Numa entrevista ao Brasil de Fato sobre os desafios das próximas presidenciais, publicada esta terça-feira, a presidente do Brasil, destituída do cargo em 2016, começa por admitir a importância dos movimentos populares, sublinhando que eles podem ter uma «importância ainda maior» nas eleições de Outubro, do que no sufrágio de 2014.
«Nós não tínhamos uma ameaça aberta à democracia. Nem tampouco tínhamos um conflito tão acirrado como o que temos hoje», denuncia Dilma Rousseff, frisando de seguida que, «quando se tem um conflito acirrado, não podemos permitir que isso se transforme num alimento da direita e do fascismo».
Entre as bandeiras deste acto eleitoral, Dilma fala da democratização da comunicação social, realçando que essa questão «faz parte da radicalização da democracia», e passa por combater a oligopolização e «o cartel de media que existe no Brasil».
Rousseff defende que «fazer um combate acirrado ao papel dos media como sendo o pensamento único, passa necessariamente por quebrar o monopólio e a estrutura oligopólica da comunicação social», sublinhando que a «comunicação social oligopolizada sufoca, como em qualquer outra atividade económica».
Quem paga muito imposto é o trabalhador e as classes assalariadas
A ex-presidente reconhece o impacto das políticas que conduziu no sentido de aumentar as oportunidades e diminuir as desigualdades, mas coloca a tónica na distribuição de riqueza e na necessidade de se discutir abertamente uma reforma tributária que, em vez dos trabalhadores, penalize o capital.
«Não é possível que dividendo no Brasil não seja tributado», denuncia Rousseff. «No Brasil não se pode falar em meritocracia quando existe tamanha concentração de riqueza», acrescenta.
Um sistema de previdência, que seja capaz de proporcionar uma vida digna «para as pessoas que trabalharam duramente e chegaram à idade de não poder mais trabalhar», é outra das prioridades da presidente afastada pelo golpe.
«Eles querem quebrar o mercado da Petrobras»
Questionada sobre a petrolífera, Dilma Rousseff responde condenando a venda de activos estratégicos da Petrobras com vista à sua privatização. «Eles estão vendendo dutos da Petrobras, [...] todo o sistema de logística e distribuição de óleo e derivados que a Petrobras tem e que é fundamental que ela mantenha. Com isso, eles querem quebrar o mercado da Petrobras, querem colocar as refinarias à venda», afirma.
Para Dilma, colocar as refinarias à venda corresponde a colocar a Petrobras numa «situação esdrúxula», porque ela deixa de ser verticalizada. «E sem essa verticalização, as multinacionais comem o nosso mercado», alerta.
O impeachment é o corte de uma agenda política
Regressando ao tema da sua destituição, considera que, além da sua retirada, ele corresponde a uma derrota dos movimentos e de políticas sociais seguidas pelo seu governo.
Por outro lado, nota que «o processo do golpe, que se inicia com o impeachment, é um fracasso político, expresso no facto de que não existe uma única liderança golpista viável hoje», recordando que o PSDB e o PMDB «ruíram e agora não têm candidato».
«Cada país tem seus monstros e o nosso monstro é o neoliberalismo, a financeirização e a escravidão, que instituiu uma forma de controle social violenta e o privilégio junto com a exclusão», denuncia. Para combater o golpe e recolocar o país «sobre os trilhos», a eleição de Lula da Silva é a solução e por isso o prenderam, diz Dilma.
«Sabemos que a condenação significa justamente uma resposta à derrota do golpe, à derrota política», defende.
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