Ronnie Lessa foi ontem condenado, em conjunto com a sua mulher Elaine Lessa, o cunhado Bruno Figueiredo e outros dois cúmplices, pela destruição de provas relativas aos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, a 14 de Março de 2018. Ronnie, ex-polícia militar, é ainda acusado, com Élcio Queiroz, da autoria do homicídio cujo mandante é ainda desconhecido.
O Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro (PJERJ) deu como provadas as acusações feitas aos quatro elementos de participação na retirada e destruição das armas, no dia 13 de Março de 2019, escondidas num apartamento no bairro Pechincha, no Rio de Janeiro. Cada um cumprirá uma pena de quatro anos de prisão em regime aberto, que pode ser domiciliário.
Apesar dos avanços na investigação e da detenção recente de 2 presumíveis envolvidos na execução da vereadora carioca do PSOL, continua sem se saber quem mandou matar Marielle Franco. Eleita em 2016 à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, como quinta candidata mais votada, pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Marielle Franco tinha acabado de participar no debate «Jovens negras movendo a estrutura», no bairro da Lapa, e, quando passava perto da Câmara Municipal, a viatura em que seguia foi atingida por vários disparos efectuados a partir de outro carro, que se pôs imediatamente em fuga. Ocorreram os factos em 14 de Março de 2018. Para além da vereadora, atingida com pelo menos quatro tiros, foi também morto o motorista, Anderson Pedro Gomes, atingido com três tiros, segundo revelou então o Brasil de Fato. Marielle Franco, que se destacou pela sua intervenção como feminista e defensora dos direitos dos negros, e pela denúncia da actuação policial nas favelas, integrava a comissão que acompanhava a intervenção militar no Rio, decretada pelo governo golpista de Temer a 16 de Fevereiro de 2018 e que foi alvo de inúmeras críticas, nomeadamente da Associação Juízes para a Democracia, que a classificou como uma ruptura do Estado Democrático. No passado dia 12, elementos da Polícia Civil e Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado prenderam o polícia militar reformado Ronnie Lessa – acusado de ter efectuado os disparos que mataram Marielle Franco – e o ex-polícia militar Élcio Vieira de Queiroz, suspeito de ser o condutor da viatura de onde partiram os tiros. De acordo Simone Sibílio e Letícia Petriz, promotoras do Ministério Público do Rio de Janeiro que estão à frente da investigação do caso, há indícios de que Lessa esteja ligado a grupos paramilitares e de que o assassinato de Marielle e Anderson esteja ligado a causas que a vereadora defendia, ou seja, tenha «motivação política», segundo refere o Brasil de Fato. Para exigir respostas para o caso de Anderson e Marielle – que se definia nas redes sociais como «Mulher negra, criada na Maré [favela] e defensora dos Direitos Humanos» – e justiça para os milhares de crimes que ocorrem nas periferias, principalmente contra negros e pobres, estão agendados para hoje actos políticos em diversas cidades brasileiras e também no estrangeiro, informa o portal Brasil 247. Em São Paulo, para assinalar o primeiro aniversário do crime e exigir justiça, terá lugar na Praça Oswaldo Cruz a mobilização «Justiça para Marielle – vidas negras e periféricas importam». Além de uma aula pública sobre o legado de Marielle, dada por Jupiara Castro, do Núcleo de Consciência Negra, e pela deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL), o acto na capital paulista contará com a presença de múltiplos artistas, como o grupo Clarianas, Sarau das Pretas, Coletivo Negro, Cabaré Feminista, Bloco do Fuá e Luana Hansen. Numa entrevista recente ao Brasil de Fato, a viúva de Marielle, Monica Benício, valorizou os avanços alcançados na investigação e a importância das detenções efectuadas. Sublinhou, no entanto, que «a resposta mais importante ainda não foi dada»: quem mandou matar Marielle. «Mais importante do que termos ratos mercenários a serem responsabilizados pelo que fizeram, é a questão urgente e necessária [de] saber quem foi que mandou matar Marielle», frisou Benício. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
A um ano do assassinato de Marielle, a questão é: «quem mandou matar?»
Mobilizações no Brasil e no estrangeiro
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Ronnie e Élcio aguardam ainda a realização de um júri popular onde vão responder pelo crime de homicídio, depois de um recurso apresentado por eles ter sido rejeitado. Um Tribunal de Jurí só se realiza, no Brasil, em caso de crimes perpetrados contra a vida, remetendo o julgamento para os membros da própria comunidade de que o suspeito fazia parte.
O Ministério Público do Rio de Janeiro tinha anunciado, no dia anterior à condenação, o pedido de saída de duas promotoras que participaram desde o primeiro momento na investigação do caso. Justificaram esta decisão pelo receio e insatisfação sentido por «interferências externas».
Adriano Nóbrega, ex-BOPE, líder do grupo criminoso a quem terá sido contratado o assassinato e com várias ligações pessoais a Flávio Bolsonaro (a mãe e irmã eram funcionárias no gabinete do filho do actual Presidente da República Brasileiro), foi morto num confronto com polícias a 9 de Fevereiro de 2020.
A viúva, Júlia Lotufo, é agora delatora premiada, tendo prestado declarações no sentido de incriminar o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, na morte do marido, supostamente com o propósito de o impedir de fazer declarações, a «queima de arquivos», sobre as ligações de vários políticos da cidade do Rio a actividades criminosas e ao assassinato de oponentes, incluindo o clã Bolsonaro.
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