Depois de uma semana a discutir presenças fantasma na Assembleia da República, um atraso: «Eu cheguei atrasado a esta reunião. Mas a verdade é que cheguei eu e uma data de gente porque, outra vez, estão a haver supressões na Transtejo. Éramos para chegar a horas mas as dificuldades na travessia do Tejo levaram a que chegássemos atrasados.»
O deputado do PCP Bruno Dias confrontou o ministro do Ambiente, que foi hoje à Assembleia da República ser ouvido sobre o Orçamento do Estado para 2019 e as medidas previstas para os (muitos) sectores que tutela: entre eles, os transportes e, naturalmente, a Transtejo e a Soflusa.
«Por isso, é uma altura boa para falarmos sobre transportes públicos e para que diga o que considera que se alterou profundamente para melhor desde que o senhor ministro entrou em funções e que medidas têm resultado numa melhor mobilidade para as pessoas», prosseguiu.
Atrasos e supressões arrastam-se há muitos meses
A travessia fluvial entre Lisboa e a Margem Sul tem sofrido de atrasos e supressões de carreiras sucessivas e que, desde meados do ano passado, se têm tornado quase rotineiras e transversais às várias ligações.
O ministro, confrontado com a realidade, reconheceu-a. Anos de desinvestimento levaram a que se tenha chegado a uma situação de ruptura – de tal forma, que a Transtejo e a Soflusa já assumiram que os utentes não podem contar com os horários.
A empresa pública de transportes afixou há poucos dias nos terminais de Cacilhas e do Cais do Sodré um aviso informando que, dado estar a operar com menos um navio naquela ligação, as carreiras «iniciam viagem logo que seja alcançada a lotação máxima de passageiros embarcados, independentemente do horário previsto».
Mas, para além de reconhecer a realidade e de remeter para a pesada herança recebida do anterior governo – que estrangulou as empresas públicas de transporte no plano financeiro, com consequências operacionais – o ministro não foi capaz de dizer nada que deixe os utentes descansados.
Ministro tem números, mas faltam barcos
Os níveis de investimento «decuplicaram» no último ano e tanto a procura como a oferta subiram 6% entre Setembro de 2017 e de 2018. «Isto é mesmo um caso de boa gestão», disse Matos Fernandes. Mas esqueceu-se que em Setembro de 2017 os problemas já eram imensos. E que, se aumentaram na mesma medida, a subida de oferta só permitiu cobrir a nova procura. Os problemas mantiveram-se.
Apesar de tutelar o sector desde o final de 2015, acabou também por afirmar que só no início do Verão passado é que foi feita alguma coisa para resolver a situação. Ou seja, só quase dois anos depois de assumir a pasta, foram libertados os recursos para serem feitas as reparações que o anterior governo do PSD e do CDS-PP também deixaram por fazer.
O Governo já anunciou a compra de dez novos navios para a Transtejo que, disse hoje o secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, José Mendes, vão custar 57 milhões de euros. Mas estes só vão chegar até 2022 e, até lá, há quem precise de atravessar o Tejo em tempo útil.
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