Um tribunal de Tegucigalpa, capital das Honduras, declarou culpados de homicídio sete dos oito réus julgados como autores do assassinato de Berta Cáceres, professora e co-fundadora do Conselho Cívico das Organizações Populares e Indígenas das Honduras (Copinh), a quem foi atribuído o prestigiado prémio Goldman pela sua tenacidade na defesa do meio ambiente.
Berta Cárceres tornou-se conhecida pela firmeza com que se opôs, ao longo de vários anos, ao projecto hidroeléctrico Agua Zarca, da empresa Desarrollos Energéticos Sociedad Anónima (Desa), pelas graves consequências que traria para o seu povo.
Dos sete réus declarados culpados – cujas penas serão conhecidas no dia 10 de Janeiro –, três foram identificados como mercenários a soldo e quatro tinham ligações à Desa e ao Exército hondurenho.
Para além disso, quatro deles foram também declarados culpados da tentativa de homicídio do activista mexicano Gustavo Castro, única testemunha do crime e que ficou ferido durante o ataque, perpetrado a 3 de Março de 2016, à casa de Cáceres, na cidade de La Esperanza, no departamento ocidental de Intibucá.
«A luta pela dignidade e a verdade continua»
«O veredicto que acaba de ser emitido [no final da semana passada] não satisfaz as nossas exigências de justiça enquanto vítimas no assassinato de Berta Cáceres e na tentativa de assassinato de Gustavo Castro», afirmaram em comunicado a família de Berta, Gustavo Castro, os seus representantes legais e o Copinh, segundo informa o portal ara.info.
Defendem que esta sentença, que declara a culpabilidade dos mercenários e da estrutura intermédia directamente relacionada com a empresa Desa, não implica que se tenha feito justiça, pois deixa de parte quem pagou «a estes criminosos para que matassem Berta Cáceres», que assim «continuam em liberdade e podem continuar a praticar crimes como este impunemente».
No documento, a família de Berta e o Copinh acusam os administradores da Desa de serem os responsáveis pelo assassinato de Berta, acrescentando que são os Atala Zablah – a família que detém a maioria das acções na empresa – que «estão por trás de toda a trama de perseguição, acosso, ataques e ameaças que conduziram ao assassinato de Berta Cáceres».
«É também claro que, sob a direcção desta família, a Desa cometeu uma série de crimes que vão para lá do assassinato de Berta Cáceres», que tiveram como alvo «o Copinh, o povo Lenca e mesmo a administração pública e do Estado das Honduras», denunciam. Neste sentido, perguntam às instituições do Estado: «Que interesses há em jogo e motivam a protecção dos máximos responsáveis, cujos nomes não são um segredo?»
«Com o capítulo que agora se encerra, […] o Estado hondurenho pretende silenciar a exigência de justiça, mas a luta pela justiça para Berta Cáceres e o povo Lenca não acaba; pelo contrário, aumentam os nossos esforços», frisam.
«A Justiça hondurenha está em dívida connosco, com todo o povo hondurenho»
O comunicado sublinha que «a impunidade de que gozam até hoje os autores intelectuais deste crime faz parte da rede de corrupção e violência alimentado pelo modelo extractivista, que saqueia as nossas terras».
Face a um cenário marcado pela intensificação dos ataques aos territórios indígenas – sobretudo após o golpe de 2009, apoiado pelos EUA –, com a multiplicação das concessões às empresas privadas para a exploração, o Copinh afirma que as vítimas da violência, juntamente com organizações e comunidades, se comprometem a continuar a enfrentar estes mandantes, «tal como o fez Berta Cáceres, até que a dignidade, a verdade e a justiça prevaleçam».
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