O executivo da Venezuela exigiu este domingo às autoridades nacionais e locais chilenas que respeitem a integridade dos seus compatriotas migrantes, que nos últimos dias foram alvo de acções de violência e xenofobia em Iquique, no Norte do Chile, noticia a TeleSur.
«A Venezuela repudia a xenofobia e as agressões contra migrantes venezuelanos e exige às autoridades nacionais e locais do Chile respeito pela integridade física e psicológica dos nossos compatriotas», escreveu Delcy Rodríguez, vice-presidente do país caribenho, na sua conta de Twitter.
No mesmo tweet, Rodríguez anunciou que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, «decretou a activação do Plan Vuelta a la Patria», programa criado em Agosto de 2018 com o objectivo primordial de apoiar venezuelanos que emigraram para outros países da América Latina que acabaram por se deparar com uma realidade adversa.
De acordo com os próprios emigrantes, muitos manifestaram a vontade de regressar depois de sofrerem acções de xenofobia, violência e discriminação, enfrentarem situações de desemprego, exploração e maus-tratos laborais, bem como problemas de saúde e dificuldades económicas existentes nos países de acolhimento, nomeadamente em países como o Equador, o Peru e a Colômbia.
Ataques a migrantes em Iquique, condenações, solidariedade
No sábado passado, um acampamento de migrantes, na sua maioria venezuelanos, foi atacado por um grupo de pessoas que participavam numa marcha xenófoba e anti-imigração na cidade de Iquique, capital da região de Tarapacá, no extremo Norte do Chile.
Em vídeos divulgados nas redes sociais, pode ver-se que um grupo violento queima vários pertences dos migrantes, que foram perseguidos pelas ruas, incluindo crianças.
No dia anterior, sexta-feira, agentes do militarizado corpo dos Carabineiros levaram a cabo uma operação de despejo de cerca de 150 famílias estrangeiras acampadas na Praça Brasil, na mesma cidade.
Mais de 300 venezuelanos regressaram ao seu país, provenientes da Argentina e do Chile, no âmbito do «Plan Vuelta a la Patria», criado pelo governo para ajudar emigrantes em dificuldades que desejam voltar. Um grupo de 120 venezuelanos que se encontravam na Argentina regressou à Venezuela no domingo e outros 216, que estavam no Chile, chegaram ontem, num voo do Consórcio Venezuelano de Indústrias Aeronáuticas e Serviços Aéreos (Conviasa), revelou o Ministério venezuelano dos Negócios Estrangeiros. Ambos os grupos voltaram ao país no âmbito do Plano Regresso à Pátria, um programa especial promovido pelo governo de Nicolás Maduro, em Agosto de 2018, para facilitar o regresso gratuito ao país de compatriotas que manifestassem essa vontade. O objectivo primordial do programa era apoiar venezuelanos que emigraram para outros países da América Latina, onde pensavam encontrar novas oportunidades de trabalho e de melhorar as suas vidas, mas que acabaram por se deparar com uma realidade adversa. De acordo com os próprios emigrantes, muitos manifestaram a vontade de regressar depois de sofrerem acções de xenofobia, violência e discriminação, enfrentarem situações de desemprego, exploração e maus-tratos laborais, bem como problemas de saúde e dificuldades económicas existentes nos países de acolhimento, nomeadamente em países como o Equador, o Peru e a Colômbia. Apesar das sanções que lhe são impostas e da crise sanitária de Covid-19, a Venezuela não só não travou a aplicação do Plan Vuelta a la Patria como o alargou a países fora dos inicialmente visados. A Prensa Latina refere que mais de 50 mil emigrantes se inscreveram no programa solicitando o regresso ao país, um número que cresceu com a pandemia, com o recrudescimento de ataques contra eles nos países de residência e com a impossibildade de ali acederem a tratamentos contra a Covid-19, que na Venezuela são gratuitos. Segundo dados divulgados pelo Ministério venezuelano dos Negócios Estrangeiros, desde que começou a ser aplicado, o programa já beneficiou mais de 22 500 emigrantes, provenientes de países como Brasil, Equador, Peru, Argentina, Panamá, México, Colômbia, República Dominicana, Cuba, Itália e Espanha. O Brasil é o país de onde mais emigrantes venezuelanos regressaram à Venezuela ao abrigo do Plan Vuelta a la Patria (7285). Seguem-se o Peru (5023), o Equador (4093) e o Chile (2054). Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Governo da Venezuela continua a ajudar emigrantes a regressar
Reforço do programa
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Organizações sociais e dirigentes políticos chilenos, bem como representantes das Nações Unidas, condenaram os ataques xenófobos no Chile, criticando o governo de Sebastián Piñera.
«Não podemos tolerar a violência racista e xenófoba do Estado, nem de alguns grupos de cidadãos», escreveu no Twitter a Comissão de Migrações do partido Convergência Social.
Por seu lado, o relator especial das Nações Unidas sobre os direitos humanos dos migrantes, Felipe González, qualificou o ataque como «humilhação inadmissível», sublinhando que «o discurso xenófobo, assimilando migração a delinquência, que infelizmente se foi tornando cada vez mais frequente no Chile, alimenta este tipo de barbarismo».
Já o governador da região de Tarapacá apontou Piñera como o principal responsável pela situação, pela sua «inépcia», refere a Prensa Latina.
