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ONU alerta para novo «capítulo de miséria» para o povo de Gaza

A agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (Unrwa) estima que, na sequência da ordem de evacuação israelita, 250 mil pessoas tenham de sair de Khan Younis, apesar de não haver sítio seguro.

De acordo com a ONU, a população deslocada no enclave chegou a 1,9 milhões (imagem de arquivo) Créditos / Wafa

«Poucas semanas depois de as pessoas terem sido forçadas a regressar a uma devastada Khan Younis, as autoridades israelitas decretaram novas ordens de evacuação para a zona», denunciou a Unrwa esta terça-feira no Twitter (X).

«Uma vez mais, as famílias enfrentam deslocamentos forçados. Estimamos que 250 mil pessoas tenham de fugir. Apesar de nenhum lugar ser seguro em Gaza», acrescentou a organização.

Em declarações à Al Jazeera, o director de planeamento da Unrwa, Sam Rose, disse que a maior parte das 250 mil pessoas afectadas pela mais recente ordem de evacuação israelita já tinha sido deslocada diversas vezes.

Falando a partir do campo de refugiados de Nuseirat, na região central do enclave, Rose disse à Al Jazeera que a ordem para evacuar a zona oriental da segunda maior cidade da Faixa de Gaza, Khan Younis, deixou as pessoas numa situação «simplesmente angustiante, horrível e incrivelmente difícil».

Palestinianos deslocados da zona oriental de Khan Younis fogem depois de o Exército israelita ter decretado uma nova ordem de evacuação para partes dessa cidade e Rafah, no Sul da Faixa de Gaza, a 2 de Julho de 2024 // Eyad Baba / Al Jazeera

«Significa mais um dia, mais uma semana, mais um capítulo de miséria para estas centenas de milhares de pessoas… a maior parte das quais foi deslocada várias vezes. Algumas tinham acabado de regressar de Rafah, para onde haviam sido deslocadas há algumas semanas», disse Rose.

«Deviam ir para oeste, para al-Mawasi – a zona arenosa, de praia da costa, mas já está sobrelotada. Não há espaço para montar uma tenda, não há água, não há infra-estruturas, não há serviços sanitários. Muitos passam a noite em viaturas ou dormem em carroças de burros», explicou.

O responsável acrescentou que as pessoas «se vão embora sem saber exactamente onde vão parar porque esta ordem de evacuação dizia para saírem com urgência – sabem que se não saírem dentro de 24 horas o pior está para vir».

ONU manifesta preocupação e fala em «abismo de sofrimento»

Stéphane Dujarric, porta-voz das Nações Unidas, disse em conferência de imprensa que a ordem de evacuação israelita, que abrange partes de Khan Younis e Rafah, se aplica a um terço da Faixa de Gaza, sendo a maior ordem deste tipo desde Outubro, refere a agência Anadolu.

Dujarric afirmou que os trabalhadores humanitários no terreno «estão profundamente preocupados com o impacto» desta última ordem de evacuação, que abrange «dezenas de milhares de civis, muitos dos quais foram repetidamente deslocados nos últimos nove meses».

Entretanto, a coordenadora humanitária da ONU para Gaza, Sigrid Kaag, disse que o número de deslocados no enclave palestiniano chegou a 1,9 milhões.

Dirigindo-se ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, Kaag manifestou profunda preocupação com esta nova ordem de evacuação israelita na zona de Khan Younis e disse que «os civis palestinianos mergulharam num abismo de sofrimento».

Risco acrescido para os doentes

Esta terça-feira, o Crescente Vermelho palestiniano confirmou que os doentes no Hospital Europeu, nas imediações de Khan Younis, foram obrigados a sair, na sequência da ordem de evacuação israelita.

Jeremy Hickey, um anestesiologista no Hospital Europeu, disse à Al Jazeera que o pessoal tinha sido notificado da necessidade de evacuação, sublinhando que isso representava um risco acrescido para os pacientes e os deslocados que ali encontraram abrigo.

«Retirá-los daqui é extremamente difícil», frisou Hickey, referindo-se à dificuldade de acesso a transporte, «extraordinariamente caro» devido à falta de combustível, e também à natureza dos ferimentos de muitos doentes, de longo prazo.

«Movê-los é quase impossível e transportar estes doentes via ambulâncias também é quase impossível», acrescentou.

Entretanto, a PressTV mostrou imagens de zonas do Hospital Europeu já completamente vazias e outras com pacientes a serem evacuados. Ao fim do dia, a Organização Mundial da Saúde afirmou que 270 doentes, além de trabalhadores, tinham saído do hospital pelos seus próprios meios.

Os bombardeamentos israelitas prosseguem na Faixa de Gaza cercada há 17 anos. De acordo com as autoridades de Saúde, pelo menos 37 925 palestinianos foram mortos desde 7 de Outubro em resultado desses ataques e 87 141 ficaram feridos. Estima-se que o número de desaparecidos seja superior a dez mil.

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