Em comunicado, a Associação Camponesa do Catatumbo (Ascamcat) revela que os habitantes de Carrizal, no município de Convención, na segunda-feira à tarde, por volta das 17h, ouviram vários disparos e deram pela falta de Dimar Torres, ex-combatente das FARC-EP em processo de reintegração na vida civil e membro da Junta de Acção Comunal de Campo Alegre, na região do Catatumbo (departamento do Norte de Santander).
Apesar de o caso se encontrar sob investigação, tudo aponta para que o crime tenha sido cometido por uma patrulha do Exército colombiano, pois, quando os residentes de Carrizal foram à procura de Torres, depararam com «militares que se preparavam para enterrar o seu corpo numa vala comum».
De acordo com o diário local El Colombiano, circulam nas redes sociais vários vídeos relacionados com o crime, um dos quais mostra o corpo sem vida do ex-combatente das FARC-EP, que terá sido atingido com um tiro na cabeça, ao lado da sua motorizada.
A mesma fonte refere que o Exército anunciou o envio, para a região, de uma comissão interdisciplinar para investigar o caso, que também está a ser investigado no local pelo Ministério Público.
A Ascamcat questionou a «elevada militarização da região do Catatumbo» e lembrou as ameaças recentes a diversos camponeses da região por parte de militares. Por seu lado, dirigentes do partido FARC condenaram o assassinato, que qualificaram como um facto «extremamente grave», e exigiram garantias de segurança para os antigos guerrilheiros.
Quase 130 ex-combatentes farianos assassinados
Em declarações à imprensa referidas pela Prensa Latina, o senador Carlos Antonio Lozada, do FARC, confirmou que o crime foi perpetrado por uma patrulha do Exército. Exigiu ainda ao governo de Iván Duque que «garanta a vida dos militantes das FARC e ponha fim à campanha de estigmatização contra nós, que atiça os ódios e a impunidade».
O senador fariano lembrou que há poucos dias foi assassinado, no departamento de La Guajira, um bebé de sete meses, quando desconhecidos dispararam contra os seus pais, também ex-membros da guerrilha e que ficaram gravemente feridos.
O caso, que provocou grande consternação, foi condenado pelo director da Agência para a Reincorporação e Normalização da Colômbia, Andrés Stapper, que revelou que, desde a assinatura dos acordos de paz, em Novembro de 2016, foram assassinados mais de 128 ex-combatentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo.
Violência crescente contra dirigentes sociais
Um relatório publicado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz), conjuntamente com a Marcha Patriótica e a Cimeira Agrária, declara que, entre 1 de Janeiro de 2016 – ano da assinatura dos acordos de paz entre o governo e as FARC-EP – e 10 de Janeiro de 2019, foram assassinados na Colômbia 566 dirigentes sociais.
O documento precisa que, em 2016, foram assassinados 116 dirigentes sociais e defensores dos direitos humanos; em 2017, o número subiu para 191, e, no ano passado, para 252. Em meados de Abril, o Indepaz revelou que, em 2019, foram assassinados 50 dirigentes sociais – facto que classificou como um «massacre a conta-gotas».
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