O colóquio internacional «Política e políticas na história e na cultura de mulheres latino-americanas e caribenhas» começou esta segunda-feira, em Havana, e prolonga-se até dia 24.
O arranque ficou marcado pela homenagem a Haydée Santamaría, fundadora da instituição cultural, combatente da Serra Maestra e participante no assalto ao Quartel Moncada.
Haydée Santamaría, intelectual e revolucionária cubana, nasceu há cem anos. A Casa das Américas, que Santamaría fundou em Abril de 1959, continua a evocá-la, dando seguimento a um extenso programa. «Os tecidos da memória» é o título da mostra de artes visuais que ocupa o vestíbulo, a Galeria Latino-americana e o segundo andar da sede da instituição, localizada no bairro habanero de El Vedado. Também na Casa das Américas, o visitante pode apreciar a exposição «La vida es hermosa cuando se vive así», que reúne livros, documentos e objectos com valor histórico do centro cultural, indica a Prensa Latina. A comemoração dos cem anos de Yeyé, como Haydée Santamaría era conhecida entre os amigos e mais próximos colaboradores, prossegue este ano com concertos dos músicos José María Vitier e Amaury Pérez, segundo indicou Casa ao dar conta da programação relacionada com o centenário. Foram também referidas uma apresentação especial do Ballet Nacional de Cuba, eventos dedicados às lutas das mulheres latino-americanas e a edição número 63 do seu Prémio Literário, que foi transferido para final de Abril, para coincidir com o 64.º aniversário da fundação da Casa. Nascida a 30 de Dezembro de 1922, Haydée Santamaría ficou também conhecida como Heroína do Moncada e da Sierra, pela sua ligação ao assalto ao quartel da ditadura em Santiago de Cuba, a 26 de Julho de 1953, e por ter integrado o Exército Rebelde. Ao anunciar as actividades relacionadas com o centenário do nascimento da política e guerrilheira cubana, o presidente da Casa das Américas, Abel Prieto, destacou que a sua personalidade marcou a intelectualidade da Ilha e da América Latina pelo seu sentido ético, o seu sentimento anticolonial, anti-imperialista, martiano, e com a sua obra prática. O número duplo 308-309 da revista trimestral Casa de las Américas é dedicado à fundadora da instituição e heroína da Revolução cubana, ali se reunindo testemunhos, documentos, discursos, cartas e entrevistas para se poder «aquilatar a excepcional personalidade» da mulher que nasceu em Encrucijada (província de Villa Clara). Ainda em homenagem a Santamaría, a Casa co-editou, com a Ocean Sur, a obra «Hay que defender la vida». Haydée Santamaría contada por ella misma, com o intuito de promover o ideário da protagonista entre as novas gerações de cubanos e entre os leitores do continente. Jaime Gómez, vice-presidente de Casa das Américas e um dos compiladores do volume, afirmou a propósito que «o Moncada, a clandestinidade, a serra, o exílio, o triunfo de Janeiro de 59, a Casa faziam parte de uma mesma coisa, faziam parte da sua luta, da sua vontade de trabalhar permanentemente por toda a justiça possível». Numa entrevista que concedeu ao jornalista mexicano Rodolfo Alcaraz, em Maio de 1968, incluída no actual número da revista da Casa das Américas (p. 62-92), Haydée fala da vitória da vida sobre a morte. «Pero de todas maneras la vida vence a la muerte. Siempre la vida es tan grande, tan hermosa, que cuando hay una razón de vivir, eso vence a todo. Yo creo que cuando la vida tiene una razón, tanto sentido, es tan importante, la vida y la muerte se entrelazan. Porque cuando se ama tanto la vida, sabe uno lo que significa vivirla, y no se teme a la muerte. Por eso es que los que tienen una vida sin sentido le temen tanto a la muerte. Los que más aman la vida se enfrentan más a la muerte; por eso se dice que los revolucionarios no le temen a la muerte, no temen morir. Yo creo que eso es al revés, ¿por qué?, ¿por qué razón? ¿Qué vida hay más hermosa que la de un revolucionario, que la de los revolucionarios? Un revolucionario ve de verdad la hermosura, ve lo hermoso, hace que la vida sea más bella.» (p. 78) Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Cultura|
Haydée Santamaría no centenário: «Hay que defender la vida»
Revista e livro dedicados
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Para divulgar o pensamento, a acção cultural, a coerência e a firmeza revolucionária de Santamaría, realizou-se uma sessão cuja abertura coube a Luisa Campuzano, directora do Programa de Estudos da Mulher da Casa das Américas.
Intervieram também o teatrólogo e ensaísta Jaime Gómez, vice-presidente da instituição; Ana Niria Albo, especialista do Programa de estudos sobre latinos nos Estados Unidos, e a jornalista e realizadora Esther Barroso.
De acordo com o programa divulgado pela Casa das Américas, outros temas centrais nesta edição do colóquio anual são a emigração, o exílio e o desarraigo na vida e na obra criativa de escritoras, artistas e cineastas de vários países, bem como a significação do feminismo como teoria e prática política.
O evento propõe-se, ainda, fazer uma abordagem ao papel de movimentos de mulheres em momentos cruciais da história da região, de que se são exemplo a luta contra a ditadura de Fulgencio Batista e a participação no triunfo revolucionário de 1959, em Cuba, ou as conversações de paz na Colômbia e o caso da actual vice-presidente, Francia Márquez.
Afirmando que o colóquio é espaço para a análise de temas como política e género na história – «o difícil e longo trajecto das mulheres desde a sua exclusão à participação na vida pública e o seu acesso ao poder» –, o portal da Casa das Américas refere que o encontro explora igualmente questões relacionados com a presença da mulher nos meios de comunicação ou as políticas que versam sobre o casamento, a maternidade, etnia e género.
Outros olhares, acrescenta, vão dirigir-se à presença da mulher política e do corpo feminino nos órgãos de comunicação, e sobretudo à das profissionais do jornalismo com uma militância política empenhada.
A edição de 2024 será dedicada ao tema «As mulheres latino-americanas e caribenhas na história e na cultura do primeiro quarto do século XXI», informa a Casa, que convida os participantes a debater sobre as próximas edições do evento.
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