«Este é um assunto que tem de ser levado a referendo, para que o povo decida», afirmou Gaston Browne, primeiro-ministro da Antígua e Barbuda, em declarações à ITV. A nação caribenha, com cerca de 100 mil habitantes, ratificou o rei Carlos III como chefe de estado no Sábado mas esta situação pode não se prolongar por muito mais tempo.
O país caribenho, independente desde 1966, passou a ter como chefe de Estado a presidente Sandra Mason, que assumiu o cargo esta terça-feira. Isabel II já não reina ali. Sandra Mason é a primeira presidente da República de Barbados, tendo assumido o cargo nos primeiros minutos desta terça-feira. A antiga jurista era, desde 2018, a governadora geral de Barbados, nomeada pela chefe de Estado, a rainha Isabel II. No passado dia 20 de Outubro, o Senado e a Câmara dos Deputados elegeram-na como futura presidente da ilha caribenha. Mason disse então que tinha chegado o momento de o país deixar o seu passado colonial completamente para trás. Ontem, após o juramento do cargo, no seu primeiro discurso como presidente da república parlamentar, disse que, «enquanto república nos devemos ver como líderes e agentes de mudanças». Na semana passada, o Parlamento nacional ouviu o texto de uma nova «Carta de Barbados», que, sem substituir a Constituição vigente nem possuir carácter vinculante, aponta os direitos e responsabilidades dos cidadãos. De acordo com a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, trata-se de um documento que «promove o conceito de cidadania activa e é um guia de como as pessoas se devem tratar entre si e ao país», refere a Prensa Latina. Nos anos 70 e em 1996 já tinha havido tentativas para concretizar uma República de Barbados – país com uma população inferior a 300 mil habitantes e um território de 267 quilómetros quadrados. Mas nenhuma teve êxito. Agora, Barbados torna-se o quarto país das antigas colónias britânicas nas Caraíbas a destituir Isabel II do cargo de chefe de Estado. Já o tinham feito Guiana (1970), Trinidad e Tobago (1976) e Dominica (1978). Numa conversa com a Prensa Latina, David Denny, sindicalista e dirigente do Movimento Caribenho pela Paz e Integração (CMPI, na sigla em inglês), afirmou: «Estamos muito felizes porque deixaremos de ter a rainha de Inglaterra como nossa chefe de Estado, mas vemos este acontecimento como o princípio da construção de um projecto.» O sindicalista barbadense sublinhou que, logo após a proclamação da república parlamentar, a organização a seu cargo vai fazer campanha em defesa da eleição directa do presidente do país e exigirá «um maior nível de participação popular no processo da tomada de decisões, por via de assembleias eleitorais e das comunidades». Para Denny, é fundamental que se trabalhe na democratização das empresas públicas e privadas, «para que a classe trabalhadora possa beneficiar dos lucros procedentes desse tipo de empresas». A república, na opinião de David Denny, não traz mudanças reais no programa económico ou nas relações comerciais e financeiras que a ilha caribenha mantém com os Estados Unidos, a Europa ou a antiga metrópole. «Tudo continuará como antes e é por isso que dizemos que isto é apenas o início da construção de uma república, porque são necessárias mudanças económicas que se traduzam em melhores condições para o povo», frisou. A nível internacional, o sindicalista disse à Prensa Latina que espera que o passo dado por Barbados tenha impacto em ilhas vizinhas, como a Jamaica, Santa Lúcia ou Granada, que ainda mantêm a rainha Isabel II de Inglaterra como chefe de Estado. Denny manifestou mal-estar com a presença na cerimónia desta terça-feira, na capital de Barbados, do príncipe Carlos, herdeiro da Coroa britânica. «Para nós, é um insulto ao povo de Barbados ter como convidado um representante da família real que beneficiou da escravatura e da exploração da comunidade africana», disse. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Barbados tornou-se uma república e disse adeus à monarquia britânica
«São necessárias mudanças que se traduzam em melhores condições de vida para o povo»
Contribui para uma boa ideia
Este é o «passo final para completar o círculo da independência, para nos tornarmos uma nação verdadeiramente soberana», defendeu. Antígua e Barbuda é um dos 14 estados que ainda estão subjugados à coroa inglesa, que mantém o seu papel de chefe de estado.
Este caso não é único. Nos últimos meses, vários países têm manifestado a sua intenção de remover, de vez, este último vestígio de opressão colonial: Barbados declarou a sua independência em 2021, proclamando a república; em Junho de 2022, foi a vez da Jamaica anunciar a sua intenção de realizar um referendo sobre o assunto até 2025.
A liderança real também foi posta em causa na última reunião da Commonwealth (uma organização intergovernamental composta por 53 países independentes, liderados pela coroa britânica), em Junho, no Ruanda. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Belize, Eamon Courtenay, defendeu que a decisão de escolher Carlos III para liderar a Commonwealth, em 2018, devia ser repensada. A adesão de novos países, que não foram ocupados pelo colonialismo inglês, faz com que a liderança do monarca britânico faça «ainda menos sentido».
Na Oceânia, a deputada do parlamento australiano Lidia Thorpe exigiu um referendo ao poder britânico no país: «não precisamos de um novo Rei, precisamos de um chefe de estado eleito pelo povo!». Na sua tomada de posse, a deputada já denunciara o carácter colonialista da rainha Isabel II, então chefe de estado da Austrália.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui