Apesar de o Dia da Nakba ser 15 de Maio, esta marcha realiza-se anualmente no dia da independência de Israel, cujas comemorações não têm uma data fixa (de acordo com o calendário judaico, de base lunissolar), explica numa nota o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM).
Trata-se da 22.ª vez que em Israel se realiza uma «marcha de retorno», tendo sempre como destino uma aldeia palestiniana demolida em 1948. Também participaram judeus anti-sionistas.
«Nakba» («catástrofe», em árabe) é o termo que os palestinianos empregam «para descrever a limpeza étnica da população palestiniana autóctone nos meses que antecederam e se seguiram à fundação de Israel, em 1948. Mais de 750 mil palestinianos foram expulsos das suas terras na parte da Palestina histórica que veio a ser integrada em Israel», esclarece o MPPM.
A marcha é organizada pela Associação para a Defesa dos Direitos das Pessoas Deslocadas Internamente em Israel e apoiada pelo Alto Comité de Acompanhamento dos Cidadãos Árabes de Israel, organismo que representa os palestinianos cidadãos de Israel. Muhammad Kial, membro da organização, declarou que um dos desafios que o povo palestiniano enfrenta «são as tentativas de minar a questão nacional palestiniana, incluindo o direito de retorno».
De acordo com a Zochrot, uma associação israelita que se dedica ao estudo e à divulgação da realidade da Nakba, a aldeia de Khubbayza foi invadida pela Haganah – organização paramilitar judaica de carácter sionista que precedeu as forças armadas de Israel – entre 12 e 14 de Maio de 1948. «Ou seja, antes da declaração de independência de Israel e da intervenção dos exércitos árabes habitualmente invocada para justificar a limpeza étnica», explica o MPPM.
A aldeia foi depois arrasada pelo Fundo Nacional Judaico, em Junho de 1948. Localizada naquilo que é hoje o Norte de Israel, Khubbayza permanece despovoada, cercada por terras cultivadas e pastagens.
Discriminação dos cidadãos de nacionalidade palestiniana
Os palestinianos que são cidadãos de Israel «afirmam-se como parte da nação palestiniana, retalhada e reprimida por Israel», e continuam «a reivindicar a sua identidade e o seu direito ao retorno», tal como o fazem, desde 30 de Março de 2018, os palestinianos na Grande Marcha do Retorno, na Faixa de Gaza.
Actualmente, há cerca de 1,8 milhões palestinianos que são cidadãos de Israel, constituindo 21% da população. O MPPM sublinha que «a discriminação a que sempre foram sujeitos foi constitucionalmente consagrada em 2018 na chamada "Lei do Estado-Nação do povo judaico", segundo a qual em Israel só gozam de direitos plenos os judeus, sendo os restantes cidadãos remetidos para um estatuto de segunda classe».
Até 1966 os palestinianos de Israel viveram sujeitos à lei marcial. Desta forma – destaca o MPPM –, «o aparelho militar com que o Estado sionista passou a administrar os territórios palestinianos da Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza, ocupados em 1967, estava já pronto e experimentado por quase duas décadas de administração e repressão dos palestinianos de Israel».
Solidariedade com a Palestina em Lisboa
No próximo dia 15 de Maio, em que se assinalam 71 anos da Nakba, realiza-se em Lisboa (Casa do Alentejo, 18h30) uma sessão pública de solidariedade com a Palestina, organizada pelo MPPM.
O encontro conta com intervenções de Maria do Céu Guerra (presidente do MPPM), Nabil Abuznaid (embaixador da Palestina em Portugal), Jorge Cadima (dirigente do MPPM) e Deolinda Machado (dirigente da CGTP-IN e da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos).
No texto de apresentação da iniciativa, o MPPM afirma que «o povo palestiniano enfrenta hoje uma das mais graves situações desde a limpeza étnica que acompanhou a criação do Estado de Israel», lembrando que «Netanyahu ameaça anexar a Cisjordânia ocupada, Trump alardeia um mais que suspeito "acordo do século" para a paz na Palestina, Israel branqueia a sua imagem com iniciativas como o Festival da Eurovisão».
Lembra ainda que, «depois de desestabilizados o Afeganistão, o Iraque, a Líbia e a Síria, pairam ameaças sobre o Irão», e que «a União Europeia continua a tratar Israel como parceiro privilegiado indiferente às continuadas violações de direitos humanos». Neste contexto, sublinha a importância da solidariedade para «travar esta escalada».
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