado» e, então, pouco pareceu importar que, de uma cidade onde chegaram a viver 200 mil pessoas, restassem escombros.
O Ministério da Defesa da Federação Russa – aliada de Damasco – acusou a coligação liderada pelos EUA de ter dado à cidade síria o mesmo «destino de Dresden, em 1945», afirmando que a «libertação» de Raqqa foi varrê-la do mapa.
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