«Poucas semanas depois de as pessoas terem sido forçadas a regressar a uma devastada Khan Younis, as autoridades israelitas decretaram novas ordens de evacuação para a zona», denunciou a Unrwa esta terça-feira no Twitter (X).
«Uma vez mais, as famílias enfrentam deslocamentos forçados. Estimamos que 250 mil pessoas tenham de fugir. Apesar de nenhum lugar ser seguro em Gaza», acrescentou a organização.
Em declarações à Al Jazeera, o director de planeamento da Unrwa, Sam Rose, disse que a maior parte das 250 mil pessoas afectadas pela mais recente ordem de evacuação israelita já tinha sido deslocada diversas vezes.
Falando a partir do campo de refugiados de Nuseirat, na região central do enclave, Rose disse à Al Jazeera que a ordem para evacuar a zona oriental da segunda maior cidade da Faixa de Gaza, Khan Younis, deixou as pessoas numa situação «simplesmente angustiante, horrível e incrivelmente difícil».
«Significa mais um dia, mais uma semana, mais um capítulo de miséria para estas centenas de milhares de pessoas… a maior parte das quais foi deslocada várias vezes. Algumas tinham acabado de regressar de Rafah, para onde haviam sido deslocadas há algumas semanas», disse Rose.
«Deviam ir para oeste, para al-Mawasi – a zona arenosa, de praia da costa, mas já está sobrelotada. Não há espaço para montar uma tenda, não há água, não há infra-estruturas, não há serviços sanitários. Muitos passam a noite em viaturas ou dormem em carroças de burros», explicou.
O responsável acrescentou que as pessoas «se vão embora sem saber exactamente onde vão parar porque esta ordem de evacuação dizia para saírem com urgência – sabem que se não saírem dentro de 24 horas o pior está para vir».
ONU manifesta preocupação e fala em «abismo de sofrimento»
Stéphane Dujarric, porta-voz das Nações Unidas, disse em conferência de imprensa que a ordem de evacuação israelita, que abrange partes de Khan Younis e Rafah, se aplica a um terço da Faixa de Gaza, sendo a maior ordem deste tipo desde Outubro, refere a agência Anadolu.
Dujarric afirmou que os trabalhadores humanitários no terreno «estão profundamente preocupados com o impacto» desta última ordem de evacuação, que abrange «dezenas de milhares de civis, muitos dos quais foram repetidamente deslocados nos últimos nove meses».
Após uma noite de intensos bombardeamentos sobre Rafah, que provocaram pelo menos 22 mortos, Israel decretou a evacuação de uma parte da região. Repetem-se os alertas para a «catástrofe». Os ataques israelitas desta noite visaram 11 casas no Sul da Faixa de Gaza, e provocaram a morte a pelo menos 22 pessoas, incluindo oito crianças, revela a agência Wafa. De acordo com as autoridades sanitárias palestinianas, o número de mortos desde o início da mais recente ofensiva israelita contra o enclave costeiro chega a 34 683 (sendo que há pelo menos mais dez mil mortes confirmadas, de pessoas desaparecidas debaixo dos escombros) e o número de feridos ultrapassa os 78 mil, sendo que a maioria das vítimas são mulheres e menores de idade. Entretanto, as equipas de protecção civil continuam a não conseguir socorrer muitos dos feridos e resgatar os corpos espalhados nas estradas ou sob os escombros, refere a agência, uma vez que as forças de ocupação israelitas restringem a movimentação dessas equipas, bem como a das ambulâncias. Confrontadas com a ordem de evacuação dos palestinianos na região leste de Rafah, comunicada pelas forças israelitas antes de um ataque previsto em grande escala, várias organizações humanitárias e agências da ONU vieram a público reiterar os alertas para a «catástrofe», caso esse ataque se concretize. Jonathan Fowler, representante da agência da ONU para os refugiados palestinianos (Unrwa), disse à Al Jazeera que a ordem de evacuação dada por Israel, antes de uma ofensiva no terreno, significa «mais sofrimento e morte». «As consequências seriam devastadoras para a população em Rafah, que é seis vezes mais do que antes da guerra – e metade dos 1,4 milhões de pessoas são crianças», alertou, acrescentando que «a maior parte destas pessoas foram deslocadas muitas vezes». «Os terrenos têm de ser limpos de munições por explodir antes de as pessoas poderem regressar a uma área e viver com segurança», disse, sublinhando que não há qualquer sítio seguro na Faixa de Gaza e que «os resultados de uma ofensiva seriam simplesmente catastróficos». Sobre o plano israelita de evacuação, que implica colocar dezenas de milhares de pessoas num pequeno enclave junto à costa, Samah Hadid, do Conselho Norueguês para os Refugiados, disse que é totalmente «inadequado». Hadid afirmou que não há infra-estruturas básicas de apoio para a população deslocada que lá está, quanto mais para o grupo adicional de pessoas que querem lá colocar. «Temos vindo a alertar que uma ofensiva militar em Rafah provocaria atrocidades massivas e inúmeras mortes de civis», disse, exortando o mundo e os aliados de Israel a «pôr fim a isto». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Israel decreta a evacuação da zona oriental de Rafah
Ataque a Rafah seria «catastrófico»
Ofensiva sobre Rafah «vai provocar atrocidades massivas»
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Entretanto, a coordenadora humanitária da ONU para Gaza, Sigrid Kaag, disse que o número de deslocados no enclave palestiniano chegou a 1,9 milhões.
Dirigindo-se ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, Kaag manifestou profunda preocupação com esta nova ordem de evacuação israelita na zona de Khan Younis e disse que «os civis palestinianos mergulharam num abismo de sofrimento».
Risco acrescido para os doentes
Esta terça-feira, o Crescente Vermelho palestiniano confirmou que os doentes no Hospital Europeu, nas imediações de Khan Younis, foram obrigados a sair, na sequência da ordem de evacuação israelita.
Jeremy Hickey, um anestesiologista no Hospital Europeu, disse à Al Jazeera que o pessoal tinha sido notificado da necessidade de evacuação, sublinhando que isso representava um risco acrescido para os pacientes e os deslocados que ali encontraram abrigo.
«Retirá-los daqui é extremamente difícil», frisou Hickey, referindo-se à dificuldade de acesso a transporte, «extraordinariamente caro» devido à falta de combustível, e também à natureza dos ferimentos de muitos doentes, de longo prazo.
«Movê-los é quase impossível e transportar estes doentes via ambulâncias também é quase impossível», acrescentou.
Entretanto, a PressTV mostrou imagens de zonas do Hospital Europeu já completamente vazias e outras com pacientes a serem evacuados. Ao fim do dia, a Organização Mundial da Saúde afirmou que 270 doentes, além de trabalhadores, tinham saído do hospital pelos seus próprios meios.
Os bombardeamentos israelitas prosseguem na Faixa de Gaza cercada há 17 anos. De acordo com as autoridades de Saúde, pelo menos 37 925 palestinianos foram mortos desde 7 de Outubro em resultado desses ataques e 87 141 ficaram feridos. Estima-se que o número de desaparecidos seja superior a dez mil.
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