A Juventude Comunista do Chile na comuna apoiou, no terreno, «as dezenas de famílias migrantes afectadas por despejos, racismo, discriminação e xenofobia». No Twitter, escreveu: «Face à barbárie, organização popular.»
Piñera, Guaidó e a cartilha da «emigração»
O jornalista venezuelano Miguel Caballero Palma lembra que «[o presidente colombiano, Iván] Duque, Piñera e Guaidó vivem da cartilha da "imigração"», a do êxodo massivo dos venezuelanos, que o governo da Venezuela já várias vezes desmontou, sem desmentir as dificuldades que as pessoas passam, em virtude do cerco económico e financeiro imposto ao país.
Investigações mostram o envolvimento de Guaidó e de outros membros do Voluntad Popular na apropriação indevida de fundos e na realização de vários crimes na Colômbia para desestabilizar a Venezuela. Na conferência de imprensa que ontem deu no Palácio de Miraflores, em Caracas, o ministro venezuelano da Comunicação e da Informação, Jorge Rodríguez, lembrou que, no passado dia 23 de Março, o governo do seu país já havia alertado o mundo para a rede de corrupção promovida contra a Venezuela a partir de Cúcuta, na Colômbia, e coordenada sobretudo pelo autoproclamado presidente interino Juan Guaidó, que se estava «a apropriar de recursos, dinheiro e bens que pertencem aos venezuelanos», informam a VTV e a AVN. Na sequência das investigações realizadas, foram mostradas conversas mantidas entre Roberto Marrero, que era o coordenador administrativo e político de toda a rede de corrupção e roubo de fundos da Venezuela directamente para Juan Guaidó, e Rossana Barrero – conhecida como «Rossana de Cúcuta». Foram também exibidas conversas, mantidas por telemóvel, de Guaidó com Rossana Barrero e Kevin Rojas, ambos militantes do partido de extrema-direita Voluntad Popular, e que lidavam com «fundos roubados ao povo venezuelano para financiar a entrada no país de mercenários provenientes de El Salvador, das Honduras e da Colômbia para perpetrar acções terroristas». A este propósito, Jorge Rodríguez explicou que Rossana Barrera e Kevin Rojas substituíram na «rede» Gaby Arellano e José Manuel Olivares, os anteriores responsáveis na cidade colombiana de Cúcuta pela «coordenação das acções de terrorismo, sicariato e agressão na fronteira, bem como pela organização dos militares desertores». Sobre o modus operandi de Guaidó, precisou que «é roubar os recursos de qualquer organismo ou empresa venezuelana no estrangeiro com a cumplicidade dos governos da Colômbia, dos Estados Unidos, da Argentina, entre outros». Acrescentou que «criam ONG falsas e, quando conseguem algum tipo de depósitos que pertencem à Venezuela para a compra de alimentos, medicamentos, realização de intervenções cirúrgicas, [estes] são transferidos para contas pessoais». «É uma rede gigantesca e podre de corrupção para levar o dinheiro que serve para as nossas crianças doentes, para comprar comida, para comprar medicamentos e desviá-los para pagar álcool, prostitutas, [produtos em] lojas caras, hotéis de luxo», denunciou Rodríguez, sublinhando que «fica claro que não tinham qualquer intenção de levar ajuda humanitária a lado algum» e que «a verdadeira intenção era violar a fronteira [venezuelana], invadir, roubar», indicam AVN e VTV. O ministro da Comunicação disse ainda que os juros dos 800 milhões de dólares depositados em bancos norte-americanos ou de outro continente que pertencem à Citgo, filial norte-americana da empresa estatal petrolífera venezuelana PDVSA, estão a ser transferidos para contas pessoais – da confiança de Juan Guaidó. Disse ainda ter dados recentes de acordo com os quais é provável que o Departamento de Justiça do EUA investigue o conselho de administração que o golpista Juan Guaidó nomeou para a Citgo, por alteração da contabilidade. Ao que parece, o beneficiado no processo fraudulento – no valor de 70 milhões de dólares – é Carlos Vecchio, representante político da extrema-direita venezuelana, foragido à Justiça no seu país e que Guaidó «nomeou» como embaixador da Venezuela em Washington. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Venezuela divulga novas provas sobre rede de corrupção liderada por Guaidó
«Uma rede gigantesca e podre de corrupção»
Dinheiro da Citgo desviado para contas pessoais
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Também o Misión Verdad lembra o papel de Sebastián Piñera em relação ao governo de Nicolás Maduro, nomeadamente o ter estado na linha da frente, junto a Juan Guaidó, na «tentativa de invasão e golpe» a partir de Cúcuta, na Colômbia, com o pretexto da «ajuda humanitária, em 23 de Fevereiro de 2019.
Da mesma forma, o presidente chileno esteve na primeira linha dos governantes que criaram um discurso em redor do «fabrico da crise migratória venezuelana», lembra o Misión Verdad, criando condições muito favoráveis à ida para o Chile dos venezuelanos, que depois se depararam com grande precariedade e dificuldades.
Além de criarem «pressão sobre o governo bolivariano, as autoridades chilenas, tal igual como as dos restantes países que integraram o extinto Grupo de Lima, procuravam o seu próprio lucro económico», sublinha.
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