Pelo segundo sábado consecutivo, a Praça da Constituição, na Cidade da Guatemala, voltou a encher-se de gente e palavras de ordem contra o Orçamento para 2021, aprovado à pressa na madrugada de dia 18, em protesto contra a corrupção no país centro-americano e exigindo a demissão do presidente da República.
Desta vez, a mobilização foi designada como «Revolução dos Feijões», em alusão às palavras do deputado Rubén Barrios, do partido Valor (direita), que no Congresso chamou de forma depreciativa «comilões de feijões» a quem tinha manifestado a sua revolta contra o Orçamento para 2021.
«Renuncia, Giammattei», «O problema não é o orçamento, é o sistema», «O povo unido jamais será vencido», «Mais corrupção, não» e «Assembleia Nacional Constituinte» foram algumas das palavras de ordem mais gritadas frente ao Palácio Nacional da Cultura, fortemente protegido pela Polícia, tal como o Congresso e a Casa Presidencial, indica a Prensa Latina.
«Estamos fartos da corrupção e do saque», disse à agência cubana um dos participantes na manifestação deste sábado, em que a Polícia foi bem mais contida que uma semana antes. Então, a violência policial levou a que o Procurador dos Direitos Humanos da Guatemala, Jordán Rodas, pedisse a demissão do ministro do Interior, Gendry Reyes, e do director da Polícia Nacional Civil, José Antonio Tzubán.
Essa exigência mantém-se actual entre os manifestantes, que este sábado acusaram Reyes e Tzubán de terem ordenado a repressão contra a população que protestava no dia 21. Exigem igualmente a demissão da Junta Directiva do Congresso, que negociou de madrugada – «enquanto o povo dormia» – um orçamento que contempla cortes na Saúde e na Educação, e que trouxe o povo para as ruas de vários departamentos do país.
Situação preocupante para a imprensa na Guatemala
Na véspera do Dia Nacional do Jornalista, que hoje se celebra no país latino-americano, a Associação de Jornalistas da Guatemala (AGP) publicou o relatório «Estado da Situação da Liberdade de Expressão», no qual regista 124 casos de ataques a jornalistas, referindo que 2020 é o ano com mais agressões, entre as quais se contam intimidação, difamação, ameaças, impedimento de acesso à fonte, ataque cibernético e agressão física.
O texto denuncia a atitude «prepotente» do presidente Giammattei para com os jornalistas, ao anunciar decisões sobre a Covid-19 pela rádio e pela TV, sem convocar conferências de imprensa, para assim evitar ser questionado sobre «declarações contraditórias», a «péssima» abordagem da crise sanitária e o gasto dos milhões de dólares que «pediu nos primeiros meses da emergência».
O documento regista casos de censura e autocensura em vários departamentos do país, devido a ameaças ou agressões de funcionários municipais, restrições para aceder a informação ou ao pagamento de subornos, refere a Prensa Latina.
Refere ainda quatro casos recentes de «detenções arbitrárias» e dois de processos judiciais contra comunicadores comunitários, além de documentar denúncias públicas de acosso e mensagens de ódio nas redes sociais contra quatro jornalistas e contra o meio digital alternativo Nómada.
A todas as agressões documentadas a repórteres no país centro-americano, há que juntar as que ocorreram na manifestação do passado dia 21 contra jornalistas, fotógrafos e operadores de câmara, e, em menor grau, no último sábado.
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