O Turismo da Arábia Saudita foi recusado como patrocinador do próximo Mundial Feminino. Uma conquista das jogadoras que deve ter seguimento na abertura da FIFA a quem está no centro do futebol, os atletas, mas também aos que dão vida aos jogos, os adeptos.
Não deixou de causar surpresa o anunciado acordo para que o Ministério do Turismo da Arábia Saudita fosse o patrocinador do Campeonato do Mundo Feminino 2023. O histórico reconhecido dos sauditas na limitação e ataque aos direitos das mulheres, bem como da comunidade LGBTQ+ tornava este apoio insustentável. De tal forma que várias jogadoras se manifestaram contra esta possibilidade, denunciando a situação na Arábia Saudita e colocando em causa a sua participação na prova.
O recuo da FIFA, nesta última semana, pode ser considerado como uma vitória para quem, no futebol feminino, continua a lutar por situações de igualdade. É uma demonstração de força para aquelas que usam a sua visibilidade para conquistar transformações no seio do desporto que praticam. As condições de trabalho continuam a ser um dos pontos centrais da evolução desta modalidade no feminino, mas é claro que as principais jogadoras do mundo não têm permitido que esse crescimento, naturalmente decorrente de um aumento de investimento, venha acompanhado de um ataque à cultura que se criou à volta do seu jogo.
«A capacidade das jogadoras decidirem sobre a origem dos patrocinadores que terão na competição que disputam marca uma evolução. Mas será fundamental alargar essa capacidade, das jogadoras para os adeptos, de melhor acompanhar as decisões que a FIFA toma.»
Esta ação relança ainda o questionamento da Arábia Saudita como investidor no futebol internacional. A Human Rights Watch mantém a atenção nas ações de lavagem de imagem («sportswashing») realizadas por um país que vai anunciando algumas melhorias nos direitos dos seus cidadãos e cidadãs, mas que, na prática, continua a dar exemplos onde essas melhorias não se registam. A aproximação da Arábia Saudita à FIFA, que esta ação de patrocínio declarava, seria mais um passo na tentativa de transformar a ideia que se tem deste país. Depois da aquisição de um clube na Premier League, de jogadores e de competições para o seu território, os sauditas buscam criar as condições para organizar um Mundial.
Ao mesmo tempo que deu um passo atrás, a FIFA volta a jogar a carta de um certo relativismo cultural que as posições contra o Catar e a Arábia Saudita sugerem adotar. Mas esse é exatamente o passo que se deverá evitar na sequência desta pequena vitória. A capacidade das jogadoras decidirem sobre a origem dos patrocinadores que terão na competição que disputam marca uma evolução. Mas será fundamental alargar essa capacidade, das jogadoras para os adeptos, de melhor acompanhar as decisões que a FIFA toma. É nessa participação e na maior transparência sobre as suas decisões que a FIFA deve basear o seu trabalho. De modo a que exista a capacidade de entender o erro de cada passo antes deste estar dado.
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