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EUA preparam-se para rejeitar o direito de retorno dos refugiados palestinianos

De acordo com meios israelitas e as declarações de Nikki Haley, a administração norte-americana vai riscar o direito de retorno dos refugiados palestinianos de quaisquer futuras conversações de paz.

Forças militares israelitas reprimem de forma brutal protestos da Grande Marcha do Retorno em Gaza
Em Gaza, onde 80% da população é constituída por refugiados e descendentes de refugiados, realiza-se desde 30 de Março a Grande Marcha do Retorno, pelo direito do regresso dos refugiados às suas terras e casasCréditos / trtworld.com

Discursando esta terça-feira em Washington, na Foundation for the Defense of Democracies (pró-israelita), a embaixadora norte-americana junto das Nações Unidas, Nikki Haley, deixou claro que «o direito de retorno dos palestinianos não deverá ser discutido em futuras negociações israelo-palestinianas».

Haley também questionou o número de refugiados palestinianos (5,3 milhões) contabilizado pela agência da ONU de assistência aos refugiados palestinianos (UNRWA, na sigla em inglês) e pôs em causa a continuidade do financiamento da agência por parte dos EUA, refere a PressTV.

O posicionamento de Haley em Washington confirma as notícias vindas a público nos últimos dias, na imprensa israelita, de acordo com as quais os EUA devem anunciar no início de Setembro a rejeição do direito de retorno dos refugiados palestinianos, bem como a suspensão de financiamento à UNRWA, indica a agência Ma'an.

A partir de então, precisa a fonte, a administração norte-americana deverá implentar uma política – ao abrigo do chamado «acordo do século» – que limita o número de refugiados palestinianos a um décimo dos contabilizados pela ONU, isto é, cerca de meio milhão.

Isto porque a política da administração Trump deixará de reconhecer validade à definição de refugiado palestiniano tal como é realizada pela UNRWA, sendo que, nela, uma das premissas fundamentais é que «o estatuto de refugiado é passado de uma geração para outra».

Os refugiados da Palestina são definidos pela UNRWA como «pessoas cujo local de residência habitual era a Palestina durante o período de 1 de Junho de 1946 a 15 de Maio de 1948, e que perderam tanto o lar quanto os meios de subsistência como resultado do conflito de 1948», afirma, no seu portal, o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM).


O organismo solidário português lembra ainda que «a UNRWA foi fundada em 1949 para dar assistência aos mais de 750 mil palestinianos vítimas da limpeza étnica levada a cabo pelas forças sionistas antes e depois da criação de Israel».

A confirmar-se, o cancelamento de fundos por parte dos EUA – que são historicamente o maior doador da UNRWA – prossegue o anúncio realizado em Janeiro deste ano, quando a administração de Donald Trump anunciou que iria suspender 65 milhões de dólares de financiamento à agência.

Estas medidas concordam inteiramente com a posição do governo israelita, que reclama a dissolução da UNRWA, e reforçam aquilo que tem sido caracterizado como apoio ao projecto sionista, na sequência do reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e dos cortes de verbas de apoio (mais de 200 milhões de dólares) à Palestina.

Refugiados no «cerne no conflito»

Citado pelo MPPM, Abu Holi, membro do Comité Executivo da OLP e chefe do seu Departamento de Assuntos dos Refugiados, declarou sobre estes temas: «A questão dos refugiados palestinianos é o cerne do conflito árabe-israelita na região. A sua resolução só pode ser alcançada através da aplicação das resoluções das Nações Unidas, sobretudo a resolução 194 da Assembleia Geral.»

Esta resolução das Nações Unidas, aprovada em Dezembro de 1948, diz que «os refugiados que desejem voltar a suas casas e viver em paz com os seus vizinhos devem poder fazê-lo na data mais próxima possível», acrescentando que «deve ser paga indemnização pela propriedade daqueles que escolham não retornar e pela perda ou dano à propriedade».

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