Numa declaração ontem publicada e que conta já com dezenas de subscritores, as organizações promotoras afirmam que, «apesar da intimidação crescente, continuamos firmes na nossa missão de promover a paz e a solidariedade internacional, contrariando a narrativa do militarismo, da hostilidade e do medo».
Em causa está o ressurgimento do «papão vermelho» na comunicação social dominante, desde The New York Times à Fox News, que, sublinham, «já destruiu muitas vidas e ameaçou movimentos pela mudança e a justiça social».
«Trata-se de um ataque não apenas contra a esquerda, mas contra todos aqueles que exercem a sua liberdade de expressão e direitos democráticos», afirma o documento, que apela à resistência firme contra esta «caça às bruxas racista e anticomunista», e à continuidade do empenho na «construção de um movimento internacional pela paz».
Crise de legitimidade e temor
The People’s Forum, Codepink e Instituto Tricontinental de Pesquisa Social entendem que a administração norte-americana enfrenta «uma grande crise de legitimidade» e que teme que «os jovens se tornem conscientes e organizados para mudar o mundo». Neste sentido, acusam a comunicação dominante de se ter unido aos extremistas de direita no recurso «a tácticas de intimidação para silenciar esses defensores da mudança».
«Instituições políticas e mediáticas, tanto liberais como conservadoras, iniciaram ataques ao estilo de McCarthy contra indivíduos e organizações que criticam a política externa dos EUA, etiquetando os defensores da paz como "agentes chineses ou estrangeiros"», denunciam.
«Esta campanha usa insinuações e caça às bruxas, constituindo uma ameaça à liberdade de expressão e ao direito de discordar. Devemos opor-nos a essa tendência», defendem.
Em concreto, referem as situações de cientistas, investigadores e cidadãos de ascendência chinesa que «foram falsamente acusados de espionagem e agência estrangeira não registada», em casos que muitas vezes colapsam devido a falta de provas.
Além disso – denunciam –, indivíduos e organizações destacadas, em que se incluem a Codepink, The People’s Forum e o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social «foram visadas com difamações e acusações propagadas por meios como The New York Times», fazendo lembrar os tempos do «papão vermelho» e da caça às bruxas de Joseph McCarthy, em que dezenas de indivíduos e organizações «foram atacados com acusações não fundamentadas».
Financiar o movimento pela paz levanta suspeitas, mas a filantropia neoliberal nem por isso
Mais de 200 organizações apoiaram a manifestação deste sábado, em Washington, contra a «máquina de guerra» dos EUA e da NATO, quando passam 20 anos sobre a invasão norte-americana do Iraque. Milhares de pessoas manifestaram-se ontem na capital federal dos Estados Unidos, exigindo que as enormes verbas que o país destina à guerra sejam direccionadas para «as necessidades das pessoas» – mais emprego, melhor educação e saúde, entre outros sectores. Pelo centro da cidade, muitos manifestantes exibiram cartazes em que se lia «Alimentar o povo, não o Pentágono», «Financiar as necessidades das pessoas, não a máquina de guerra», «Dissolução da NATO», «Não à NATO, sim à Paz» ou «Não à guerra com a China». Em discursos que precederam a marcha e ao longo da manifestação, foi central a denúncia do belicismo norte-americano, tendo-se ouvido vozes a exigir à Casa Branca que defenda a paz e o diálogo, em vez de prestar ajuda militar à Ucrânia, e a criticar Washington por não querer saber do futuro dos ucranianos, «apenas manter a sua hegemonia». Além de reivindicarem repetidamente a dissolução da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e o encerramento das mais de 700 bases militares que EUA e NATO têm pelo mundo fora, os manifestantes denunciaram o militarismo norte-americano e lembraram que o Pentágono «não aprende com os próprios erros». Para o mostrar, alguns manifestantes exibiram bandeiras e caixões com bandeiras dos países que foram vítimas do intervencionismo norte-americano, também por via da aplicação de sanções. Na sua conta de Twitter, a Answer Coalition, uma das promotoras da mobilização, afirmava a propósito: «Lembrem-se do Iraque! Basta de guerras assentes em mentiras! No 20.º aniversário da invasão criminosa do Iraque pelos EUA [20 de Março de 2003], manifestámo-nos em Washington para exigir paz na Ucrânia e dizer Não à campanha de guerra norte-americana, Não à guerra infindável e Não à austeridade!» Outro ponto em destaque este sábado na capital dos EUA foi a denúncia do papel assumido pela comunicação social dominante, que foi acusada de fabricar inimigos e atiçar os conflitos. Brian Becker, director da Answer Coalition, foi um dos que abordaram a questão, afirmando que a «comunicação social dominante decidiu boicotar o povo norte-americano quando se posiciona contra a máquina de guerra». Apontou o dedo a grandes cadeias de TV e jornais, que acusou de serem «apenas câmaras de ressonância do Pentágono». Answer Coalition, The People's Forum, Codepink, Black Alliance for Peace, United National Anti-War Coalition, Veterans for Peace, Roger Waters, Cuba and Venezuela Solidarity Committee, Samidoun Palestinian Prisoner Solidarity Network são algumas das mais de 200 organizações que subscreveram o manifesto subjacente à mobilização. Nele, também se diz «não» a uma eventual guerra com a China; pede-se o fim do apoio dos EUA ao «regime de apartheid» israelita, o fim da ingerência no Haiti e o fim do AFRICOM – Comando dos Estados Unidos para África; exige-se o fim do racismo e da discriminação nos EUA, bem como a libertação de todos os presos políticos, incluindo Mumia Abu-Jamal e Julian Assange. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Milhares em Washington pela paz e contra «as guerras intermináveis» dos EUA
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«A sua estratégia esboça uma imagem sinistra de uma rede secreta que financia o movimento pela paz. No entanto, não há nada de ilegal ou marginal em opor-se a uma Nova Guerra Fria ou a um "conflito de grandes potências" com a China, opiniões que centenas de milhões de pessoas em todo o mundo partilham», afirma o texto, sublinhando que «receber doações de cidadãos americanos que partilham essas opiniões não é ilícito».
O documento, que se encontra aberto a subscrições, destaca ainda o modo como organizações que trabalham com movimentos anti-racistas, feministas, anti-guerra e de outras frentes viram a comunicação social procurar criar casos por causa das «fontes de financiamento».
Já quando «filantropos neoliberais brancos inundam o complexo sem fins lucrativos com fundos significativos para apoiar as suas agendas políticas», isso «raramente é alvo de investigação ou de responsabilização perante as comunidades em que causam impacto», acusam.
Além de diversas organizações, entre os primeiros apoiantes do documento, contam-se múltiplas personalidades, como jornalistas, activistas de vários âmbitos, investigadores, escritores, intelectuais, como Abby Martin, Ben Norton, David Harvey, Gloria La Riva, Jill Stein, Manolo de los Santos, Medea Benjamin, Roger Waters ou Vijay Prashad.
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